Os gastos estão demonstrando a vulnerabilidade do Brasil para esta Copa do Mundo. Tanto assim, que os gols, sucessivos, estão sendo marcados, antes mesmo que ele entre em campo.
Veja-se o caso da construção das 12 arenas esportivas. Já se aproxima dos R$ 9 bilhões o volume de recursos com as obras, em sua maior parte, concluídas. Mas estamos falando apenas das obras relacionadas aos estádios. Aquelas que dizem respeito aos acessos, que fazem parte do pacote da chamada mobilidade urbana, são outros quinhentos. Muitas ficarão apenas nas peças de publicidade e no sonho de um legado improvável. No geral, os gastos podem se aproximar dos R$ 30 bilhões.
Recentemente o ministro Aldo Rebelo, do Esporte, enfatizou que não há dinheiro do Orçamento Geral da União aplicado na construção das arenas. Tudo bem. Mas está comprovado que mais de 1/3 do valor das obras resulta de empréstimos tomados junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e ao Banco do Nordeste do Brasil (BNB). Parte expressiva desses empréstimos foi tomada por governos estaduais, isoladamente, ou em parceria (PPPs). Somente alguns dessses empréstimos provieram de agentes privados, a exemplo dos R$ 400 milhões liberados pelo BNDES para a construção do Itaquerão.
No fundo, que ninguém se engane. A conta será repassada à população, de uma forma ou de outra, com um pormenor: o retorno, representado pelo legado cantado em prosa e verso, dificilmente virá. Ou virá a conta-gotas, ao longo do tempo.
Por esse motivo, é significativa a reportagem recém-publicada no jornal espanhol El Pais (31/março),dando conta de relatório, da agência de classificação de risco Moody´s, informando que o grande sonho dos brasileiros com a Copa do Mundo, a iniciar-se no dia 12 de junho próximo, está caminhando para tornar-se uma realidade muito aquém da expectativa inicialmente criada e estimulada pela Fifa e pelo próprio governo.
“O impacto do evento vai durar pouco, em especial para os ramos de alimentação e bebidas, hotelaria, aluguel de carros, tevê por assinatura e publicidade”, assinala o relatório. E tem mais: há uma avaliação segundo a qual do total de 600 mil a 700 mil turistas, aguardados em um primeiro momento, só deverão chegar ao País perto de 300 mil, em sua maioria vindos de países limítrofes, como a Argentina, Paraguai e Uruguai. E, adicionando mais alguns dados à análise, o Fecomercio prevê que o crescimento do setor varejista, ao longo do ano da Copa, não deverá ser superior a 3%.
A expectativa é de que tais dados resultem de avaliação imprecisa e que o retorno possa ser considerado ao menos compatível com o volume de gastos, até aqui, já absolutamente excessivos. Sobretudo, para uma população que reclama infraestrutura e para a qual sobram apagãos e começa a faltar água.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira