Um simples episódio, lá no canteiro das obras da Arena Fonte Nova, em Salvador (BA), a cargo da concessionária Fonte Nova Negócios e Participações (FNP), mostra o quanto ainda é esgarçada, no País, a possibilidade de um relacionamento mais consistente e saudável entre governo, empresas e imprensa. Os interesses, que deveriam priorizar o principal agente em torno do qual eles interagem – o público – acabam sacrificados por uma relação conflituosa.
O episódio a que me refiro começou quando viajei, no início de junho, a convite de uma empresa internacional de máquinas e equipamentos, para visitar as obras de Fonte Nova. Entusiasmei-me. Seria uma oportunidade para dar continuidade ao plano para explorar, de cada estádio que vem sendo construído para a Copa de 2014, algum dado novo, alguma técnica acaso diferente, aplicada no processo de construção de arenas esportivas. Mas, lamentável – não esperava que estivesse fora de agenda.
E, por estar fora de agenda, pois a minha visita à obra, segundo alegação de uma assessora de comunicação, não fora registrada, não pude entrevistar e sequer conversar com nenhum engenheiro no canteiro de Fonte Nova. Pior ainda: a assessora que me atendeu não permitiu, ao menos, que tivesse acesso ao diretor de engenharia a fim de deixar com ele o meu cartão de visitas e um exemplar da revista em que publicara, um mês antes, reportagem sobre as obras da Arena da Amazônia, onde, aliás, tive livre e amplo acesso.
Diante de fato tão surpreendentemente surreal, recebi a explicação de que aquele tipo de comportamento tinha como base um manual elaborado para estabelecer procedimento na relação com a imprensa. O problema, portanto, estava aí: a comunicação fora colocada a reboque de um manual que, pelo jeito, vem sendo seguido à risca.
Mas, o caso de Fonte Nova não foi único e imagino que, por mais efeito bumerangue que ele provoque, jamais será o último.
Ainda recentemente nós, da revista
O Empreiteiro, tivemos problema similar, quando decidimos redigir um conjunto de matéria para a edição em que enfocaríamos a década de ouro da Petrobras. Uma assessora da estatal me fez tantas indagações, me pediu que montasse a pauta com tal nível de detalhamento, que afinal, tive de ponderar: se conseguisse elaborar uma pauta com todos aqueles pormenores, revelando conhecimentos tão amplos sobre programação de obras, volume de investimentos e acervo tecnológico da estatal, acabaria não precisando mais da inteligência da empresa para elaborar a matéria. Resultado: a pauta foi cumprida, mas sem os subsídios solicitados.
As empresas, compreendemos, têm os seus próprios interesses e, o governo, idem. Mas nenhuma dessas partes pode esquecer que acima delas e de seus propósitos está o interesse público.
Quando uma dessas partes acredita que detém nas mãos uma parcela de poder costuma agir como se os seus interesses fossem os únicos. E até passam a difundi-los, ou a escamoteá-los, como se estivessem acima do bem e do mal.
Temos exemplos recentes, até no plano federal, de tentativas para camuflar informações ou de se estabelecer uma regulamentação para inibir o trabalho da imprensa. São iniciativas, no entanto, que não encontram amparo na sociedade. Afinal, ela sabe: o que importa é a prioridade do interesse público.
Estação Arquiteto Walter Toscano
A Estação Largo 13, depois batizada como Estação Santo Amaro, poderia chamar-se Estação Arquiteto Walter Toscano. Ele concebeu o projeto e especificou os elementos metálicos que proporcionaram forma e espaço àquela obra que espelha as possibilidades de integração dos transportes de massa em São Paulo (SP)
Frase da coluna
“O governo federal aparentemente acordou para a urgência de resolver os atrasos nas obras necessárias à boa realização da Copa das Confederações, em 2013, Copa do Mundo de 2014 e Olimpíada de 2016. Mas, o remédio escolhido pode provocar sequelas indesejáveis, em vez de trazer a cura dos problemas: a proposição do Regime Diferenciado de Contratações (RDC), embutido na Medida Provisória MPV 527/2, destinado a acelerar as licitações e os contratos em tempo hábil, é um equívoco de proporções olímpicas”.
De João Alberto Viol, presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco).
Fonte: Estadão