O governo diz que não, mas a realidade diz que sim e expõe, com fatos e fotos, aquilo que um jornal sutilmente enfatizou: “Hoje não se sabe mais onde termina a presidente e onde começa a candidata”.
Não se pode enfatizar que o governo seja responsável único pela deflagração do processo eleitoral antecipado. A atual política econômica, exibindo a dimensão do “pibinho” e os estragos que ele, direta ou indiretamente, vem causando nas atividades que fomentam o crescimento, é um dos fatores, dentre outros de maior ou menor escala, que acabaram apressando a colocação do processo eleitoral nas duas casas do Congresso e, depois, em outras instâncias, até chegar à rua.
E o que se falava em meio-tom, nos circunlóquios palacianos, extravasando para os comentários parlamentares, ganhou conotação de convicções, na medida em que foi estimulado tanto pela detentora do poder atual quanto pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Os principais interessados em dar como favas contatadas a reeleição de Dilma Rousseff procuram se acercar dos mecanismos que assegurem esse propósito, bloqueando ou dificultando os caminhos que outros potenciais candidatos estariam pavimentando. A votação do projeto de lei que altera a legislação sobre partidos políticos, notoriamente direcionando contra a criação do partido de Marina Silva, é exemplar desse empenho governamental e da sua base de apoio. O que levou o senador Pedro Simon a deblaterar: “A Petrobras se desmancha, os juros sobem, a inflação retorna e agora vem essa medida antidemocrática”.
O açodamento da antecipação, priorizando iniciativas políticas cerceadoras, se refletiu até nos desvios que tomaram conta de algumas das comissões da Câmara dos Deputados. Haja vista, aquela que, num piscar de olho, aprovou uma emenda à Constituição, para submeter as decisões emanadas do Supremo Tribunal Federal ao crivo do Congresso Nacional. Tal iniciativa estapafúrdia partiu solertemente dos defensores daqueles que foram condenados pela prática dos delitos revelados no processo do mensalão.
Embora a presidente diga que não, é evidente que a presença dela na inauguração de obras, por menores que sejam ou pela importância meramente regional ou local que sinalizem, contradiz o que ela fala e a postura que ela assume, de que sua prioridade é a governança. Não é.
O fato é que, com a prevalência dos atos e fatos políticos, áreas imprescindíveis à geração de riquezas e ao desenvolvimento do País, começam a ficar ou a se julgar em plano secundário. E deixam de andar. Com exceção das obras entregues à responsabilidade das concessionárias privadas; daquelas destinadas aos eventos esportivos do ano que vem ou da Olimpíada de 2016; e de outras que são do empenho de alguns estados ou da iniciativa privada, as demais perdem fôlego e, dentre estas, muitas estão paralisadas, não se sabendo se serão retomadas ou se serão objeto de novos contratos para que isso aconteça. Estão aí a atestar essa inoperância a Transposição do rio São Francisco e a Ferrovia Norte-Sul, para ficarmos apenas nos exemplos mais flagrantes. Outros casos podem ser apontados nos Programas (1 e 2) da Aceleração do Crescimento. A propósito, pesquisa que acaba de ser divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) revela que o nível da atividade da construção civil caiu pelo quinto mês consecutivo.
O governo federal pode comprometer dois anos da economia brasileira, em processo de recuperação, com a enxurrada de medidas casuísticas que visam tão somente a garantir a reeleição de Dilma Rousseff. Mas há um pormenor: a história é implacável. E a Nação, que vem sendo preterida nos seus legítimos interesses, não deixará de “cobrar a conta”, em algum momento do futuro.

Fonte: Revista O Empreiteiro