Guiné-Bissau: último eldorado lusófono

País de língua portuguesa tem avanços, mas golpe militar gera nova instabilidade; território tem grandes reservas minerais e de petróleo inexploradas

Jeronimo Giorgi – Bissau (Guiné-Bissau)

A multinacional Asperbras, com sede em São Paulo, vendeu recentemente equipamentos para empresa angolana, para a instalação de quatro fábricas de processamento de castanha de caju na Guiné-Bissau. Esta participação discreta é a única grande ação do mercado brasileiro registrada no País lusófono da África ocidental nos últimos tempos. Antes do golpe militar ocorrido em abril, havia uma expectativa, de nos próximos anos, o País crescer e alcançar níveis econômicos semelhantes aos de outras nações que também falam português no continente africano.
Há uma grande cooperação brasileira em saúde, segurança e educação com a nação africana, e até um memorando de entendimento entre o ministério da Economia da Guiné-Bissau e o Sebrae Nacional. No entanto, o intercâmbio econômico é ainda incipiente.

Com um 1,5 milhão de habitantes, a Guiné-Bissau é um dos Países mais pobres do mundo e tem sido caracterizada desde a independência em 1973 por uma instabilidade constante. Recentemente, no entanto, o governo deposto chegou a promover alguns avanços que levaram a comunidade internacional a olhar com mais otimismo o território guineense.
“Ano passado foi particularmente auspicioso e promissor para a Guiné-Bissau”, comentou o embaixador brasileiro em Guiné-Bissau, Jorge Geraldo Kadri, no início de 2012. Porém, o diplomata lembrava que uma revolta ocasionada por disputas entre facções do exército já tinha criado tensão no final de 2011. Mesmo assim, a economia manteve uma trajetória de crescimento ano passado, alcançando 5% de expansão, com a inflação permanecendo abaixo dos 3%.

Mineração

A mineração é provavelmente o setor com maior atração internacional, já que o País tem grandes reservas inexploradas de bauxita e fosfato, além de petróleo e gás natural. Na região de Farin, um consórcio europeu-africano está em fase inicial de estudos de exploração das minas de fosfato e espera-se que, a curto prazo, sejam aplicados US$ 105 milhões no projeto – investimentos previstos antes do golpe. Já a Bauxite Angola, que pretende explorar bauxita em Guiné-Bissau, havia se comprometido em construir um porto de águas profundas em Buba, sul do País, para exportar o mineral.

Em 2011, Guiné-Bissau teve colheita recorde de castanha de caju, seu principal produto, que representa 85% das exportações. Com 178.000 t produzidas, o pequeno País é o quinto maior produtor de castanha de caju do mundo. Nesse item, Guiné-Bissau tem plano antigo de trabalhar com o Brasil para gerar valor agregado à castanha. Além de um grande estoque de madeiras cujas exportações deixam poucas receitas para o País, esta terra de condições excepcionais também tem tido um aumento na produção de algodão e de manga, criando oportunidades de negócios no processamento de polpa da fruta.

A pesca é outro setor importante. Com cerca de 300 km de litoral, estudos recentes sugerem que a pesca no litoral guineense tem uma capacidade anual de 120 mil t, mas, atualmente, apenas 10% são explorados.
Enquanto isso, o governo vende licenças no exterior para pesca em suas águas, gerando receitas anuais de US$ 20 milhões.

Além dos 300 km de costa, Guiné-Bissau tem mais de 80 ilhas, com uma indústria turística incipiente. Trata-se de conservadas praias e ilhas desabitadas cercadas por um ambiente natural ainda inexplorado. Orango, uma das ilhas do arquipélago de Bijagós, é a primeira reserva natural do País e onde o ecoturismo é mais desenvolvido.

Apesar das oportunidades, a economia de hoje é de subsistência em Guiné-Bissau, baseada principalmente na agricultura, com um PIB per capita de apenas 10% em relação ao do Brasil. A castanha de caju contribui com 52% do PIB e atinge 80% da mão de obra local. Para reverter essa situação, o País deve investir em projetos de infraestrutura que gerem condições adequadas de crescimento. Para processar a castanha de caju, por exemplo, deve-se assegurar a provisão de energia, um problema crônico no local. De olho nesse mercado, a Caterpillar chegou a abrir recentemente escritório de vendas de geradores. Incentivos para o investimento estrangeiro
Porém, Guiné-Bissau precisa não só de energia, mas também de empresas para construir estradas, pontes, portos e habitação. Ciente da necessidade de reforçar o papel do setor privado na economia, o governo destituído da Guiné-Bissau tomou medidas para melhorar o ambiente macroeconômico, criando um quadro jurídico e institucional favorável ao investimento estrangeiro. Uma delas foi o estabelecimento do Centro de Formação de Empresas, para facilitar e concentrar todos os serviços relacionados à criação de empresas.

No ano passado, também entrou em vigor novo código de investimentos, com incentivos para a consolidação de empresas estrangeiras, formação profissional e infraestrutura para uso público.

Para o embaixador do Brasil em Guiné-Bissau, Jorge Geraldo Kadri, o País tem o diferencial de pertencer à comunidade lusófona e isso influencia. “Pode-se dizer que atualmente não há investimento brasileiro na Guiné-Bissau”, afirma. Espera-se, no entanto, que esse ciclo comece de forma permanente — assim como o de estabilidade política no País.

 

 

 

Fonte: Padrão

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