Homenagem a Louis Vauthier, o engenheiro francês do Recife

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DIMENSÕES
Nildo Carlos Oliveira

Para alguns urbanistas, ele foi a alma do Recife. Para o sociólogo Gilberto Freyre, a demonstração mais flagrante – e premonitória – de que engenharia, sociologia e literatura se interligam tão harmonicamente, que deveriam ser disciplinas complementares.
É por essas e outras, além das realizações do engenheiro francês, nascido em Bergerac em 1815, que o colóquio "Pontes e idéias: Louis-Léger Vauthier", fez parte da programação oficial do Ano da França no Brasil, acompanhado de uma exposição e do lançamento de livro do homenageado. O colóquio, realizado no Recife de 19 a 22 deste mês, recoloca a importância de Vauthier para a modernização daquela capital, naquele remoto período de 1840 a 1846.
Ele desembarcou no Recife no começo daquela década, acompanhado de outros engenheiros e técnicos da França, todos contratados pelo governador de Pernambuco, Francisco do Rego Barros, o Conde de Boa Vista, para modernizar a cidade. Dirigiu a Repartição de Obras Pública da província e foi o responsável maior, no período, pelo planejamento e execução de um conjunto de obras: concebeu redes de abastecimento de água potável, orientou as obras de engenharia sanitária, mandou fazer aterros e construiu estradas, pontes e edificações para vários fins, sobretudo culturais.
Uma de suas realizações que ficou para a história brasileira foi o Teatro de Santa Isabel, referência da arquitetura neoclássica e símbolo do Brasil moderno, na época. O engenheiro inovou não apenas a concepção do teatro, mas com a introdução de novas técnicas construtivas e uso de materiais, em especial, o ferro. Por isso, continua a ser apontado como um dos pioneiros da arquitetura do ferro no Brasil. A técnica que utilizou na construção do Santa Isabel se difundiu para outras edificações, incluindo mercados públicos e pontes.
O Santa Isabel adquiriu notoriedade internacional. Ali esteve D. Pedro II e foi nesse local que houve uma histórica exibição da arte da bailarina russa Ana Pavllowa. O teatro recifense é lembrado também como o palco de célebre polêmica entre o poeta baiano Castro Alves e o filósofo Tobias Barreto. Apontado como um dos 14 teatros-monumento do País, foi reconhecido como Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1949.
Quando chegou ao Brasil, o engenheiro francês tinha apenas 25 anos. Trouxe na bagagem, além de ousadia e talento, a idéia de que progresso significa o casamento de recursos técnicos com reformas sociais. Ajudou a difundir princípios do socialismo de Charles Fourier, cuja influência contribuiu para dar consistência às idéias que deflagraram a Revolução Praieira.
Gilberto Freyre foi um estudioso da trajetória de Vauthier. Até escreveu o livro Um engenheiro francês no Brasil, editado em 1940 pela José Olympio. Nessa obra, o autor de Casa Grande & Senzala diz que Vauthier não foi somente um engenheiro concentrado no trabalho de projetar e construir: foi "um engenheiro de pontes e idéias".
Vauthier que ficou em Pernambuco poucos anos e nunca abandonou o contato com os amigos e colegas brasileiros, faleceu em 1901. E, segundo os seus contemporâneos, jamais se afastou do ideário de sua juventude, deixando uma herança importante do ponto de vista da demonstração de que as atividades da engenharia associam-se estreitamente aos compromissos que as obras precisam ter com as exigências e carências da sociedade. Vauthier, um nome que fez por merecer a homenagem do Brasil.

"A Camargo Corrêa, que está comemorando 70 anos de fundação, começa, a partir de agora os seus próximos 70 anos de atividades". De Antônio Miguel Marques, presidente da construtora.

Fonte: Estadão


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