Para onde quer que se vá e para onde quer que se olhe há mazelas entrando pelos olhos adentro. Isso ocorre em todo o mundo, nas melhores sociedades, e ocorre com maior evidência em país como o nosso. Na área que encaramos mais de perto, por conta da vivência cotidiana e da obrigação profissional de descrevê-la, a infraestrutura nos parece terreno fértil para constatações do que dizemos.
Embora com o reconhecimento da existência de esforço político aqui e acolá, para resolver problemas ou ao menos minimizá-los, o fato é que as carências na saúde, nos transportes, na habitação e em tudo o mais, são um espelho de uma realidade sempre visível, por mais que tentem mistificá-la ou mascará-la.
E, assim como é responsabilidade da imprensa, mostrar essas mazelas, se possível indo à raiz das causas sociais e econômicas que as disseminam, é de sua responsabilidade expor as situações que essa realidade acaba criando na emulação dos grupos que tentam sobreviver nesse cenário.
Por conta disso e por conta dos escândalos que pipocam nas franjas ou dentro do Poder, não há porque culpar a imprensa pelos fatos que ela expõe. Quando ela é vítima de qualquer tentativa de cerceamento, a liberdade do cidadão – e de toda a sociedade – corre perigo. Lembro que uma vez o presidente Lula da Silva disse que a imprensa não tem que fiscalizar coisa nenhuma; tem de informar. Ora, a informação pressupõe, no nascedouro, uma forma de fiscalização. E, sobretudo o homem público, tem de ser fiscalizado em todos os seus atos.
Bienal
Temos aí a 29ª edição da Bienal de Artes de São Paulo, no espaço criado para esse fim, por Niemeyer, no Parque do Ibirapuera. O dístico que a identifica, este ano, é um verso de Jorge de Lima: “Há sempre um copo de mar para o homem navegar”. Presentes, ali, 650 obras de 159 artistas. Moacir dos Anjos, curador, diz à imprensa que a mostra é o rosto do Brasil: contraditória. Tão contraditória que já abre polêmica com a Ordem dos Advogados do Brasil – Seção de São Paulo, por causa das obras do artista Gil Vicente. Nada melhor, para dirimir essa polêmica, do que deixar livre o caminho a fim de que o público veja todas as obras ali expostas e emita a sua opinião. A opinião pública sempre é melhor do que qualquer parecer classista.
Fonte: Estadão