João Leopoldino Neto*
País de dimensões continentais, o Brasil continua caminhando em assustadora marcha lenta no que se refere a um ponto vital para seu desenvolvimento, a infraestrutura. Impossível continuar tentando minimizar as consequências da falta de políticas e de empreendedorismo em setor que apenas patina desde o século passado, com as exceções de praxe que não solucionam o problema, apenas colaboram para acentuar ainda mais o generalizado descaso oficial em relação ao assunto.
Os números do Programa de Aceleração do Crescimento, anunciado e celebrado como uma espécie de alforria para a servidão da economia brasileira a um sistema intermodal de transportes abaixo de qualquer qualificação, ainda está longe de dizer a que realmente veio. Até porque, os próprios valores anunciados como aporte de recursos para as duas etapas do PAC pouco significam para as reais necessidades do setor.
Em seus 8,5 milhões de quilômetros quadrados de área, o Brasil possui 1,76 milhão de quilômetros de estradas, com apenas 212 mil quilômetros pavimentados. A primeira versão do programa previa investimentos de R$ 43,5 bilhões, enquanto a segunda edição prevê R$ 50,4 bilhões, valores praticamente insignificantes diante da magnitude do problema e da urgência em equacioná-lo de forma realmente concreta e capaz de sustentar o desenvolvimento que todos almejam.
A questão extrapola a simples constatação de que os valores aportados pelo programa estão muito aquém das necessidades do país, mas diz respeito justamente à forma como esses recursos poderão ser viabilizados e empregados para dinamizar essa verdadeira corrida atrás da defasagem histórica do Brasil em infraestrutura.
Muito se fala em concessões, parcerias público-privadas e outras modalidades de aportes de recursos, que não apenas os coletados pela máquina tributária, já em patamares asfixiantes para a economia como um todo. Faltam estudos oficiais sobre inovações em captação de recursos registradas com sucesso em alguns países e que poderiam ser empregadas no país, conforme peculiaridades e características regionais.
Para acentuar a necessidade dessa regionalização, não nascida apenas no âmbito dos Estados, mas patrocinada pela federação, vale lembrar que o Rio de Janeiro hoje é um canteiro de obras, enquanto São Paulo pontifica como o Estado cuja malha rodoviária mescla concessões com estradas administradas pelo DER-SP, consideradas as melhores do País, e atende em boa parte às necessidades de movimentação estratégica de suas riquezas e dá suporte ao seu desenvolvimento. Outras unidades da federação, no entanto, patinam sobre estradas não pavimentadas, sujeitas a enchentes e destruições periódicas, pontes e estruturas aquém de qualquer viabilidade operacional, em escandaloso regime de apenas tentar compensar os prejuízos, isto quando atingem tal magnitude que comovem a opinião pública.
Isto posto, omitindo-se outros aspectos fundamentais como ferrovias, portos, aeroportos e demais suportes para o setor, é chegada a hora de a sociedade civil arregimentar-se para estudar e encaminhar ao governo federal propostas das mais diversas naturezas para que o Brasil possa superar essa estagnação o mais rápido possível. É inadmissível que a grande maioria das camadas produtoras do país permaneça em uma espécie de apatia generalizada, consumindo e aceitando apenas dados oficiais sobre valores e investimentos anunciados como grandes realizações, mas distantes das metas de transformação do país em uma grande nação.
Esse tipo de reação, independente de conotações políticas ou setoriais, caso seja levada avante, tem todas as condições de inverter e dinamizar esse ponto fundamental para a consolidação do desenvolvimento que o Brasil já celebra, mas na realidade se encontra na fase inicial. A sociedade não pode permitir que, por falta de audácia e arrojo de seus representantes, o Brasil continue permitindo-se olhar para o futuro e não trazê-lo para a realidade presente, como tem sido feito há tantas décadas.
• João Leopoldino Neto é engenheiro, primeiro vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Pesada do Estado de São Paulo – SINICESP
Fonte: Padrão