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Construção da fábrica da Fiat Automóveis no município de Goiana: investimento de R$ 4 bilhões na região da Mata Norte de Pernambuco é exemplo de descentralização
Políticas de incentivos diferenciados para fora das regiões metropolitanas e melhoria na infraestrutura ajudam a descentralizar os projetos
José Carlos Videira
A região Nordeste tem atraído uma série de investimentos privados voltados a grandes empreendimentos industriais em todas as áreas. Com posição geográfica privilegiada, um aumento de consumo acelerado, próxima dos mercados norte-americano e europeu, investimentos em infraestrutura, sobretudo portos, a região conta com programas de apoio às atividades produtivas, linhas de financiamento diferenciadas e incentivos fiscais para atrair empresas para a região.
Tudo isso tem contribuído para o Nordeste passar por profundas transformações em sua economia nos últimos anos. De produtor de artigos tradicionais, a região passa gradativamente a fabricante de bens duráveis e de petroquímicos, aços especiais, automóveis, equipamentos para irrigação e para a indústria eólica, entre outros.
Os incentivos fiscais oferecidos pelos governos estaduais e municipais funcionam como um grande chamariz para os investimentos nos Estados nordestinos. Os benefícios servem ainda para ajudar a descentralizar o desenvolvimento econômico.
É o caso, por exemplo, do Programa de Desenvolvimento de Pernambuco (Prodepe). A depender da localização do investimento, a renúncia fiscal por parte do governo do Estado pode ir de 75% até 95%.
A estratégia de Pernambuco parece estar surtindo o efeito esperado pelo governo do Estado. Do R$ 1,08 bilhão de investimentos referentes a 71 projetos industriais aprovados pelo Conselho Estadual de Política Industrial, Comercial e de Serviços (Condic) para receber incentivos do Prodepe, no ano passado, mais da metade, ou R$ 569,8 milhões, é de empreendimentos fora da região metropolitana do Recife. De 2007 a 2013, o Condic aprovou 944 projetos de novas empresas e de ampliação de instalações, com geração de 67,2 mil empregos e R$ 17,7 bilhões em investimentos.
Goiana, Jaboatão, Itapissuma, Ribeirão, Glória do Goiatá, Vitória de Santo Antão, para citar alguns municípios de fora do Grande Recife, entraram no mapa dos investimentos de grandes corporações. Com os investimentos, criam-se empregos, desde as fundações até o término das obras, e a roda da economia gira favoravelmente. Somente a construção da fábrica da Fiat em Goiana emprega sete mil pessoas.
A fábrica da Latapack (vista das fases de construção e acabamento) foi dimensionada para uma produção compatível com a demanda das unidades de bebidas implantadas na região
Muitos dos empregados na construção de grandes obras acabam sendo absorvidos pelas indústrias ou pelo mercado que se forma em torno do empreendimento industrial. Somente os projetos aprovados no ano passado devem gerar mais de 2,6 mil novos postos de trabalho diretos no interior de Pernambuco.
A instalação da fábrica da Fiat, em Goiana, investimento de R$ 4 bilhões, com operação prevista para o segundo semestre, e a consolidação dos polos Vidreiro e Farmacoquímico somarão recursos de mais de R$ 20 bilhões para a região da Mata Norte do Estado.
“Antigamente, o Prodepe não distinguia regiões para a concessão de benefícios”, lembra o secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado de Pernambuco, Márcio Stefanni. Segundo ele, isso gerou uma desigualdade em termos de desenvolvimento. “A região metropolitana do Recife, que fica no litoral, de clima mais ameno, acabou atraindo muito mais empresas do que o interior”, ressalta.
O secretário afirma que, a partir de 2007, o governo do Estado mudou a política de incentivos, garantindo benefícios maiores à medida que o investimento fosse para mais longe da RMS. Stefanni explica que, para quem ainda preferir a RMS, os benefícios de crédito presumível de ICMS são de 75%. Mas quem preferir se instalar na Zona da Mata, o incentivo sobe para 85%; no Agreste, vai a 90%, e no sertão de Pernambuco atinge o limite de 95%.
O programa de desenvolvimento pernambucano também leva em consideração setores prioritários para a economia do Estado. Os empreendimentos devem estar enquadrados nos setores de agroindústria, metal-mecânica, eletroeletrônica, bebidas, têxtil e confecções, minerais não metálicos, plásticos, móveis, fármacos, higiene e limpeza.
O secretário pernambucano diz que o governo estadual em parceria com o federal tem tomado diversas iniciativas para melhorar a infraestrutura de quem opta pelo interior. “Duplicamos rodovias, investimos em adutoras para garantir o balanço hídrico, sem contar os investimentos nos 125 km de gasoduto no sentido leste-oeste do Estado”, destaca. Na região de Goiana, Stafanni garante que o governo investiu R$ 500 milhões em rodovias, gás, energia, água e saneamento básico.
Stefanni lembra que existem cidades no interior pernambucano que, há poucos anos, não tinham nem sequer uma indústria. A economia era baseada na agricultura e no setor de serviços. “Vitória do Santo Antão, a 50 km de Recife, por exemplo, hoje sedia duas grandes indústrias alimentícias, a Mondelez (antiga Kraft Foods) e a Brasil Foods”, diz. Segundo ele, gente que tinha ido embora, voltou e quem estava na região, permaneceu, com os empregos gerados com a economia renovada.
Para o gerente da Unidade de Economia, Estudos e Pesquisas da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe), Julio Becher, de 2006 para cá, uma série de empreendimentos tem mudado sensivelmente o perfil econômico do Estado. “De histórico produtor de bens intermediários, Pernambuco passa a ofertar bens de capital duráveis, o que é um passo adiante no processo de industrialização, o que vai gerar mais PIB, mais renda e mais emprego”, ressalta.
Segundo a Fiepe, o Estado tem hoje 15 mil indústrias ativas. Mas se estima que de 2007 até 2016, Pernambuco terá atraí
;do aproximadamente R$ 108 bilhões em investimentos. “Desse total, mais de 70% são para a indústria de transformação, e desse montante, outros 70% virão de segmentos industriais que não existiam aqui”, enfatiza Becher. Entre eles, cita automobilística, eólica, refino de petróleo, entre outras.
Bahia
Segundo levantamento do governo da Bahia, no período de 2007 a 2013, os investimentos privados no Estado somaram R$ 49,7 bilhões, entre implantações e ampliações, referentes a 226 empreendimentos, que geraram mais de 114 mil empregos. Desse total, R$ 31,7 bilhões ainda estão em implantação no Estado, sendo que 71% dos investimentos estão sendo feitos no interior da Bahia.
Os investimentos privados em ampliação de instalações também são maiores fora da região metropolitana da Bahia. Dos R$ 5,4 bilhões destinados a ampliações, R$ 3,8 bilhões estão localizados no interior do Estado, ou o equivalente a 70%.
O governo baiano incentiva a instalação de novos empreendimentos industriais ou agroindustriais e a expansão, reativação ou modernização de empreendimentos industriais ou agroindustriais já instalados por intermédio do Desenvolve – Bahia – Programa de Desenvolvimento Industrial e de Integração Econômica.
“Até 2016, os investimentos industriais previstos totalizam cerca de R$ 70,5 bilhões”, afirma o secretário da Indústria, Comércio e Mineração da Bahia, James Correia. A previsão é gerar outros milhares de novos empregos diretos.
Em 2013, os destaques ficaram com os grandes projetos em energia renovável, bebidas, higiene e beleza, automóveis e indústria naval. Alagoinhas, a 120 km de Salvador, se consolida cada vez mais como um polo de bebidas, com as inaugurações da empresa peruana São Miguel, da Latapack e da nova fábrica do Grupo Petrópolis para a produção das cervejas Itaipava e Crystal, e com a ampliação da Brasil Kirin, antiga Schincariol.
Outro destaque é a finalização da construção da fábrica, em Camaçari, e do Centro de Distribuição, em São Gonçalo dos Campos, a 134 km da capital, do grupo O Boticário, representando investimentos de R$ 535 milhões.
De acordo com o gerente de Estudos Técnicos da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), Marcus Verhine, dois importantes setores investem fora da região metropolitana de Salvador: energia eólica e de mineração. Ele ressalta, ainda, que a Bahia está conseguindo revitalizar, nos últimos anos, o seu parque industrial metal-mecânico. “Esse segmento da indústria quase sumiu, mas agora está em ascensão com os investimentos das indústrias naval e de automóveis”, enfatiza.
Segundo ele, até 2001, não havia nada na Bahia em relação à indústria automobilística. Com a chegada da Ford, uma série de outras empresas fornecedoras desembarcou em solo baiano. “Hoje a Bahia representa 10% da produção de pneus do País”, calcula Verhine, onde estão as maiores fabricantes do mundo. E a tendência é de crescimento com a instalação da futura fábrica da chinesa JAC Motors, prevista para o ano que vem.
Também na Bahia, a interiorização do investimento privado exigiu obras estruturantes para garantir a atratividade dos investimentos para fora da capital. “De nada adianta atrair empresas para o interior se não tiver infraestrutura adequada”, observa o gerente da Fieb.
O governo baiano destaca que investiu R$ 480 milhões na Via Expressa Baía de Todos os Santos, que reduz em 3,2 km o trajeto entre a BR-324 – principal via de acesso rodoviário à capital baiana – e o Porto de Salvador. São dez faixas de tráfego, quatro exclusivas para veículos de carga, três túneis, 14 elevados, duas passarelas. Outro R$ 1,7 bilhão está previsto para investimentos nas rodovias que compõem o sistema BA-093, que totaliza 121 km de extensão.
Via Expressa Bahia de Todos os Santos encurta e facilita o acesso ao porto de Salvador
REGIÃO DE SUAPE – PE
|
Nome da empresa
|
Setor
|
Projeto
|
Investimentos
|
Status
|
Shineray
|
Indústria
|
Montadora de motocicletas, máquinas para construção e tratores agrícolas
|
R$ 64 milhões
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Em implantação
|
Aguilar y Salas
|
Indústria
|
Produção de calor, reatores e tanques
|
R$ 38,4 milhões
|
Em implantação
|
Cristal Pet
|
Indústria
|
Pré-formas de pet e flanges (componente eólico)
|
R$ 33 milhões
|
Em implantação
|
Frompet
|
Indústria
|
Produção de resina e transformação de resinas virgens em pré-formas de pet
|
R$ 72 milhões
|
Em implantação
|
INDÚSTRIAS RECÉM-IMPLANTADAS NO INTERIOR DA BAHIA
|
Empresa
|
Segmento
|
Produto
|
Investimento (R$)
|
Empregos
|
Município
|
Frutaki
|
Alimentos e bebidas
|
Sucos
|
15 milhões
|
125
|
Nova Soure
|
Marschal
|
Eletroeletrônico
|
Luminárias e lâmpadas
|
50 milhões
|
380
|
Feira de Santana
|
Frutaki
|
Alimentos e bebidas
|
Leite e derivados
|
4,7 milhões
|
15
|
Jaborandi
|
Rhd
|
Metal-mecânico
|
Caldeiraria e usinagem
|
9 milhões
|
105
|
S. Gonçalo dos Campos
|
Star
|
Plásticos e borrachas
|
Caixas d’água
|
1 milhão
|
35
|
Amargosa
|
NVESTIMENTOS PRIVADOS NA BAHIA – 2007-2013 (por localização)
Localização
|
Quanti-
dade
|
%
|
Empregos
|
%
|
Investi-
mentos
(R$ bilhões)
|
%
|
RMS*
|
25
|
40
|
14.380
|
33
|
9,30
|
29
|
Interior
|
38
|
60
|
29.146
|
67
|
22,40
|
71
|
Total
|
63
|
100
|
43.526
|
100
|
31,70
|
100
|
*Região Metropolitana de Salvador / Fonte: Governo da Bahia
Fonte: Revista O Empreiteiro
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