Imagine uma obra de um canal com 217 km de extensão no total, que exige escavações, concretagem, seis estações elevatórias com 12 bombas, dez estruturas de controle com comportas, 12 barragens, cinco aquedutos, 8 km de galerias, 3 km de túnel e diversas pontes e passarelas, em uma região com clima quente e seco e infraestrutura precária.
Pois todo esse conjunto de atividades nesse ambiente está relacionado à obra do Eixo Leste da Transposição do Rio São Francisco, inaugurado em março – hoje ainda ocorrem trabalhos complementares.
Quem conta é Fabiano Ranna, diretor de obras da SA Paulista, construtora que integrou dois consórcios que atuaram na obra. O engenheiro lembra que foi preciso vencer cerca de 300 m de nível acima do leito do rio São Francisco no trecho de captação, no município de Floresta (PE).
O escopo do trabalho da SA Paulista envolvia a execução de obras civis, instalação, montagem, comissionamento e testes do Eixo Leste da Transposição, nos antigos lotes 9, 10, 11, 12 e 13 – tratava-se de lotes inacabados, em diferentes fases de trabalho executadas, que foram assumidos pela empresa a partir de 2013, através de consórcios.
Um primeiro consórcio tinha a SA Paulista como líder (50%) e a Somague (50%). O segundo era composto pela SA Paulista(90%) e a FBS (10%). O consórcio projetista do Eixo Leste era integrado pela Ecoplan Engenharia, Techne e Skill.
No âmbito dos trabalhos das subcontratadas, as escavações fcaram a cargo da paranaense Pedra Branca. Já as montagens eletromecânicas foram realizadas pela baiana Pampulha Engenharia. A mineira Aquasolis desenvolveu as fôrmas pré-fabricadas. Entre as empreiteiras do projeto, destaca-se a Monte Sinai. O Ministério da Integração gerenciou o fornecimento dos equipamentos.
A sede da SA Paulista durante as obras da Transposição se situou em dois lugares: Floresta e Sertânia, ambas em Pernambuco. Porém, os canteiros se espalhavam por vários municípios ao longo da obra. Três estavam em Floresta, um em Custódia (PE), dois em Sertânia e um em Monteiro (PB). Seis usinas de concreto foram também montadas ao longo do traçado. A construtora afirma que durante o pico das execuções do canal, no início de 2016, aproximadamente 4 mil pessoas trabalhavam diretamente no projeto. Fabiano Ranna calcula o envolvimento de pelo menos 300 equipamentos pesados nos trabalhos.“Uma dos maiores dificuldades além da engenharia foi a logística. Calcule distribuir todos os dias 4 mil trabalhadores no campo, numa extensão de 217 km, e abastecê-los com água potável e alimentação, e dar condições de moradia, saúde, segurança e transporte, para apoiar as frentes de serviço”, conta o engenheiro.
Os trabalhos de engenharia envolviam escavações a céu aberto (solo e rocha), escavações subterrâneas, concretagem, impermeabilização, construção de barragens, montagens eletromecânicas, e execuções de aquedutos, pontes, passarelas e galerias pré-moldadas.
“Eram construídos 6 m de canal por turno”, diz Fabiano. Os trabalhos ocorriam dia e noite, em diferentes turnos. Por dia, 40 aduelas eram fabricadas, totalizando 8 mil peças, na usina montada exclusivamente para isso, em Monteiro (PB). As aduelas foram usadas em galerias e adutoras. “Caminhões especiais faziam transporte de duas aduelas por vez”, lembra.Ele explica que as seções do canal foram estruturadas em corte e aterro, com acabamento em solo cimento (substrato solo) ou acabamento em concreto poroso (substrato em rocha), dreno nos taludes com geocomposto e dreno no fundo com tubo PEAD perfurado envelopado com geotêxtil e brita e colchão de areia, além de manta impermeável de 1 mm de PEAD ou PVC e concreto de revestimento.
A ordem de trabalho teve a seguinte sequência: – Instalação dos canteiros, supressão vegetal, escavações e aterros do canal, impermeabilização e revestimento.
– Simultaneamente, deu-se a execução de barragens e as obras civis das estações elevatórias, seguidas das montagens eletromecânicas, que envolviam estruturas de controle, como grades, comportas, bombas e quadros elétricos.
– Posteriormente, realizou-se a obras de artes especiais, incluindo pontes, passarelas e aquedutos.
– Por fm, fez-se o comissionamento e testes. Segundo Fabiano Ranna, o que levou a SA Paulista a realizaro Eixo Leste da Transposição do Rio São Francisco foi ter participado das obras dos lotes 1, 2 e 7 do Eixo Norte – hoje, as obras deste trecho encontram-se paralisadas – e o canal faria ligação do rio, na altura do município de Cabrobó (PE), a montante de onde é captada a água para o Eixo Leste, com o sertão no Estado do Ceará.
Fonte: Revista O Empreiteiro