Flavio Miguez de Mello, que tem uma trajetória de mais de 50 anos na engenharia, em especial na área da construção de barragens (presidiu o Comitê Brasileiro de Barragens de 1989 a 1996), foi acumulando fatos de obras e memorizando perfis de engenheiros e políticos e o inevitável aconteceu: redigiu o livro Episódios da engenharia (e da política) no Brasil.
Editado este ano por aquele comitê, o livro é prefaciado por Erton Carvalho, atual presidente do CBDB. Miguez optou pela narração leve e simples para expor lembranças da engenharia brasileira, liberando os textos da formalidade sisuda que invariavelmente caracteriza matérias técnicas nessa área. Graduado em engenharia civil e pós-graduado em geologia pela então Escola Nacional de Engenharia da Universidade do Brasil, atual Escola Politécnica da UFRJ, ele chefiou a empresa de consultoria Enge-Rio e atuou em projetos hidrelétricos aqui e em diversos países.
Na imensa variedade de “causos” registrados em sua vivência profissional, o autor da obra explica por que o projeto Furnas resultou na constituição de uma empresa exemplar. Convidado por Juscelino Kubitschek para formar a diretoria, Lucas Lopes indicou o engenheiro John Reginald Cotrim para a presidência; o engenheiro e professor Flavio Henrique Lyra, para a diretoria técnica, e o engenheiro Benedito Dutra, para a diretoria de administração. JK aventou a possibilidade de poder designar alguém, mas Lucas Lopes deixou claro que ali político não tinha vez, a menos que o presidente da República levasse em conta as vagas do conselho de administração. Ao que JK de imediato respondeu: “Ah, bom. Então, Lucas, quero você na presidência desse conselho”. Lucas Lopes também era engenheiro.
E Benedito Dutra, que mais tarde seria secretário-geral do Ministério de Minas e Energia, costumava dizer: “Antes um fim com horror do que um horror sem fim”. E um caso que receberia a designação de “fim com horror”, veio a acontecer no governo Fernando Collor de Mello, que num ato abrupto, para muitos até hoje jamais explicado com coerência, fechou o Departamento Nacional de Obras de Saneamento, o DNOS, responsável por importantes obras de engenharia realizadas pelo Brasil afora.
Ilustrativo, da visão das obras públicas, na época das grandes barragens, um episódio com o empresário Sebastião Camargo, presidente e principal acionista da empresa Construções e Comércio Camargo Corrêa. É dele a seguinte manifestação: “Não sei por que os jovens ficam preocupados com custos e cronogramas de obras. As obras custam o que têm de custar e levam o tempo que têm de levar”.
Paulo Afonso e o rio São Francisco entram diversas vezes nos relatos de Miguez. À pág. 210 ele conta que o ensaísta e crítico literário Alceu Amoroso Lima captou e registrou, em O Jornal, do Rio de Janeiro, declarações de três estrangeiros que haviam visitado a cachoeira de Paulo Afonso. Um francês foi sintético: “C´est très chic”. Um hindu também: “It is just wonderful”. Um americano, no entanto, revelou a face prática que caracteriza os homens de negócios nos EUA: “How much hydropower is lost every day?”
Fatos hilários à parte, o livro de Flavio Miguez, com 215 páginas, registra fragmentos da história da engenharia brasileira, a maior parte circunscrita às obras das grandes barragens, mostrando o lado humano de engenheiros, políticos e empresários que ao longo do tempo contribuíram para o crescimento do País. Tudo num estilo livre, sem a preocupação de fazer literatura, mas cujo final não deixa de ser um conjunto de crônicas descontraídas, um registro à margem da história brasileira.
Contratos de projetos e obras. Encontra-se em circulação o livro, de autoria de Rafael Marinangelo Lukás Klee, intitulado Recomendações Fidic para orientação de contratos de projetos e obras, publicado pela Editora Pini. Enfoca a natureza dos contratos da Fédération Internationnale des Ingénieurs-Conseils (Fidico), em uma fase em que construtoras, projetistas, empresas de consultoria e instituições financeiras do País estão cada vez mais se envolvendo com projetos e obras de engenharia no exterior. O livro é amplamente documentado e pormenorizado pelo advogado, autor da obra.
Fonte: Revista O Empreiteiro