Liebherr guia imprensa internacional por grandes obras e empreendimentos no Brasil
Guilherme Azevedo
Somos, ao todo, 34 jornalistas, de 15 países. Alemães, em maior número, uma vez que a promotora do encontro, a gigante de máquinas de construção e mineração Liebherr, tem sua matriz, lá. Acompanham-nos lideranças mundiais e nacionais da empresa, como Stefan Heissler, integrante do conselho internacional, e Klemens Stroebele, diretor administrativo da Liebherr Brasil, com quem compartilharemos os próximos dias, em tempo integral. Trata-se do Liebherr Information Tour 2012. O Brasil, por sua emergência e protagonismo nos próximos anos, com Copa do Mundo e Olimpíada, foi o escolhido desta edição. Objetivo: conhecer empreendimentos de destaque no Brasil que têm a cooperação dos equipamentos da marca.
Dia 1, 5/11: QUIABO
Da Avenida Paulista, fomos nós, um pequeno grupo de jornalistas brasileiros do trade, nos juntar ao restante do grupo, no município de Guaratinguetá (SP), no Vale do Paraíba, a cerca de três horas de carro da capital paulista, onde a Liebherr concentra suas atividades no Brasil. Fim de tarde livre, noite de comida tipicamente brasileira: arroz, feijão, farofa, frango caipira com quiabo – what is this strange green thing?, pergunta uma das participantes. Oh, it´s delicious! O quiabo ganha o mundo.
Dia 2, 6/11: FÁBRICA
A sede da empresa no País é um complexo industrial com 116 mil m2 de área construída, num terreno de 900 mil m2, situada à beira da rodovia Presidente Dutra. Aqui trabalham 981 funcionários, de operação e administração (no Brasil, são 1.200 no total). Data de 1974 o início das atividades no País, nesta Guaratinguetá. Nascem aqui escavadeiras sobre esteiras (modelos R 944 C, R 954 C e R 964 C), máquinas para movimentação de materiais (modelo A 924 C), carregadeiras sobre rodas (modelos L 538 e L 580) e guindastes de torre (modelo 85EC-B5), além de escavadeiras hidráulicas para mineração (modelos R 9350 e R 9400, entre os maiores do mercado). Ganha destaque a linha de construção, com o aumento da área fabril de caminhões-betoneira, efetivado este ano. Eleva a capacidade de produção a 3 mil unidades por ano. A Liebherr lidera esse mercado no Brasil, com 60% das vendas. Também aposta na fabricação de centrais dosadoras de concreto (modelo TDA 100), recém-iniciada, e promete voltar a produzir guindastes offshore em 2013. Números mostram a evolução dos negócios da Liebherr no Brasil: em 2011, a receita com vendas foi de R$ 450 milhões, ante os R$ 54 milhões de 2001. No mundo (cerca de 130 empresas), até o primeiro semestre de 2012, os negócios totalizaram € 4,387 bilhões, alta de 9,8% sobre igual período de 2011.
Em Guaratinguetá, destaca-se o processo fabril, em galpões com pé-direito acima dos 20 m, sem luxo. Começa sobre o mais básico dos insumos, a chapa de aço. Segundo o projeto de cada máquina, é cortada com precisão e em seguida tem suas partes soldadas, etapa decisiva. Como explicam os engenheiros, a boa solda é a garantia de longevidade da máquina. Os soldadores, portanto, são de suma importância. “Mais do que integrantes habilidosos, têm o histórico das máquinas, de todo o processo. Precisamos retê-los”, valoriza Guilherme Zurita, gerente comercial de tecnologia de concreto.
Na Arena Corinthians,guindastes, entre eles,o maior da AméricaLatina, vão ajudando aconstruir um sonho
Dia 3, 7/11: MINA CAPÃO XAVIER
“A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original”, Albert Einstein. A citação, colada à parede de vidro, soa como saudação de boas-vindas (meio fora de lugar, é verdade) a quem chega ao escritório da mineradora Vale no Complexo Paraopeba, no Quadrilátero Ferrífero, em Nova Lima, Grande Belo Horizonte. A Vale é a segunda maior mineradora do mundo e a primeira na produção de minério de ferro e pelotas. A mina do Capão Xavier integra o complexo e, em 2011, respondeu pela produção de 12,5 milhões de t de minério de ferro. Em todo o complexo, a Liebherr marca presença com uma frota de 16 escavadeiras R 964 C, com braço de 7,0 m e lança de 2,6 m.
Especificamente no Capão Xavier, que é uma mina de pequeno porte e já em adiantada exploração, com cava lavrada a céu aberto, trabalham três escavadeiras, ladeadas por um caminhão de 38 t. Vida dura, a dessas escavadeiras: nunca folgarem nem um dia sequer na vida. São seis turmas de trabalho, de domingo a domingo, em quatro turnos diários de seis horas. No Capão Xavier trabalham 700 funcionários, 250 deles com manutenção. Ali também operam outras 12 escavadeiras, 165 caminhões e 25 equipamentos de infraestrutura, como perfuratrizes e tratores. Segundo Hélio Coelho, inspetor de pós-venda da marca, o suporte às máquinas se efetiva com a presença de um a três profissionais. Então, o céu fechou e choveu, muito. Era o fim da nossa visita.
Dia 4, 8/11: ARENA CORINTHIANS
Rumamos agora a um lugar já mítico no imaginário de quem ama o futebol e, sobretudo, no dos torcedores do Corinthians: a obra que a cada dia vai se transformando no sonho do estádio próprio, tão antigo. A Arena Corinthians, numa área de 200 mil m2 no bairro de Itaquera, extremo leste da cidade de São Paulo, será um dos 12 estádios da Copa do Mundo de 2014. Receberá o jogo inaugural do Mundial e outras cinco partidas da competição, incluindo uma semifinal.
Estimado em R$ 820 milhões e em construção pela construtora Norberto Odebrecht, deve estar pronto em dezembro do ano que vem. As obras, iniciadas em maio de 2011, alcançavam este mês (novembro) 55% de execução no cronograma físico. Hoje, trabalham na edificação do estádio 2.250 pessoas, em três turnos de trabalho de oito horas, com possibilidade de duas horas extras. Ninguém mora no canteiro. No domingo, todo mundo folga.
O Itaquerão terá 48 mil lugares regulares. Durante a Copa, chegará a acomodar 65 mil torcedores, com a instalação de assentos removíveis nas arquibancadas dos setores norte e sul. As acomodações fixas serão de trê
s tipos: geral, hospitalidade e VIP.
Metrô, paixão e futebol
O arquiteto de obras Paulo Epifani nos acompanha pelas instalações já construídas, que alcançarão, ao término, a soma de 190 mil m2 de área. Egresso das obras das linhas 2-Verde e 4-Amarela do Metrô de São Paulo, Epifani faz um quadro comparativo com a construção atual e identifica uma característica singular: a paixão envolvida. “As pessoas gostam do Metrô, sabem de sua importância, mas gostam muito mais de futebol.” O arquiteto, que é corintiano, fala da gente que chega ao local e chora, e também de quem quer levar um pedacinho da obra histórica para casa, como souvenir, mesmo que seja um pedregulho poento, só aparentemente sem valor. Epifani vê complexidades próprias nas duas obras: se o Metrô pede atenção nas intervenções subterrâneas, o estádio se desdobra numa larga cobertura metálica aérea, com mais de 30 mil m2, segundo projeto do escritório alemão Werner Sobek, também responsável pela fachada do estádio. O projeto geral de arquitetura é do escritório CDCA, do Rio de Janeiro.
O primeiro módulo da cobertura metálica do setor leste, com 75 m e 150 t, foi içado e posicionado em outubro, com o auxílio do maior guindaste sobre esteiras em operação na América Latina, o LR 11350, da Liebherr. A máquina, de propriedade da Locar, tem, segundo o fabricante, capacidade máxima de carga de 1.350 t, para alcance de 60 m da lança principal, num raio de até 12 m (com complementos, a lança pode chegar a 223 m de altura sob o gancho). A movimentação aérea no canteiro é de tal envergadura (pode chegar a mais de 100 m de altura), que precisou de autorização, de modo a não interferir no tráfego aéreo; o Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP) não dista dali.
Paulo Epifani aponta como dificuldades extras a construção de vãos livres de concreto, com mais de 100 m de comprimento, nas arquibancadas dos setores norte e sul; e a colocação da fachada de pele de vidro com 220 m de comprimento e 25 m de largura no setor oeste, o principal do estádio. O setor oeste, com 11 pavimentos, será lugar dos vestiários dos jogadores e dos juízes, camarotes, áreas VIPs e de imprensa, estacionamento coberto, restaurantes e bares e 52 concessões para lojas e lanchonetes.
Uma grande obra é sempre uma grande obra humana. Talvez por isso Epifani diga que o principal desafio da atual construção seja “lidar com as pessoas”. Um canteiro com mais de dois mil trabalhadores decerto reúne gente de muitos tipos, até poetas. Na galeria de serviços, numa passagem subterrânea, demora um desses operários-artistas. Chama-se Roberto Mateus Rodrigues, ajudante de produção. Pintou com esmero, na parede de concreto, a formação do Corinthians campeã da Taça Libertadores da América. Sempre que surge uma folga, vem para o lado de sua obra particular, a fim de retoques. Torcedor do Corinthians? “Não sou fã de futebol.” Agora, quem vem saindo do canteiro ali, na hora do almoço, é Sezario Batista, carpinteiro. Depois do trauma na coluna, virou sinaleiro, na equipe de segurança. Pai de quatro filhos, nascido em Lavras da Mangabeira (CE), vive do salário de R$ 1.270,00 pago no canteiro, mais um punhado pelas horas extras. “Sou palmeirense. Mas é um prazer trabalhar aqui, porque é história.” Aos 57 anos, Seu Sezário se organiza para “em breve parar e aposentar”. E partimos, de ônibus, de uma região que ganha, com justiça, projeção e investimento. Se Itaquera é pedra dormente em tupi-guarani, começa a despertar agora.
Dia 5, 9/11: PORTO DE SANTOS
Chegou nosso último destino, o Porto de Santos, maior complexo portuário do País, com movimentação de 97 milhões de t no ano passado (um quarto da balança comercial brasileira). São, atualmente, 11 guindastes sobre rodas da Liebherr na operação local. Os mais possantes, os modelo LHM 600, içam até 208 t, e buscam carga na décima nona fileira de contêineres dos navios. Então, embarcamos numa viagem técnica pelo canal marítimo, a bordo da escuna Genesis. E o Porto de Santos vai se entremostrando, sob chuva fina. Guindaste e portâiner arranhando o céu. Catraia de Vicente de Carvalho (SP) levando gente direto na porta do Mercado Municipal, por um estreito túnel sob o terminal portuário. Centenas de palafitas se espraiando sobre o mar, como fosse terra. Escavadeira cavando sob a água para derrocar os restos da implosão da Pedra de Teffé, antigo obstáculo. Mergulhador removendo destroços do navio grego Ais Georgis, que afundou em 1974 e andou cutucando cascos de outros navios. Draga aspirando e aprofundando o canal… O porto pulsa.
Quando desembarcamos, chega o trem que margeia o porto, interrompendo a travessia de pedestres, com produtos a granel, açúcar, para exportação. É um dos gargalos de infraestrutura bem diante dos olhos. E é a última imagem antes da nossa partida definitiva. Um aufiderzein para vocês.
Fonte: Padrão