No país dos precatórios, o teto salarial no serviço público é de R$ 26,7 mil. Mas há quem receba mais de R$ 50 mil. A contradição é que isso acontece em um país pobre, com bolsões de miséria que bordejam os lixões, a maior parte deles transformada em fonte única de sobrevivência. E haja, para se tentar manter uma subsistência ao rés do chão, bolsa-família, bolsa-escola e tantas outras bolsas explícitas ou camufladas.
A divulgação dos supersalários causa perplexidade. Eles estão no judiciário, no executivo, no legislativo, nas fundações e em outros órgãos do serviço público. Um ministro não recebe apenas o que lhe e de direito como ministro. O salário, para se tornar super, é engordado com bônus, participações nos lucros e comissões. As participações são por conta da agregação a conselhos de empresas estatais e fundações.
Há algum tempo, um político, hoje deputado, enganchou-se numa empresa de turismo municipal. Era do Recife e vinha de lá participar, uma ou duas vezes por mês, de uma reunião, para justificaria o polpudo cala-boca. E, quantos desses estão por aí, atolados na sinecura, com as mãos enfiadas nos cofres públicos.
No país dos precatórios, como pode um funcionário público receber mais de R$ 80 mil? E, se considerarmos os seus “direitos” a luxuoso carro do ano, com motorista e passagens aéreas pagas para lá e para cá, além de outras mordomias, é de se perguntar: Acaso ele valeria tanto?
Ontem assisti uma intervenção no STF, no começo do julgamento do mensalão. A verborreia era insossa. Além de insossa, insulsa. Além de insulsa, inútil. Razão cabe, como sempre, ao velho Machado: “Quero crer que não lhe faltassem ideias, talvez as tivesse de sobra, mas tão contrárias umas às outras, que não chegariam a formar uma opinião”.
Mas, voltando ao país dos precatórios. Enquanto essa massa de poderosos se regala com os gordos salários, milhares de servidores humildes estão por aí, há dez ou 20 anos, aguardando que os governos lhes paguem a miséria dos precatórios, hoje e sempre um dos maiores escândalos brasileiros.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira