Além de R$ 269 bilhões, há outros obstáculos no caminho das novas usinas

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As dificuldades para alcançar a meta estão nas licenças ambientais, programas de compensação aos grupos locais, inclusive indígenas, que alegam prejuízos com o impacto das obras, reivindicações trabalhistas crescentes e escassez de mão de obra qualificada

Carlos Brazil

Passado o susto de risco de apagão que o Brasil viveu ao final de 2012 e início de 2013, as atenções se voltam para a viabilização dos projetos elaborados para garantir o fornecimento de eletricidade até 2021. Segundo Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) do Ministério de Minas e Energia para o período 2012-2021, o Brasil deve investir R$ 269 bilhões em geração e transmissão de energia elétrica para elevar a capacidade de produção a 182,4 mil MW ao final do período e suprir as necessidades de consumo do País. Mais de 60% desses investimentos já foram contratados pelos leilões realizados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Cerca de um ano e meio após o início do período planejado, percebe-se que os desafios são enormes por numerosas razões: restrições e questionamentos socioambientais ou trabalhistas; falta de recursos; dificuldades em garantir segurança jurídica ao investidor privado; atrasos por falta de mão de obra qualificada; atuação dura do Ministério Público ou da Justiça paralisando projetos em desenvolvimento; e ação de segmentos sociais, como os indígenas, que se consideram prejudicados pela realização de grandes obras.

É o caso das usinas hidrelétricas de Belo Monte (maior projeto atual, com capacidade de geração de 11.233 MW, no rio Xingu/PA) e Jirau (3.750 MW, no rio Madeira/RO) – ambas incluídas no PDE –, que seguem em estágio intermediário de obras e já sofreram atrasos com paralisações motivadas por manifestações, invasões ou questionamentos judiciais. Outros projetos de grande porte são as usinas Santo Antônio (3.150 MW, também no rio Madeira, e que tem 14 turbinas em operação, das 44 previstas) e Teles Pires (1.820 MW, em início de obras no rio homônimo entre o Mato Grosso e o Pará, que deve receber ainda mais quatro hidrelétricas).

Outras cinco grandes hidrelétricas ainda estão em projeto: Jatobá (2.336 MW, já concedida e em estágio de preparação do empreendimento no rio Tapajós/PA); e São Luiz do Tapajós (6.133 MW, naquele mesmo rio), São Simão Alto e Salto Augusto Baixo (3.509 MW e 1.461 MW, respectivamente, ambas no rio Juruena/MT) e Marabá (2.160 MW, no rio Tocantins), todas em fase de estudo de viabilidade técnica de projeto.

Capacidade de energia armazenada é de 63%

Para suprir as necessidades previstas, o PDE prevê investimentos de R$ 213 bilhões apenas em geração elétrica. Ali estão relacionadas – entre projetos já executados desde 2012, em execução, contratados e a contratar nos futuros leilões da Aneel – 34 usinas hidrelétricas (incluindo as já citadas) e 34 termelétricas, além de uma usina nuclear (Angra 3, com 1.405 MW, prevista para ser concluída em 2016), o que possibilitará acrescentar mais 26 mil MW de capacidade ao sistema integrado de geração elétrica do Brasil, atualmente com potencial de produção de 123,1 mil MW.

Localização das hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio no rio Madeira, em Rondônia

Acrescente-se a esses investimentos os projetos até 2016 para a geração de eletricidade pela queima de biomassa (como bagaço de cana-de-açúcar, com potencial de gerar 1,8 mil MW), PCHs (pequenas centrais hidrelétricas, com 768 MW) e parques eólicos (com 6,6 mil MW), somando 9,1 mil MW ao sistema. O plano traz ainda uma relação de 29 projetos de hidrelétricas com potencial de geração superior a 50 MW em estudo de viabilidade pela Aneel, com potencial total de 8,9 mil MW de capacidade.

Concluído em 2011, período posterior à crise internacional de 2008/2009, o plano leva em consideração um cenário relativamente positivo para o crescimento brasileiro, de 4,7% em média ao longo de cada um dos dez anos (no ano passado, o PIB brasileiro avançou apenas 0,9%, segundo o IBGE). Em relação ao crescimento populacional, a estimativa é de alta anual de 0,6%, passando de 194 milhões de habitantes em 2012 a 206 milhões de pessoas ao final de 2021, um avanço total de quase 5,9%. A evolução prevista para o consumo de energia elétrica era estimada em 4,9% ao ano.

Para registro, na primeira quinzena de julho, a capacidade de energia armazenada nos principais reservatórios de água que alimentam as hidrelétricas no Brasil estava em: 63,45% nas regiões Sudeste e Centro-Oeste (contra 28,86% em dezembro de 2012), onde fica o principal parque gerador do País, com mais de 2/3 de todo potencial; 45,19% no Nordeste (ante 32,17% de dezembro); 85,81% no Sul (frente aos 36,5% do último mês de 2012); e 92,07% no Norte (em comparação aos 38,94% de novembro passado).

Fonte: Revista O Empreiteiro


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