Nas diversas vezes em que, ao longo dos anos, entrei ou saí do Clube de Engenharia, ali na avenida Rio Branco, 124, Rio de Janeiro, o nome do edifício me chamava permanentemente a atenção: Edison Passos. Quem seria? Por quais terras teria andado? Um engenheiro de campo? Algum burocrata de gabinete? Acaso um alpinista da política carioca ou nacional?
O tempo passou e a vivência foi respondendo àquelas indagações. Primeiro, não se tratava de engenheiro burocratizado e, segundo, o nome não era de nenhum político acomodado às benesses do conservadorismo. Era de um engenheiro comprometido, politicamente, com o País e, urbanisticamente, com a cidade do Rio de Janeiro.
Como engenheiro, está lembrado na avenida carioca que leva o seu nome. E Edison Passos também é o nome da estação de trem do município fluminense de Mesquita. Mas só isso não quer dizer muita coisa, pois foi ampla a contribuição de sua capacidade profissional e de sua atuação política.
Ele integrou o grupo de engenheiros que, saindo dos bancos universitários, ali pela metade da segunda década do século passado, sentia-se na obrigação de trabalhar pelo País com as armas da inteligência e da criatividade. Em sua trajetória teve, como companheiros, na profissão e na política, Maurício Joppert e Rubens Paiva, dentre outros. E, na política, um de seus companheiros de bancada foi Almino Affonso, ministro de Trabalho de Jango Goulart.
Os seus colegas consideravam-no tranquilo, reflexivo. Um homem que não se exaltava. Deixava que as ideias prevalecessem pela força que impunham e não pela força que às vezes a impaciência impõe às ideias. Aos mais apressados, que lhe cobravam ação mais urgente, avisava: “Não me apressem. Os colegas devem saber que nasci em Santa Luzia do Carangola, Minas Gerais”. E foi ali mesmo que ele nasceu em 1893. Só depois foi morar, com a família, na Fazenda Monte Alegre, no distrito de Muriaé.
Formou-se engenheiro-geógrafo em 1915 e engenheiro civil em 1917, na antiga Escola Politécnica do RJ.
Antes de falar de sua posterior escalada política, pós-Estado Novo, é importante que se diga que ele exerceu o cargo de secretário de Viação e Obras Públicas do Rio de Janeiro. Foram oito anos de trabalho, durante os quais se envolveu até a alma com as grandes reformas urbanísticas do Rio. Participou da abertura das avenidas Getúlio Vargas, Brasil e Tijuca e cuidou da orientação dos trabalhos de engenharia que resultaram na duplicação do túnel do Leme e do Pasmado.
No começo dos anos 1950 ingressou de vez na política partidária, na expectativa de sepultar, de todo, os resquícios do Estado Novo. Como deputado federal, viu que poderia aproveitar as possibilidades políticas em favor da engenharia. Então, presidindo a Comissão de Transportes da Câmara, ajudou a criar o Plano Rodoviário Nacional (PRN), para melhorar, ampliar e conservar a infraestrutura rodoviária da fase getulista. E ajudou nas medidas que resultaram na criação da Petrobras e da Eletrobrás.
Em 1943, eleito presidente do Clube de Engenharia (motivo pelo qual seu nome está na placa que identifica o edifício), colocou-se em defesa da anistia ampla, geral e irrestrita dos brasileiros que tinham sido perseguidos pela ditadura de Getúlio Vargas. Quando outro engenheiro, Yedo Fiúza, pretendeu realizar ali uma reunião apartidária, ele concordou, afirmando: “O Clube de Engenharia não recusa o seu salão de reuniões a pedido de sócios, sejam quais forem as suas correntes políticas, ideológicas ou religiosas.” Edison Passos, engenheiro, democrata, brasileiro.
Fonte: Revista O Empreiteiro