O nome do engenheiro que previu a construção do Canal do Panamá quase passou em brancas nuvens. Não há registros precisos sobre ele. Sabe-se apenas que integrou a expedição do aventureiro espanhol Vasco Nuñes de Balboa, o homem que se rebelou contra a coroa espanhola, em 1510, e se encontrava, por isso, ameaçado à forca ou ao cutelo pela justiça de Castela.
Fanfarrão, ousado, acusado de haver traído interesses do rei Fernando de Aragão, ele intuiu, ao se aventurar por terras da América, descobertas por Colombo, que somente um grande feito lhe salvaria o pescoço. Sediado em Santa Maria de la Antígua del Darien, no Caribe, povoação fundada por ele e por Martin Fernandez de Enciso, ele organizou uma expedição de 190 homens e no dia 1º de setembro de 1513 partiu para a descoberta que modificaria o destino do mundo.
Primeiro, ele alcançou a província indígena de Coyba e, de lá, iniciou a travessia do istmo do Panamá. Não foi fácil, naquela época, com homens a pé ou no lombo de alimárias, muitos vestindo armaduras pesadas, enfrentar o calor equatorial, os rios e a selva fechada, com as trilhas abertas a golpes de machado e facas, e sob a ameaça de toda sorte de doenças.
Finalmente, no dia 25 daquele mês, com a expedição reduzida a 67 homens, Balboa subiu ao topo de um monte a partir do qual avistou os dois oceanos: o Atlântico, que ele já singrara, e o Pacífico, que acabara de descobrir. Coube ao escrivão da expedição, Andrés de Valderrabano, registrar: “… fora este senhor Vasco Nuñes o primeiro que avistara este oceano e o mostrara aos seus seguidores”.
Mas, na expedição, havia um engenheiro, Álvaro de Saavedra, cujo nome historiadores deixaram de mencionar. Mesmo Stefan Zweig, que tratou da vida de Balboa e de sua expedição, no ensaio A fuga para a imortalidade, no livro Momentos decisivos da humanidade, não lhe faz qualquer referência. Ao longo dos séculos deixou-se de pesquisar o assunto, que foi lembrado acessoriamente, pelo historiador inglês Matthew Parker, em seu livro, Febre do Panamá (Panama fever), publicado editora pela Record, no ano passado, com tradução de Carlos Duarte e Anna Duarte.
Contudo, em relatório adicional que encaminhou ao rei da Espanha, depois de retornar a Santa Maria Del Darien, àquela altura como herói e não mais como um delinquente que deveria ser entregue às mãos dos carrascos, Balboa cita o parecer do engenheiro Álvaro de Saavedra, de Castela.
Em seu parecer, o engenheiro sugeriu a continuidade do esforço para se encontrar um estreito, um traço de união entre os dois oceanos, ponderando que, se uma passagem natural não fosse encontrada, não seria impossível a construção de uma travessia – possivelmente o futuro Canal do Panamá. Textualmente, o relato de Matthew Parker registra assim as palavras do engenheiro: “… não será de todo impossível fazê-lo” (fazer o ponto de ligação).
A ousadia preservou o pescoço de Balboa, salvando-o para a História. E, o Canal do Panamá, cuja construção foi prevista por um engenheiro de antecedentes, formação e outros dados pessoais desconhecidos, assegurou a logística que colocou o comércio internacional em outro patamar. Hoje, possivelmente mais de 14 mil navios passam por ali, por ano, assegurados por uma das maiores obras de engenharia do mundo.
A trajetória de Alberto Giacometti
Quem não foi ainda pode ir. Está na Pinacoteca do Estado, na praça da Luz (São Paulo-SP), a mostra “Alberto Giacometti: Coleção da Fondation Alberto et Annete Giacometti, Paris”. Mas o prazo é apenas até o dia 17 de junho próximo. O conjunto da obra em exposição revela a criatividade do artista plástico no desenho da figura humana e suas complexidades
Frase da coluna
“O petróleo pesa mais que a razão.”
Do escritor Carlos Fuentes, ícone da literatura latino-americana, falecido na Cidade do México dia 15 deste mês (maio) e cujo legado é uma obra que traduz o inconformismo universal do povo mexicano e de todos os povos.
Fonte: Padrão