Ele nasceu em Montevidéu, mas foi formar-se engenheiro na Alemanha. Poderia ter iniciado o exercício de sua profissão no Uruguai, mas decidiu fazê-lo em terras paulistanas, preferencialmente no ponto mais alto da Mata do Caaguaçu, espigão que demarcava os dois lados da Pauliceia, então uma cidade que, à época, teria menos de 100 mil habitantes.
Logo depois de formado e tendo desembarcado em São Paulo, ele achou que deveria ficar por aqui. Fez amizade com dois empreendedores de nomes comuns: José e João. O primeiro, José Borges de Figueiredo, e o segundo, João Augusto Garcia. Os três consideraram que a cidade tinha futuro. Especialmente, tinha futuro para eles. Na prática, seria o maior polo de desenvolvimento da América do Sul. Mas o caminho para que ela chegasse lá seria muito difícil. Afinal, tudo, nela, estava para ser feito. Nada estava planejado e tudo deveria ser construído. E o que estava para ser construído não estaria imune a processos velozes de renovação urbana.
Os três amigos observaram ainda: a cidade crescia pelos vales do Pinheiros e do Tietê, preservando o núcleo central do Vale do Anhangabaú, uma tendência que, mais tarde, poderia mudar. Então, por que não fazê-la ampliar-se pelo espigão? Ali, não haveria problemas de insalubridade. A peste e o tifo, que eventualmente castigavam as populações lindeiras, possivelmente não chegassem até lá. E o engenheiro disse aos dois amigos: “Vamos transformar o espigão num recanto paradisíaco. O ponto de toque de uma elite ávida de conforto e segurança”.
Mas vamos por etapas. O engenheiro de que falamos nasceu em Montevidéu no dia 6 de setembro de 1845. Seus pais entenderam que ele, se quisesse prosperar e ter um futuro brilhante, deveria deixar o Uruguai e buscar uma formação sedimentada na velha Europa. O jovem, idealista, passou por vários países, até tomar a decisão de estudar na Alemanha. E ali obteve o diploma de engenheiro.
Retornando à América do Sul fixou-se na Pauliceia, cujo crescimento era notável. De um dia para outro os logradouros mudavam de feição. Exceto a região da Mata Caaguaçu, que continuava, em linhas gerais, intocada, sobre o platô, expondo-se, de modo até muito explícito, às conveniências de quem sonharia com um novo perfil urbano, a partir dali.
Os três companheiros viram que, com um bom traçado, de ponta a ponta, aquela área privilegiada poderia transformar-se – por que não? – numa espécie de Champs-Élysées dos trópicos. Assim, e aos poucos, eles formaram uma sociedade, foram adquirindo terrenos e constituíram lotes residenciais, ao mesmo tempo em que estimulavam o processo de urbanização. Foi dessa forma que o engenheiro idealizou a avenida Paulista, cuja primeira via, asfaltada e arborizada, acabou inaugurada no dia 8 de dezembro de 1891.
O engenheiro, que também incursionou por outras atividades, e trabalhou como jornalista nas publicações Cidade de São Paulo e Ômnibus (a grafia era assim mesmo), chamava-se Joaquim. Morreu no dia 13 de junho de 1902, depois de deixar, à cidade para a qual doou boa parte de sua vida e de sua criatividade, a avenida que a identifica, diante das demais cidades do mundo.
Um pormenor: na data em que a avenida foi inaugurada, os amigos do engenheiro lhe disseram que ela deveria ser batizada com o nome dele. Mas ele não aceitou. Disse: “Ela será a avenida Paulista, em homenagem aos paulistas”. O nome do engenheiro é o nome de uma das ruas que atravessam a avenida que ele criou: Rua Joaquim Eugênio de Lima.
Fonte: Revista O Empreiteiro