Alex Kenya Abiko*
Há uma questão, anterior às indagações colocadas pela revista O Empreiteiro, que merece muita reflexão. Nós temos muitas escolas de engenharia no Brasil. E, o Brasil, é um país diversificado e heterogêneo, com necessidades amplas e diferentes no âmbito da engenharia. |
Então eu diria que, mesmo no estado de São Paulo ou na capital, que é a cidade mais desenvolvida do País, temos o espectro de vários tipos de engenheiros em operação. Se pensarmos no engenheiro civil e deixarmos de falar nos engenheiros mecânicos, eletricistas, químicos e em outras áreas, vamos verificar que dispomos de profissionais formados por escolas de engenharia muito diferenciadas. Há as boas escolas, as escolas de engenharia que não são tão boas assim e aquelas, consideradas muito ruins. Tudo isso existe e reflete a nossa realidade, a nossa heterogeneidade.
Diante da indagação — “existe um processo de internacionalização do engenheiro no mercado global?” — é necessário que perguntemos: De que engenheiro estamos falando? Do politécnico? De todos os engenheiros do Brasil ou apenas do Engenheiro Civil do Brasil?
Eu diria que há aqueles profissionais muito bem formados, com um embasamento muito forte de Matemática, Física, Química etc., que estão, sim, preparados para o mercado internacional da engenharia. Esse profissional dispõe, sim, de um conhecimento muito aprofundado daquilo que chamamos de ciências da engenharia. Mas, me pergunto: Até que ponto o engenheiro, formado por aquelas escolas que não tão boas assim, irão se internacionalizar? Ou será que existe um mercado para esse tipo de engenheiro? Acho o seguinte: desde que esse engenheiro esteja fazendo bem o seu trabalho, seja na escala do município, do estado ou na escala da União, logicamente ele estará cumprindo o seu papel profissional.
No fundo, quando fazemos essa série de indagações, certamente queremos nos referir às grandes e boas escolas de engenharia. Nós, aqui na Politécnica, temos formado muita gente. Até grandes líderes – prefeitos, diretores de empresas, governadores.
Mas, encontro-me mais à vontade para falar da Politécnica e de outras boas escolas, tais como a de São Carlos, a Federal do Rio de Janeiro, a Federal do Rio Grande do Sul etc. Elas têm formado ótimos engenheiros. Não podemos nos esquecer de que há engenheiros para todos os diversos níveis de necessidades do Brasil: engenheiros para construir desde edificações simples, até edifícios de 50 pavimentos, além de rodovias de categoria internacional, portos, aeroportos, centrais nucleares e por aí afora. Há profissionais, portanto, para resolver a diversidade de problemas que a realidade brasileira esteja a exigir.
Sobre o preparo da Politécnica para formar engenheiros destinados ao mercado global, tenho a dizer que a nossa escola está, sim, equipada e com condições para isso. Dispomos até de relatos de sucesso de vários de nossos formados que se encontram bem encaixados no jogo internacional da globalização. Os nossos formandos estão conseguindo desenvolver plenamente suas atividades na África, França, Inglaterra, Itália, Estados Unidos, China. Há alunos nossos, que hoje são professores em Berkeley (EUA), na área da Engenharia Civil.
Outro dado que merece a nossa observação é que, mesmo aqui no Brasil, temos praticado engenharia de categoria internacional em diversas áreas. Exemplos: a rodovia dos Imigrantes, as obras do Rodoanel, escavação de túneis para fins diversos, obras de metrôs, portos, aeroportos.
Contamos com um sistema interessante de avaliação da pós-graduação, feita pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Ministério da Educação. Esse sistema incentiva a melhoria dos nossos programas de pós-graduação. Se melhorarmos os nossos programas de pós-graduação, estaremos melhorando consequentemente os nossos cursos de graduação e a escola como um todo. Essa é uma ação nacional, que envolve não apenas a Politécnica, mas todas as escolas que hoje têm programas de pós-graduação em engenharia civil no País.
*O professor Alex Kenya Biko é chefe do Departamento de Engenharia de Construção Civil da Escola Politécnica da USP.
Fonte: Estadão