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Por coincidência, nessas regiões a renda per capita vai crescer quase três vezes mais do que nos países ricos. Portanto, a população e sua renda crescerão mais entre os países em desenvolvimento.
É lógico que é também neles que se dará o aumento do consumo agrícola. Aliás, nos últimos sete anos nossa exportação agrícola para os países em desenvolvimento cresceu duas vezes mais que a destinada aos países ricos.
A FAO calcula que, entre 2005 e 2025, a oferta de cereais e carnes deverá crescer 42%.
Um desafio e tanto! Por outro lado, a Agência Internacional de Energia acredita que até 2030 a demanda global por combustíveis líquidos aumentará 55% comparativamente a 2000. Claro que o petróleo não atenderá a tudo isso, pelo menos a preços acessíveis, ssobretudo em países mais pobres. Por essa razão, pesquisadores do mundo todo estudam novas formas de energia e de combustíveis renováveis que sejam capazes de mitigar os efeitos nocivos das emissões de CO2 dos derivados de petróleo no aquecimento global.
Sabe-se que a cadeia produtiva do etanol representa apenas 11% das emissões de CO2 do petróleo. Portanto, é também claro que os biocombustíveis resultantes de agroenergia serão uma alternativa importante para o futuro, mudando o paradigma agrícola global.
Mais do que isto, mudando a geopolítica global, visto que os biocombustíveis serão produzidos amplamente nos países tropicais, exatamente os mesmos onde a população e a demanda por alimentos crescerão mais.
Sendo assim, o agronegócio mundial tem dois portentosos desafios pela frente: aumentar a produção de alimentos e fibras e participar da maior oferta de combustíveis líquidos. O Brasil é um dos poucos países com enorme potencial para atender a parte substancial dessa demanda.
Hoje, cultivamos 72 milhões de hectares com todas as culturas, das quais 5% com cana-de-açúcar para fabricar etanol. Nesta área estamos produzindo, em 2008, nossa maior safra de grãos (145 milhões de toneladas) e nossa maior safra de cana, 559,4 milhões de toneladas, e 25 bilhões de litros de etanol. Também estamos produzindo nossa maior safra de carnes, de leite e de produtos florestais oriundos de florestas plantadas. Isto mostra que um mito ridículo – a produção de biocombustíveis afetará a oferta de alimentos – é completamente errado, e não só em termos de Brasil.
Temos quase 200 milhões de hectares ocupados com pastagens.
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Como a tecnologia da nossa pecuária de corte evoluiu espetacularmente, produzimos hoje muito mais carne por hectare do que dez anos atrás, e também mais leite por vaca. Com isso, áreas de pastagens degradadas vão sendo ocupadas pela cana, pela soja e por florestas. Mais de 90 milhões de hectares de pastagens são aptos para agricultura, dos quais cerca de 21 milhões para cana.
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Portanto, nossa área pode crescer, no longo prazo, mais do que o dobro daquela que é hoje cultivada. E, com aumento da produtividade, pode chegar a 350 milhões de toneladas de grãos e 300 bilhões de litros de etanol.
Tudo isso passa por uma estratégia público/privada que não depende só da vontade dos agricultores ou de Brasília. É preciso uma grande coordenação entre os diversos órgãos do governo para que logística e infra-estrutura, recursos para crédito rural e seguro de renda, redução tributária e criação de novos mercados se somem às nossas principais vantagens comparativas: tecnologia tropical diferenciada, um agricultor moderno e competitivo e terras à vontade. Claro que, em 2009, outro obstáculo terá de ser vencido – a crise financeira global. Mas não é tão difícil: basta vontade política para pôr em prática conhecidos instrumentos de política agrícola, como os preços mínimos e os recursos para comercialização. Com isso, faremos da crise uma grande oportunidade.
*Roberto Rodrigues é coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas e ex-ministro da Agricultura.
Fonte: Estadão