O professor Garcez na história da reestruturação do Estado

Foi político? Sim, na concepção de que o homem é predominantemente um animal político. Mas foi administrador? Sim, e este foi o oceano em que mais navegou, sem desvios de rumo, mesmo sob o impacto de tempestades. Engenheiro formado pela Politécnica da USP, inclui-se dentre os mais notáveis de seu tempo. E foi com a visão de engenheiro que ele reestruturou o Estado de São Paulo, em suas áreas mais sensíveis e urgentes.

A primeira impressão é a que fica. E, um dia, quando me coube cuidar de uma edição da revista sobre as obras do Complexo Urubupungá (Jupiá e Ilha Solteira), que injetaria mais 4,6 milhões de KW no processo de desenvolvimento brasileiro, lá fui eu encontrá-lo na Centrais Elétricas de São Paulo (Cesp), que ele presidia.

O encontro se destinava à abertura de caminho, uma vez que deveria ficar na Vila Piloto, ao lado de Três Lagoas (MT), durante o período necessário à obtenção de informações para a série de matérias sobre as obras, as técnicas nas diversas modalidades da engenharia, o contingente humano (só aquele núcleo abrigava mais de 15 mil trabalhadores) e a formação da cidade de Ilha Solteira, um trabalho de planejamento realizado pelos arquitetos Ernest Robert de Carvalho Mange e Ariaki Kato.

Direto, quase monossilábico, o austero professor indagou: “É para mostrar à opinião pública o que estamos fazendo? Pois, tudo bem. A opinião pública é prioritária. E, sendo ela prioritária, por que você ainda não está lá fazendo a reportagem?”

Foi assim, sem condicionantes, como hoje costuma ocorrer, que todas as portas foram franqueadas, excepcionalmente em um momento da vida brasileira em que a ditadura imperava com medo de manifestações, sobretudo em canteiros de obras daquela dimensão.

Naquele encontro, e em circunstâncias posteriores na cobertura de obras em curso no Estado, fui observando que o administrador Lucas Nogueira Garcez se impunha ao político e que ele buscava o equilíbrio entre as diversas atividades simultâneas em andamento. Entre a administração e a política, ele dosava o tempo, a fim de proporcionar algum tempo ao professor, preocupado com as dimensões da engenharia hidráulica e sanitária, a propósito, o tema de seu livro, até hoje, prioritário nessa área.

A inauguração de Jupiá ocorreu em 1974. Um ano depois ele sairia da Cesp, deixando, no campo energético, um notável legado. E legado maior já havia deixado na época em que governou o Estado: criou o Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), construiu as hidrelétricas de Salto Grande, Limoeiro, Euclides da Cunha e Barra Bonita, cuidou de um programa permanente de saneamento básico e do plano de eletrificação. Anteriormente, em 1949, quando secretário de Viação e Obras Públicas, implementou um plano rodoviário estadual.

O professor Garcez integrou uma geração de políticos que empreendiam antes de fazer política ou que faziam política para administrar. Podemos lembrar adicionalmente que em seu currículo consta a criação do Conselho Estadual de Higiene e Segurança do Trabalho e do Departamento de Assistência Médico-Hospitalar ao Servidor Público. Hoje, muitos governantes precisariam recuperar o tempo perdido e fim de aprender que governar é exercer prioritariamente a arte de administrar. E administrar de olho no futuro.

Fonte: Revista O Empreiteiro

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