*Nildo Carlos de Oliveira
Em mãos, a História da Engenharia Geotécnica no Brasil, obra comemorativa dos 60 anos da Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (ABMS), com edição de textos do professor Alberto Sayão, da PUC-RJ. As obras enfocadas, década a década, para facilidade de amostragem e de seleção, compõem o roteiro da engenharia geotécnica de meados do século 20 para cá, sem, no entanto, esquecer aquelas que foram consolidando a cultura desse segmento da engenharia a partir do século 19. Há referência aos notáveis empreendimentos do Barão de Mauá e a outras iniciativas dessa ordem determinadas pelos rumos econômicos que o Brasil ia adotando na transição do Império para a República.
Foi um caminho difícil de ser trilhado, uma vez que, em seus primórdios, a engenharia geotécnica tinha de recorrer ao empirismo e, ao mesmo tempo, evitar incorrer em equívocos. O Brasil precisava sair da condição de refém das técnicas construtivas externas, sobretudo inglesas, acumular conhecimento e se acostumar a andar com os próprios pés.
O cenário de então mostrava que o País tenderia a urbanizar-se com velocidade e teria de construir suas primeiras barragens, atender às reivindicações de modernização de visionários como Pereira Passos, construir estradas, escavar túneis ferroviários e rodoviários e projetar e construir edificações para finalidades diversas. Na esteira dos empreendimentos que gradualmente iam sedimentando conhecimentos geotécnicos, foi construída a Usina de Fontes Novas, no Estado do Rio; em Rondônia deslanchava, com graves sacrifícios humanos, a ferrovia Madeira-Mamoré, em cujo traçado ocorriam deslizamento de taludes, e obras urbanas como a avenida litorânea, hoje avenida Niemeyer, que estabelecia a conexão do Leblon com São Conrado, no Rio.
Finalmente o livro começa a registrar as obras que ajudaram a montar a história da engenharia geotécnica, década a década: a barragem de Vigário, em Piraí, atribuída à genialidade de Karl Terzaghi, considerado o pai da mecânica dos solos; as usinas de Paulo Afonso, no rio São Francisco; a ponte sobre o rio Guaíba, no RS, e outras obras. Na década de 1960, a inauguração da Refinaria Duque de Caxias; a construção da usina hidrelétrica de Furnas, no rio Grande, a construção da usina da Cosipa, em Cubatão (SP); a execução do aterro do Flamengo; o túnel Rebouças; a rodovia Piaçaguera-Guarujá e as obras de estabilização da vertente sul do Corcovado, no Rio de Janeiro.
Na década de 1970, as obras que alteraram a face do Brasil: a rodovia Transamazônica; a ponte Rio-Niterói; inauguração do complexo Jupiá/Ilha Solteira; rodovia dos Imigrantes e as obras dos metrôs de São Paulo e Rio de Janeiro, dentre outras. Na década de 1980, a construção do porto de Sepetiba e da usina hidrelétrica de Itaipu, vindo, na sequência, a primeira fase da hidrelétrica de Tucuruí, no rio Tocantins.
Claro que não se pode esquecer as obras que consolidaram os programas de prospecção e exploração de petróleo, com a Petrobras fazendo continuamente novas descobertas em terra e no mar. No capítulo dedicado à década de 1990, há registro sobre a construção do túnel do metrô de Brasília e a aplicação novas técnicas na construção de hidrelétricas, até se chegar à década de 2000, com obras em várias vertentes, incluindo a expansão do aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, o aterro para a via expressa de Florianópolis (SC), a construção do gasoduto Urucu-Manaus, as obras da Companhia Siderúrgica do Atlântico e a construção do Rodoanel em São Paulo.
No final, o livro reconhece que o conhecimento geotécnico evoluiu sob diversos aspectos, nos últimos 60 anos, e que de hoje em diante será rotineiro o uso, por exemplo, dos recursos da tecnologia para visualização, por vários ângulos, das diferentes camadas de solo.
Pena que esse amplo instrumental da engenharia geotécnica não haja sido requisitado, em tempo próprio, e nas dimensões corretas, pela administração pública, para ajudar a evitar a tragédia que hoje enluta o Rio de Janeiro e o País. O livro assinado por Sayão mostra, sob essa óptica, que há um abismo entre o que a engenharia geotécnica pode oferecer e aquilo que os políticos de plantão deveriam realizar para evitar catástrofes.
Túnel Rebouças muda sistema viário do RJ
Fase de construção do Túnel Rebouças, formado por dois túneis paralelos e duplos, ligando as zonas Sul e Norte do Rio de Janeiro, batizado com os nomes dos dois irmãos engenheiros que ganharam renome desde a época do Império: André Rebouças e Antônio Rebouças
Frase da coluna
"O Brasil quer ser um país turístico, com um ambiente capaz de abrigar grandes eventos esportivos internacionais. Para isso, precisa facilitar os projetos e as obras que permitam maior e melhor acessibilidade. E nós podemos ajudar a resolver isso reduzindo a burocracia".
De Luiz Antônio Pagot, mantido na direção geral do DNIT, por Alfredo Nascimento, que retornou ao Ministério dos Transportes.
Fonte: Estadão