Empresas de engenharia reconhecem o momento crítico, mas afirmam que os prazos serão cumpridos;
projetos abrangem diversas áreasAugusto Diniz – Rio de Janeiro (RJ)
O presidente-executivo da entidade, Luiz Fernando Santos Reis, aponta as transformações da cidade e os motivos do otimismo. Ele reconhece que pouco foi feito nas cidades-sede do Mundial de futebol no âmbito da mobilidade urbana, mas que no Rio de Janeiro a situação é outra. “Aqui foi feito muito mais até por conta da Olimpíada”, diz. “A cidade realmente está se reestruturando”.
Luiz Fernando relaciona os projetos dos governos estaduais e municipais realizados ou que estão sendo executados – que atestam os avanços. “A despeito do atraso por conta de falta de licenças, recursos e inconsistências de projeto, a inauguração do Arco Rodoviário (realizada em julho último) tem uma importância extrema”, cita. A obra teve sua primeira fase concluída ligando o porto de Itaguaí, Rodovia Dutra e a BR-040, o que aliviará o tráfego de caminhões pesados pela cidade do Rio. Mas ainda falta realizar a duplicação do trecho entre a BR-040 e a BR-101, concluindo o projeto de contorno rodoviário da Baía de Guanabara.
“Outra importante obra do governo do estado é o metrô (Linha 4, ligando Ipanema a Barra da Tijuca). Tem um significado enorme”, menciona. O executivo aponta também volumes grandes de obras dos programas Bairro Novo e Asfalto na Porta, que envolvem serviços de urbanização, drenagem e saneamento em numerosas regiões.
“Eles atingem regiões mais pobres do Grande Rio e também alguns municípios do Norte Fluminense. São ruas de terra, que não têm drenagem, rede de água pluvial, e o governo fez um pacote de obras, incluindo asfalto, iluminação, drenagem”, conta. “Existem ainda intervenções para reurbanizar favelas, como na Rocinha, Complexo do Alemão e Providência”.
O presidente-executivo da Aeerj conta que a Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) deverá dar início à construção de um novo sistema produtor de água tratada, denominado Complexo Guandu 2, estimado em pelo menos R$ 3,4 bilhões e que irá atender especialmente a Baixada Fluminense.
No âmbito da prefeitura, Luiz Fernando explica que as obras caminham em três vertentes: mobilidade urbana, equipamentos olímpicos e outras. “As características dos BRTs do Rio, por exemplo, são que eles vão cruzar transversalmente o município, fazendo integração com os trens e o metrô. Essas obras de mobilidade são fundamentais para o desenvolvimento do município”, diz, lembrando que dois já foram entregues (BRTs Transoeste e Carioca, este último ainda funcionando parcialmente) e um está em obras (BRT Transolímpica).
No centro da cidade, o engenheiro aponta a parceria público-privada (PPP) que se tornou referência no País no desenvolvimento urbano: o Porto Maravilha. “O centro do Rio de Janeiro estava abandonado. Com a implantação do Porto Maravilha, começou a ter um novo desenvolvimento da cidade, com a retirada da perimetral e construção da Via Binária. Vão nascer vários empreendimentos imobiliários. Nesse centro vai ter ainda o Veículo Leve sobre Trilhos (esta obra ainda não começou) que vai substituir todos os ônibus que circulam na região, se interligando ao metrô, ao aeroporto Santos Dumont, às barcas e ao porto. Trata-se de uma região que será o maior polo turístico ao lado da Olimpíada”, afirma.
Além das obras do Parque Olímpico e da Vila dos Atletas, Luiz Fernando cita outras obras pulverizadas, mas com enorme impacto social. “São as obras do programa Bairro Maravilha, com investimento de R$ 2 bilhões: incluem pavimentação, urbanização, saneamento e praças públicas. Ela está em curso principalmente na Zona Oeste”, pontua.
O Parque Madureira é o maior exemplo dessa intervenção. O projeto entra na segunda etapa e é uma área de lazer semelhante ao Aterro do Flamengo.
Por fim, Luiz Fernando menciona a obra de ampliação do viaduto do Joá, ligando a Zona Sul a Barra da Tijuca, ao custo estimado em R$ 457 milhões. A intervenção durará dois anos e os trabalhos já começaram.
Rio 2016
“Não tenho dúvida de que em 2016 teremos um Rio diferente. Prazos estão apertados, mas o governo tem feito um esforço enorme para resolver isso. Enfrentamos problemas da burocracia brasileira e a incompetência. Os financiamentos são um parto para ser liberados. A culpa disso às vezes recai sobre o empreiteiro, mas não é dele essa responsabilidade sobre os recursos”, comenta.
Luiz Fernando avalia que o Porto Maravilha está dentro do prazo e que alguns equipamentos olímpicos estão um pouco atrasados. “O Rio de Janeiro é um canteiro de obras. As obras devem ficar prontas porque elas se interligam. Temos certeza de que cumpriremos o prazo”, diz.
Despoluição da Baía
A despoluição da Baía de Guanabara é considerada uma questão quase insolúvel para 2016. “É o calcanhar de Aquiles. É o desafio mais chocante e de mais difícil solução a curto prazo. É uma baía maravilhosa, mas por mais que se faça, não dará para melhorar muito. A Baía de Guanabara é um desaguadouro de todo o esgoto da Baixada Fluminense. Tem-se aí um problema sério e
muito amplo ”, reconhece Luiz Fernando.
O presidente-executivo da Aeerj diz que os recursos são insuficientes e que apenas 40% do esgoto da capital é tratado, sendo parte despejado na Baía de Guanabara. O programa de despoluição, de acordo com ele, sofre problemas de gestão, falta de integração, projetos deficientes e padrões técnicos inconsistentes.
Engenharia carioca
A Associação das Empresas de Engenharia do Rio de Janeiro (Aeerj) acredita que o momento deve valorizar o setor no Estado. “Em função do desalinhamento político de décadas entre os governos federal, estadual e municipal, a cidade sofreu uma penúria de obras. Na hora que ressurgiram as grandes obras, elas foram parar nas mãos de empresas de fora do Estado. Mas o mercado local começou a florescer por meio de obras menores. Passamos a criar um novo patamar de empresas”, afirma.
A Aeerj avalia que o Estado ficará forte na hora em que tiver uma engenharia própria forte. “Depois que o boom sair daqui para outro lugar, como as empresas que estão no Rio vão fazer? Elas têm que estar fortes para enfrentar isso”, diz.
Para atender ao novo momento do setor no Rio, a Aeerj tem feito cursos e treinamentos para empresas locais participarem de licitações em consórcios e montar orçamentos, além de divulgar junto aos governos que no Rio há empresas preparadas para executar obras.
“Em outra vertente, a Aeerj está defendendo o respeito aos contratos. A gente luta há anos para que o governo melhore a gestão da obra pública”, conta. De acordo com ele, as empresas de menor porte dependem de os contratos serem honrados. “As obras estão criando um grupo de engenheiros de excelência. Muito disso vai permanecer por aqui”, conclui.
Investimentos em OBRAS NO RIO DE JANEIRO (EM MILHÕES DE R$)
Áreas olímpicas |
|
Obras |
Valor |
Parque Olímpico na Barra da Tijuca |
1.879,4 |
Estádio do Maracanã e entorno (estádio concluído) |
1.031,8 |
Complexo Esportivo de Deodoro |
850,2 |
Urbanização de comunidades de baixa renda |
|
Obras |
Valor |
Programa Bairro Maravilha – cidade do Rio de Janeiro |
1.319,1 |
Programa Bairro Novo – região metropolitana |
964,1 |
Programa Asfalto na Porta – todas as regiões do Estado |
953,9 |
Novas estradas |
|
Obras |
Valor |
Arco Metropolitano/RJ-109 (já inaugurado) |
1.900,0 |
Via Light/RJ-081 – São João de Meriti/Rio de Janeiro |
474,3 |
Saneamento |
|
Obras |
Valor |
Esgoto sanitário na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro |
2.900,0 |
Controle de enchentes na Bacia do Rio Maracanã – cidade do Rio de Janeiro |
309,9 |
Água e Esgoto para municípios da Baixada Fluminense |
981,7 |
Recuperação das lagoas da Barra da Tijuca e Jacarepaguá – cidade do Rio de Janeiro |
674,4 |
Fonte: Banco de Dados da Associação das Empresas de Engenharia do Rio de Janeiro (Aeerj)
Fonte: Revista O Empreiteiro