A Ponte de Laguna (SC) utilizou o sistema OPS, proporcionado pela portuguesa Berd, também empregado em estrutura do Rodoanel
Engenheiros estruturais deixaram claro, no 8º Congresso Brasileiro de Pontes e Estruturas, que prosseguem buscando soluções inovadoras e especificando novos materiais e equipamentos. O público, cerca de 200 participantes, incluindo estudantes, ouviu e anotou
Nildo Carlos Oliveira
As palestras cobriram temas tais como inovações em projeto, recuperação e reforço de pontes, a concepção, cálculo e construção das arenas, velódromo e de outros espaços para os jogos olímpicos do ano que vem; o Museu da Imagem e do Som (MIS) do RJ e outras estruturas. E houve palestras sobre o uso dos sistemas ABC e OPS, este utilizado na Ponte da Laguna (SC), que, segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), deve ser entregue ao tráfego no dia 30 deste mês (junho).
Augusto Guimarães Pedreira de Freitas, presidente da Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural (Abece), que promoveu e organizou o evento, informa que o comparecimento daquele público, constituído de titulares de escritório – e também de estudantes – foi muito representativo da importância desse segmento da engenharia brasileira. E, as palestras, abertas e pormenorizadas, constituíram aulas de engenharia em cima de projetos efetivamente em execução. Salienta que a presença de profissionais de outras regiões brasileiras mostra que as coisas não estão acontecendo apenas no Sul ou Sudeste e que isso enriqueceu a massa crítica do encontro.
“Agora”, disse ele, “é aproveitar esse momento e nos prepararmos para o 18º Encontro Nacional de Engenharia e Consultoria Estrutural (Enece), a realizar-se em São Paulo nos dias 8 e 9 de outubro, ocasião em que ocorrerá também a entrega do 13º Prêmio Talento da Engenharia Estrutural, iniciativa da Abece e da Gerdau”.
As palestras
O engenheiro Atorod Azizinamini, professor do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Florida International University, fez palestra sobre o sistema construtivo ABC (Accelerated Bridges Construction), muito utilizado na construção de pontes e de outras obras nos Estados Unidos. Ele está difundido na Europa e começa a ser adotado também por algumas construtoras brasileiras.
O sistema incorpora estruturas pré-fabricadas de concreto, significa melhoria em termos de prazo e custo final e oferece condições consideradas seguras tanto aos usuários quanto aos trabalhadores que operam na construção de obras rodoviárias. No ano passado, em palestra durante a Brazil Road Expo, realizada em São Paulo (SP), o engenheiro Júlio Timermann, presidente do Instituto Brasileiro do Concreto (Ibracon), relatou que, nos Estados Unidos, pontes e viadutos puderam ser ampliados, segundo projetos específicos, ao longo de apenas duas semanas de obras, em razão do uso do sistema, que considera muito eficiente.
O engenheiro Diogo Graça Moura, vice-presidente da Berd, empresa de origem portuguesa, apontada como pioneira na adoção de novas soluções e métodos construtivos para pontes e viadutos, falou sobre o Sistema OPS, empregado no Rodoanel “Mário Covas” e utilizado, com êxito, na construção da Ponte de Laguna. Nesse caso, a Berd disponibilizou a treliça lançadora LG 50/100, especialmente concebida para aquela obra. Funcionando com aquele sistema, ela foi usada na construção dos 49 vãos correntes, executados um a um em ciclo semanal.
Matéria publicada pela revista O Empreiteiro (OE 535, outubro de 2014), salienta que a treliça, importada de Portugal, tem, dentre outras, as seguintes vantagens: reduz o prazo em relação a métodos tradicionais; funciona com menor número de trabalhadores na montagem, uma vez que é totalmente mecanizada; proporciona segurança aos operadores e traz resultados compensadores do ponto de vista de custo final.” A Berd, hoje, segundo o vice-presidente da empresa, está presente não apenas em Portugal e no Brasil; está também na Espanha, França, Alemanha, Polônia, Romênia, Estados Unidos, Rússia, Turquia, República Checa, Eslováquia, Índia, Colômbia, Peru e Venezuela.
As arenas, o velódromo e o MIS
Foi muito ilustrativa, do ponto de vista da apresentação das soluções técnicas, a palestra do engenheiro João Luís Casagrande, que falou sobre o projeto e construção das três arenas cariocas, o velódromo e outras instalações destinadas à Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro. No conjunto, são obras que podem resultar em importante legado para a cidade.
O velódromo, segundo o engenheiro, é uma arena com um eixo simétrico diferenciado, postado na direção nordeste-sudeste e cuja arquibancada tem estrutura pré-moldada e cobertura metálica. Os sistemas construtivos foram previstos considerando a qualidade, a vida útil e o cronograma. Com relação às três arenas do Centro Olímpico de Treinamento (COT), que durante os jogos abrigarão modalidades tais como basquete, caratê, judô etc., a empresa Casagrande Engenharia desenvolveu tanto o projeto das estruturas pré-moldadas quanto o projeto das fundações.
Dentre as diversas estruturas, uma será temporária. Trata-se do parque aquático. Assim que os jogos olímpicos acabarem, essa edificação deverá ser desmontada. A estrutura metálica será desparafusada e os diversos elementos poderão ser reaproveitados pela prefeitura carioca em outros projetos.
A engenheira Suely B. Bueno (escritório JKMF) e o engenheiro Carlos Britez (diretor do escritório do professor Paulo Helene – PhD Engenharia) discorreram sobre a estrutura do Museu da Imagem e do Som (MIS), do Rio de Janeiro, construído pela Rio Verde Engenharia e Construções na avenida Atlântica, a 50 m da praia de Copacabana.
A tipologia da estrutura acentua três setores diferenciados: o primeiro corresponde a uma superestrutura executada com concreto armado em forma convencional e um concreto de alta resistência (50 MPa), com slump convencional; o segundo é uma superestrutura de concreto armado protendido com forma nervurada, utilizando também concreto de alta resistência e, o terceiro, corresponde a uma superestrutura de concreto armado com forma especial prismática, empregando-se concreto aparente autoadensável de alta resistência, cuja taxa de aço é superior a 400 kg/m³ em alguns elementos estruturais.
Dentre outras palestras chamou atenção a que foi feita pelo engenheiro José Afonso Pereira Vitório, sócio e diretor do escritório Vitório & Melo Projetos Estruturais e Consultoria, enfocando o tema da conservação, segurança estrutural e reforço de pontes rodoviárias de concreto. O engenheiro disse que inspeções periódicas em pontes e viadutos, em especial em áreas urbanas, são sistematicamente negligenciadas pelo poder público, apesar de reiteradamente recomendadas. No Brasil não faltam leis prevendo a exigência de inspeções, mas nenhuma chega a ser cumprida. Ao final fez uma crítica contundente: “Aqui no País as reformas raramente são feitas; no geral acabam postergadas, mesmo quando absolutamente necessárias. É que reforma não dá votos; o que dá votos são obras novas”.
Outras palestras importantes: Projeto da obra BMX – Parque da Cidade (Francisco Paulo Graziano); São Paulo Corporate Tower (Ricardo Leopoldo França e Júlio Fruchtengarten); Evolução dos métodos de análise, dimensionamento e detalhamento no projeto de obras de arte especiais (Ademir Ferreira dos Santos); Museu do Amanhã (Fabrício Gustavo Tardivo) e Projeto da Ponte Salvador-Itaparica (Catão Francisco Ribeiro). O projeto dessa obra será enfocado na edição 543 (julho) desta revista.
Fonte: Revista O Empreiteiro