Odebrecht completa duas décadas de México

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Várias obras de infraestrutura, de complexidades impostas pelas especificidades locais,
e empreendimento petroquímico a cargo da Brasken, marcam os 20 anos de presença da empresa
em território mexicano

Nildo Carlos Oliveira – Cidade do México

“Com La confianza y el trabajo de Odebrecht em Mexico, nuestro pais sigue fortaleciendo su infarestructura energética, su industria petroquímica y, sobre todo, su desarrollo…” – Palavras de Bruno Ferrari, que representou o então presidente Felipe Calderón na festa de celebração dos 20 anos da Odebrecht no México.

Luiz Weyll, diretor superintendende da Odebrecht no México

“Brasil e México estão evoluindo numa relação bilateral com uma visão de integração da América Latina”. De Luiz Weyll, diretor superintendente da empresa naquele país.

Não foram 20 anos fáceis. O México é um país em que é difícil entrar e mais difícil ainda de sair. Sobretudo, porque ao longo desse período a empresa brasileira construiu uma posição consistente na infraestrutura, na petroquímica e na economia local, executando empreendimentos que a credenciam para ampliar suas atividades nas mais diversas regiões mexicanas.

Na festa de celebração desses 20 anos, ocorrida na edificação que por volta do ano de 1520 abrigou a Ermida de los Mártires, hoje conhecida como ex-Convento de San Hipólito, no centro da Cidade do México, a empresa montou uma exposição das obras realizadas no país, mostrando a diversidade de projetos que ali tem realizado.

E foi nessa cerimônia que Luiz Weyll, ao agradecer ao representante do governo mexicano o reconhecimento oficial pelas obras executadas, disse que a história da empresa brasileira no país pode ser contada em duas etapas: a fase pioneira, que foi de 1992 a 2008, “quando tivemos uma atuação voltada exclusivamente para a área de construção e prestação de serviços”, e a etapa que começou em 2008, quando ela firmou posição na área petroquímica, por intermédio da Brasken.

Nesse período, a empresa adquiriu, segundo ele, uma experiência muito forte na prática do que chamou de “soluções integrais de projetos de infraestrutura” – são empreendimentos em que ela atua por inteiro, aplicando cada uma das soluções concebidas na fase de projeto, planejamento, montagem de canteiro, execução e entrega da obra, ao lado das soluções da engenheira financeira que viabiliza os projetos. Em sua visão, também corroborada por Luiz Mameri, presidente da Odebrecht Internacional, tal estratégia se projeta para além das obras, buscando uma interação com os trabalhadores e com os demais agentes da sociedade das regiões em que opera.

Tudo começou em Sinaloa

A empresa começou a marcar sua presença no México, com a construção de uma hidrelétrica na região de Huítes, estado de Sinaloa, região que em seus primórdios esteve povoada por uma população que, embora possuísse diversidade linguística, nunca deixou de manter uma unidade dialetal comum. Depois dessa obra, a empresa executou projetos que somaram mais de US$ 3 bilhões e empregou mais de 14 mil pessoas ao longo de duas décadas. A seguir, vamos focalizar algumas das obras da empresa.

Em Michoacán. O que ocorreu nesta região do estado de Michoacán, que registra um período chuvoso concentrado em quatro meses do ano, com os demais meses apresentando precipitações consideradas inexpressivas, foi literalmente um divisor de água. Durante muitos anos prometia-se uma solução para o abastecimento de água de irrigação no distrito de Rego General Lázaro Cárdenas, município de Múgica. Mas a promessa nunca era cumprida.

Jorge Gavino, engenheiro

De promessa em promessa, vários anos foram se passando, até que a Odebrecht conquistou o contrato para realizar as obras. O gerente de contrato da empresa brasileira, Jorge Gavino, diz que o projeto previa a construção de uma represa com barragem de 89 m de altura e 268 m de comprimento executada em CCR (concreto compactado com rolo). Outra parte da barragem, com 94 m de comprimento, seria construída com materiais graduados e núcleo de argila. O projeto previa também a entrega de uma casa de bombas e de dois canais revestidos de concreto: um com 35,5 km de extensão na margem direita, e outro com 11,45 km de extensão na margem esquerda.

O projeto foi elaborado para desenvolver socioeconomicamente a região, favorecendo a produção agrícola nos ejidos (minifúndios explorados pelo sistema de cooperativas) mediante o fornecimento regular de água para irrigação em 95% do ano.

A barragem integra um conjunto de obras que favorecem a irrigação, objeto há muitos anos de uma reivindicação de pequenos proprietários locais

Quando a empresa começou a detalhar o projeto, descobriu um “buraco” na análise dos vários anos do regime hidrológico do curso d´água que passa pela região. Foi detectado que naquele período ocorrera uma cheia da ordem de mil m³ por segundo. Em vista disso, o projeto deveria ser alterado para prever um vertedouro que eventualmente desse vazão às águas na hipótese de acontecer ali uma cheia semelhante àquela que deixara de ser mencionada no período analisado.

Como uma barragem com material graduado não comportaria vertedouro do porte então especificado, a empresa estudou outros modelos, optando, ao final, por fazer uma barragem em CCR onde o vertedouro foi construído. Na margem direita a barragem prosseguiria sendo construída com material graduado. Outras obras previstas no projeto são as seguintes:

• Construção de um túnel escavado na margem direita da barragem para o desvio das águas. Foi revestido de concreto e tem 406 m de extensão. Possui uma seção em forma de arco retangular com 8 m de largura e 8 m de altura.

• Para as trajetórias de descarga foi construído vertedouro de soleira livre (sem comportas). O dimensionamento considera o fluxo de inundação de 10 mil anos (vazão decamilenar de 5,124 m³/s).

• A central hidrelétrica tem capacidade instalada de 4,32 MW. Opera com uma turbina tipo Francis de eixo horizontal e usa o fluxo total de 14,5 m³/s, sendo 12,5 m³/s de vazão de irrigação e 2 m³/s de vazão ecológica.

• A 8 km do local da barragem há uma estrada com uma ponte de pedra, que foi encoberta pelas águas do reservatório. Para o acesso da população foi feita uma elevação da estrada existente, juntamente com a construção de uma ponte de 150 m sustentada por vigas pré-fabricadas.

Em Minatitlán. Nessa região do estado de Vera Cruz, a Odebrecht modernizou e ampliou, para a Petróleos Mexicana (Pemex), a refinaria General Lázaro Cárdenas. As obras foram executadas em consórcio com a empresa espanhola Técnicas Reunidas (TR) e pelo Grupo Rio San Juan, do México, mediante contrato nos moldes EPC (Engineering, Procurement and Construction). Os serviços incluíram detalhamento, suprimento, construção, montagem e arranque das plantas de produção de hidrogênio, diesel naftas, aminas, recuperação de enxofre e coque retardado. A empresa brasileira desenvolveu esses trabalhos de engenharia em dois dos seis blocos previstos no projeto, no valor aproximado de US$ 1 bilhão.

Em Coatzacoalcos. Uma joint venture formada pela Odebrecht (40%), Technip (40%) e ICA Fluor (20%) vem permitindo o cumprimento de um contrato no valor de US$ 2,7 bilhões referente às etapas das obras de engenharia do projeto Etileno XXI, na região de Coatzacoalcos/Nanchital, estado de Vera Cruz.

O empreendimento, segundo a diretoria da Brasken, deverá duplicar a produção de etileno (de alta e baixa densidade) do grupo. Este deverá conquistar a posição de terceiro maior produtor mundial, depois que a petroquímica entrar em operação, o que se prevê para o 1º semestre de 2015.

O complexo, que a revista O Empreiteiro visitou, inclui as seguintes instalações: cracker de eteno obtido de etano, que deverá produzir 1 milhão de t/ano utilizando tecnologia da Technip; duas plantas de polietileno de alta densidade; uma planta de polietileno de baixa densidade; instalações de armazenagem, tratamento de resíduos e utilidades, incluindo uma usina de cogeração de ciclo combinado de energia e vapor de 150 MW; uma plataforma logística multimodal para o transporte de 1 milhão de t de polietileno/ano utilizando trens e caminhões e edificações administrativas, de manutenção, apoio e sala de controle.

Na área, o volume de movimento de terra para a infraestrutura das unidades é da ordem de 8 milhões de m³

A divisão de infraestrutura da Odebrecht México começou a preparação do terreno destinado à área industrial, no segundo semestre de 2011. De modo que, quando visitamos as obras, em fins de 2012, pudemos ver que elas já progrediam com muita velocidade. A área é da ordem de 2 milhões de m², dos quais 1,1 milhão será ocupado pelas diversas unidades da petroquímica.

O volume de movimento de terra previsto para a infraestrutura das unidades é de aproximadamente 8 milhões de m³: 25% deveriam corresponder aos aterros e 75%, aos cortes. Havia, contudo, ao menos três grandes dificuldades imediatamente colocadas para o andamento desses trabalhos e que poderiam comprometer o cronograma: primeiro, o prazo, considerado exíguo; segundo, o regime de chuvas, eventualmente intensas, aliado a outros fatores de risco, como furações e mesmo terremotos; e, terceiro, a má qualidade do solo.

As chuvas e a má qualidade do solo foram algumasinterfaces imediatamente detectadas nas tentativasde se encontrar a solução adequada

Tendo em conta especial a natureza do solo, a Odebrecht mexicana contratou a GeoCompany, empresa brasileira de atuação internacional no segmento de geologia, geotecnia e meio ambiente. Ela fez a avaliação do terreno e detectou, ali, rochas expansivas (lodolitas) e solos moles, originários de alteração e intemperização daquele tipo de rocha.

Diante daqueles fatores, contratante e contratada empreenderam estudos tendo em conta as soluções para melhorar o solo onde seriam construídas as unidades. Viram que seria necessário executar aterros com até 10 m de altura sobre argila mole e de espessura variável (atingindo até 18 m), em uma área superior a 100 mil m².

Dentre as diversas soluções para fazer aqueles serviços, a empresa contratada examinou a possibilidade de optar pela execução de colunas de brita, lajes de concreto armado estaqueadas, a aplicação de massive soil mixing (mistura de argila mole com cimento), jet grouting e drenos verticais profundos.

Ao final, a opção foi para o uso de drenos, com a aplicação de sistema a vácuo para a aceleração dos recalques. Esta solução se revelou a mais eficiente porque cada dreno poderia ser instalado em 10 minutos; era cinco vezes mais econômica do que a execução de colunas de brita e dez vezes mais econômica do que o uso de jet grouting. Além disso, a solução atenderia aos requisitos do cronograma.

A solução preparatória do solo, com uso de drenos aplicados a vácuo, resultou e ciente

Foi com a apresentação dessa solução que a GeoCompany, ao final de uma concorrência internacional, da qual participaram outras empresas brasileiras, mexicanas e francesas, acabou selecionada para elaborar o projeto executivo e realizar o acompanhamento técnico dos trabalhos propostos. E a empresa Tecnogeo-Stabtecno, de São Paulo, foi contratada, também, para a execução dos drenos verticais profundos e a operação do sistema a vácuo.

Há aterros com até 10 m de altura sobre argila mole

A solução na prática

Roberto Kochen, diretor da GeoCompany, informa que o sítio para a implantação do projeto Etileno XXI impôs dificuldades que ele julga inéditas em obras desse tipo. Havia a necessidade de instalar e colocar os drenos em funcionamen
to em menos de dois meses; tinha-se de acelerar a ocorrência de recalques, com a previsão de que, caso eles viessem a acontecer a longo prazo, fossem de pequena magnitude, e trabalhava-se para se obter uma plataforma estável, capaz de suportar fundações diretas de até 4 m². O recalque deveria ser inferior a 25 mm.

O acompanhamento desses serviços teria de ser diário e rigoroso, empregando-se para isso um sistema de instrumentação sofisticado, tudo monitorado pela equipe da GeoCcompany e pela equipe de operação da Tecnogro.

Segundo Kochen, a maior vantagem do sistema de sobrecarga de aterros é que ele não interfere no cronograma da construção. Usualmente, nesse tipo de obra, coloca-se uma sobrecarga de aterro que ali deve permanecer por vários meses até que o processo de adensamento se desenvolva o suficiente para que ela possa ser removida.

Roberto Kochen, diretor da GeoCompany

Com os drenos a vácuo, a sobrecarga começa a atuar assim que as bombas são ligadas. Depois que o aterro chega à cota especificada, outras atividades construtivas, como drenagem, abertura de acessos e fundação profundas, podem ser iniciadas. No caso da plataforma do cracker do Etileno XXI, as fundações profundas das edificações mais pesadas empregam estacas tipo hélice, que começaram a ser executadas simultaneamente à conclusão do aterro.

Além das sondagens usuais à percussão simples, também foram realizados no local ensaios de penetração de cone (CPT e CPTU). Até se contratou uma empresa internacional, baseada em Houston, Texas (EUA), para realizar ensaios de palheta em argilas moles, que a rigor não são usuais no México, uma vez que ali não há equipamento apropriado disponível para esse tipo de procedimento.

O resultado dos trabalhos para deixar o terreno apto à construção das unidades da petroquímica já se observa no canteiro das obras, quando ali estivemos e fomos recebidos pelos engenheiros Arnoldo Perez, assessor técnico da Brasken/Idesa, e Carlos Guilherme dos Santos Castro, gerente de construção. As obras de infraestrutura e montagem estavam avançando segundo as expectativas da Odebrecht Industrial, Technip, da Itália, e ICA Fluor, do México.

Fonte: Padrão


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