O apagão de quase 30 anos nas obras públicas – situação de que o País vem se recuperando e cicatrizando feridas na última década – gerou distorções profissionais profundas. Engenheiros viraram tudo, até suco, e muitas inteligências que não conseguiram se orientar para produzir benefícios sociais e econômicos em outras áreas, acabaram aniquiladas. Esse tipo de apagão foi um crime perpetrado contra tudo, em especial contra o País.
Quando, no começo de 2001, começou a haver uma tímida tentativa de recomposição das possibilidades de se construir obras, ou retomá-las, a dificuldade nas empresas era encontrar mão de obra qualificada e juntar as peças dos antigos quadros técnicos que haviam sido desmontados.
Jovens, que haviam sido desmotivados na área da engenharia e que ora recebiam acenos para se dedicarem aos estudos em tal campo, se mostravam reticentes. Sobretudo, consideravam sacrifício trabalhar em canteiros de obras situados em regiões remotas. E, profissionais antigos, alijados das obras em meados dos anos 80, já estavam em outros afazeres, em suas profissões ou fora delas. Vários deles se encontravam até no exterior. Nessas circunstâncias, como reuni-los, reorientá-los e fazê-los acreditar que dessa vez as obras teriam continuidade e eles não precisariam mais se dispersar por esse mundão afora para continuar sobrevivendo?
Foram tempos difíceis e muitas carreiras acabaram truncadas, enquanto outras morreram no nascedouro.
Leio hoje que o emprego está crescendo no Brasil, em especial na faixa acima dos 50 anos. Ele se distribui em segmentos tais como educação, saúde e administração pública, indústria, comércio, construção etc. Que bom. Os mais velhos operam com a experiência, que é um valor que os anos vão sedimentando. Mas, em um País jovem como o nosso, a oferta de trabalho aos mais velhos não pode ser um meio de aviltamento salarial, nem uma forma de inibir a oportunidade da ocupação da mão de obra dois mais jovens. A oportunidade de crescimento tem de ser para todos.
Fonte: Estadão