Os movimentos sociais protestam em cidades sem governo

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Na recente “greve surpresa” dos ônibus urbanos em São Paulo, digamos que 500 ônibus tenham sido paralisados. Isso significa que 500 motoristas e mais 500 cobradores tiraram os veículos das garagens e os estacionaram nas principais vias paulistanas para bloqueá-las.
 

Para eleger aqueles mil trabalhadores, é de imaginar que o triplo desse contingente tenha sido convidado para participar do movimento. Cerca de 3 mil motoristas e cobradores sabiam, portanto, que haveria a paralisação. E nenhuma informação sobre isso chegou à prefeitura, ao governo estadual e a órgãos de segurança pública?

 

Nesse caso é de considerar que a capital paulista virou uma terra de ninguém. Motoristas de ônibus podem paralisá-la quando quiserem. E o mesmo poderão fazer outras categorias profissionais.

 

Os protestos recorrentes de rua nas cidades brasileiras mostram a ausência de governo. Em tempo de eleições, ninguém quer tomar atitudes consideradas impopulares. Nessa linha de raciocínio, 100 manifestantes podem parar a cidade, porque os direitos dos manifestantes estão acima dos direitos de quem precisa circular e trabalhar. E a prefeitura e o governo estadual cruzam os braços porque não se dispõem a intervir.

 

Por conta disso, uma sensação desconfortável começa a tomar corpo. Os cidadãos, que pagam aluguel, IPTU, escola para os filhos, segurança privada e toda ordem de impostos e taxas, ficam à mercê do desgoverno. Independentemente dos que simpatizam com as causas dos sem-teto, dos professores que efetivamente são mal remunerados, dos motoristas de ônibus, etc., é de se perguntar: a quem os que se sentem prejudicados e lesados podem recorrer, diante desse quadro generalizado de omissão?

 

Ao que parece, o princípio da autoridade — os governantes que deveriam zelar pela normalidade das cidades brasileiras — se esfacelou. Se a sensação de insegurança urbana era algo insuportável em tempos recentes, a anarquia provocada pelas manifestações sem aviso prévio transformou nossos centros urbanos em terra de ninguém. 

 

Podemos tentar buscar a origem desse fenômeno social na atuação histórica dos partidos políticos que se dizem a favor dos sem-direito para ganhar eleições. Depois, influenciam as três instâncias de governo a apoiar financeiramente esses grupos. Quando as autoridades, que têm o dever de zelar pela ordem pública, são as mesmas que proporcionam aquele apoio aos movimentos sociais, alguns deles mais legítimos que outros, temos de constatar que o País se aproxima da beira do abismo.

 

Os eleitores precisam exigir dos candidatos às eleições presidenciais e aos governos estaduais que declarem explicitamente se têm capacidade de manter a ordem pública; se vão combater a insegurança urbana ou vão deixar que tudo fique como está para ver como é que fica; se vão melhorar a infraestrutura de transportes, saúde, escolas e saneamento etc.; ou se vão permitir que a população continue literalmente sem contar com esses serviços; se vão prosseguir esperando pelas chuvas; ou se tomarão decisões para contratar empresas de engenharia para projetar e construir novos sistemas de abastecimento de água; se vão mudar o modelo do setor elétrico, para atrair investimentos privados; ou se vão continuar a se valer das termelétricas de alto custo, enquanto prometem descontos nas contas de luz da população; ou se estarão dispostos a recuperar a saúde financeira da Petrobras, eliminando a perniciosa influência política na gestão da estatal.

 

Achamos que, para o governo, em suas três instâncias, chegou a hora das ações de afirmação soberana. Mas por escrito e com firma reconhecida e registrada em cartório. Os brasileiros não confiam mais, tão fartos estão de conversa fiada.

 

Fonte: Revista O Empreiteiro


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