Na história recente do Brasil, nada melhor para abrir os cofres públicos e liberar verbas para obras de infra-estrutura do que um ano eleitoral. A atuação do Ministério das Cidades é um bom exemplo disso. Criado para administrar políticas urbanas e demandas de prefeitos, suas verbas se multiplicaram, somando, de janeiro a agosto deste ano, o equivalente ao dobro do desembolso de todo o ano passado. Nesse período, nada menos que R$ 3,2 bilhões foram liberados para obras e projetos de saneamento, habitação popular e urbanização de assentamentos, entre outros.
Os transportes públicos figuram entre os campeões em volume de recursos. Através do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), deverão ser liberados até o fim de 2010 – ano das eleições presidenciais – cerca de R$ 1,2 bilhão para os projetos dos metrôs de Salvador, Fortaleza e Belo Horizonte.
Salvador deve sair na frente, já que o prefeito João Henrique Carneiro adotou como meta de fim de mandato a entrega, até o fim de 2008, dos primeiros seis km do metrôlocal. Já a capital mineira, de acordo com o cronograma de desembolso do PAC, receberá até 2009 um upgrade em seu sistema, com investimentos nas obras da Linha 2, incluindo o projeto de engenharia do metrô subterrâneo.
Para completar, o Metrofor de Fortaleza terá condições, em 2010, de transportar 185 mil passageiros/dia – contra os 30 mil atuais – por conta de investimentos maciços em sua Linha Sul e melhorias na Linha Oeste.
Promessas antigas
As obras do metrô de Salvador começaram em 2000. Naquela época, o projeto previa a construção de um total de 48,1 km de linhas, com 28 estações, transportando 400 mil passageiros/dia. O custo inicial da obra era de cerca de R$ 600 milhões, mas atrasos no cronograma, em razão de greves e paralisações – oito ao todo, de acordo com o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Construção de Estradas e Pavimentação (Sintepav-BA) – denúncias de superfaturamento, ameaça de CPI na Câmara de Vereadores e investigações do Tribunal de Contas da União, não só empurraram a conclusão das obras para frente, como praticamente dobraram o valor do projeto.
A capital baiana há muito carece de um sistema de transporte de massa eficiente. Com suas ruas estreitas e ladeiras, está cada vez mais difícil dar vazão a tantos. Só na Região Metropolitana vivem mais de 3,6 milhões de habitantes (segundo levantamento do IBGE em 2007), que utilizam, de acordo com estimativas de julho de 2008 do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), 531,3 mil veículos, sendo desse total 392, 27 mil automóveis e 6,2 mil ônibus.
Daquele projeto de 2000, o que os baianos verão, realmente, são 12,1 km de vias, da Lapa até Pirajá, com oito estações operando. Para o primeiro trecho (de seis km de extensão, entre Lapa e Acesso Norte), o término das obras está previsto para dezembro deste ano. O trecho seguinte, entre o Acesso Norte e Pirajá, deverá ser entregue até 2010.
O primeiro trecho do empreendimento incluiu as obras do túnel Fonte Nova-Lapa (com 1.400 m de extensão e 32 m de profundidade em maciço rochoso), elevados (erguidos em estruturas de concreto armado e vigas pré-moldadas) e vias em superfície, além das estações Lapa, Campo da Pólvora, Brotas, Bonocô e Acesso Norte e da construção do pátio-auxiliar de manutenção no Acesso Norte. Quando a linha de 12 km estiver concluída, estima-se que será possível transportar 200 mil passageiros/dia.
O Consórcio Metrosal (formado pelas empresas Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e Siemens) é o responsável pelas obras e fornecimento de equipamento e infra-estrutura. As obras físicas já estão praticamente prontas, entrando, agora, na etapa de instalação dos trilhos. Para o primeiro trecho, os trilhos foram importados da China e já estão em Salvador desde 7 de julho. São ao todo1.027 unidades, medindo 24 m e pesando cerca de 1.500 quilos cada, totalizando 1.600 t. Nesse trecho, serão instalados 24 km de trilhos, com duas vias em cada sentido. Após esta fase, será iniciada a etapa de testes do metrô. Para garantir o cumprimento do cronograma, há 1.200 homens trabalhando dia e noite nos canteiros de obras.
Material rodante
Os trens do metrô estão sendo fabricados pela japonesa Mitsui na Coréia do Sul. As primeiras três unidades estão com chegada prevista para o fim de setembro; todos passaram por uma série de testes antes do embarque para o Brasil. Outras três unidades deverão desembarcar em Salvador em novembro deste ano, de acordo com informação da empresa de consultoria Ductor, que gerencia a fabricação dos trens. Cada trem, composto de quatro vagões, tem capacidade para 1.250 passageiros. Orçados em US$ 28,5 milhões, esses trens estão sendo financiados pelo governo baiano.
A Siemens é a responsável pelo fornecimento, instalação, montagem, comissionamento e colocação em operação do Sistema de Alimentação de Energia. São ao todo três subestações retificadoras de tração – outdoor (alta tensão), corrente contínua, serviços auxiliares e sistema de supervisão, comando, controle e proteção; além de oito subestações auxiliares e implantação de 11,9 km de rede aérea auto-tensionada (3.000Vcc).
Engenharia financeira, compromisso político
No total, o governo federal desembolsará, através do PAC, R$ 497,8 milhões até 2010. Uma parte (R$ 26,7 milhões) irá para o sistema de trens urbanos da CBTU – para melhorias e recuperação dos 13,5 km de via e nove estações do trecho Calçada-Paripe, além da construção de quatro passarelas e dois terminais de integração metrô-ônibus, substituição da estrutura metálica da Ponte São João e recuperação de seis Trens Unidades Elétricas (TUEs), mas a maioria dos recursos (R$ 471 milhões) ficará para o metrô. Em 2007, foram investidos R$ 193,1 milhões, incluindo nesse montante R$ 141,4 milhões de saldo a pagar, referente a investimentos empenhados para os anos de 2005 e 2006. Até o ano de 2006 foram investidos R$ 488,6 milhões na construção do Metrô de Salvador.
Um convênio operacional, assinado entre a Companhia de Transporte de Salvador (CTS) e a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) em dezembro de 2007, possibilitou a retomada das obras, garantindo, inclusive, a construção da segunda etapa (Acesso Norte-Pirajá) até 2010. A contrapartida do estado será de R$ 84,7 milhões.
A CBTU participa como representante do Governo federal na implantação do metrô e na modernização do sistema de trens urbanos de Salvador,
em parceria com os governos do Estado da Bahia e a Prefeitura de Salvador, através de convênios para a transferência de recursos necessários às obras e serviços, além de acompanhar e fiscalizar a execução e aplicação dos investimentos.
O presidente da companhia, Elionaldo Magalhães, afirmou que já no início de 2008 havia sido liberado um total de R$ 169 milhões do PAC para o metrô, com previsão de mais R$ 108 milhões durante o resto do ano.
Fonte: Estadão