Para além dos estádios

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Os investimentos nos estádios são apenas a ponta do iceberg. Num relatório apresentado em outubro de 2007 por inspetores da Fifa, foram avaliadas as áreas em que o Brasil terá que investir para celebrar o Mundial-2014, divididas em transporte aéreo, transporte urbano, hospedagem, hospitais, telecomunicações e segurança. Na conclusão do relatório, os inspetores dizem que o Brasil “está bem estabelecido para sediar uma excepcional Copa do Mundo”. Eles, aparentemente, avaliaram de forma positiva até mesmo itens em que o país tem apresentado grandes falhas, como no caso do setor aeroviário.

Para os inspetores, o Brasil tem 18 “bons aeroportos” nas cidades-sedes. Declararam que “a infra-estrutura do sistema de transporte aéreo é um elemento-chave da candidatura”, prevendo, inclusive, deslocamentos em massa de torcedores em um mesmo dia. Os inspetores admitiram, no entanto, que basearam suas análises apenas em informações cedidas pelas próprias cidades. Não houve menção, por exemplo, ao caos que os brasileiros têm vivido nos aeroportos pelo país, com atrasos de dias para conseguir decolar, empresas aéreas fechando as portas, acidentes, “operações-tartaruga” deflagradas por operadores de vôo etc.

Promessas de investimento no setor, há. O aeroporto Tom Jobim, no Rio, por exemplo, deverá receber R$ 100 milhões para se preparar para a demanda da Copa do Mundo, segundo o presidente da Infraero, Sérgio Gaudenzi. Licitações já estão em andamento para obras no Terminal 1, o mais antigo, e prevêem reparos no sistema elétrico, pisos, climatização e banheiros. A Infraero também informa que serão colocados 50 novos aparelhos de raios-X nos principais aeroportos do país, visando agilizar o atendimento de passageiros – os equipamentos serão fornecidos pela Secretaria Nacional de Segurança Pública e serão distribuídos pela Força Aérea Brasileira.

“Temos, hoje, cerca de 120 milhões de passageiros/ano circulando nos aeroportos do Brasil. A estimativa para os próximos seis anos, sem levar-se em conta a Copa do Mundo, é que haja um crescimento de 100% no volume de passageiros”, destaca o vice-presidente da Abdib, Ralph Terra, dimensionando o tamanho do desafio que se tem pela frente para evitar um vexame aéreo em 2014.

Sobre o transporte urbano, o grupo da Fifa identificou “um pequeno número de cidades pretendentes em que será difícil atingir a meta de transporte público”. Os inspetores se referiram especificamente a seis cidades: Campo Grande, Cuiabá, Florianópolis, Maceió, Natal e Rio Branco. Não citaram, entretanto, nada sobre os quilométricos engarrafamentos diários da capital paulista.

O secretário estadual de Transportes Metropolitanos de São Paulo, José Luiz Portella, admite que o trânsito, hoje, na capital, é um dos maiores problemas, porque atinge a todos os paulistanos. “Mas vamos investir no plano de expansão R$ 16 bilhões nos próximos quatro anos. São Paulo vai ser uma cidade transformada”, afirma.

Quanto ao sistema de hotelaria, foi considerado suficiente, na maioria das cidades, com exceção de quatro. A Fifa exige 55 mil leitos disponíveis em todo o país. Só o Rio já tem 54 mil, de acordo com a Secretaria Estadual de Turismo, mas em outras cidade não há estrutura para isso, principalmente no norte e centro-oeste. Para Eraldo Alves da Cruz, diretor da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis, o setor está à altura de um evento como a Copa do Mundo. “Nós necessitamos apenas de capacitação profissional. Este é o grande gargalo que nós temos: apenas 16% da hotelaria nacional treinam seus funcionários e apenas 18% têm funcionários que falam uma segunda língua”, explica.

No item hospitais, a Fifa se preocupou apenas com a garantia de assistência a membros da federação e das delegações. “Cada uma das 18 cidades têm uma extensa rede de hospitais”, referindo-se à rede particular de atendimento.
Sobre telecomunicações, os técnicos da Fifa também consideraram “a rede atual sufuciente, sem necessidade de melhorias”. Mas profissionais de imprensa discordam. José Silvério, radialista esportivo que já atuou na cobertura de vários mundiais de futebol, cita apenas um exemplo, o Maracanã. “No jogo entre Brasil e Equador pelas Eliminatórias da Copa, teve muito jornalista com problema de comunicação, correndo atrás de uma linha telefônica com o jogo prestes a começar para conseguir transmitir as informações”, lembra. “O pessoal lá de fora não tem essa aptidão do brasileiro para dar jeitinho, eles não sabem fazer isso”, adverte.

Por fim, o capítulo sobre segurança teve apenas uma página dedicada ao assunto, onde os inspetores admitem que é uma preocupação em certas cidades-sedes. “Mas a equipe de inspetores acredita que a percepção geral do público é, talvez, pior do que a realidade.”
Fonte: Estadão


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