Passos de gigante

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No ano passado a Vale anunciou seu plano de investimentos de R$ 59 bilhões para os próximos cinco anos. Do total de investimentos previstos, cerca de 80% (R$ 44 bilhões) será aplicado no Brasil. O montante a ser gasto em 2008 é de US$ 11 bilhões, dos quais 73% no Brasil.

Trata-se do maior programa de investimento da história da companhia demonstrando a confianã da empresa na rota de crescimento da economia global, com demanda por minérios e metais puxada pelos países emergentes, principalmente China e índia.

Por isso a companhia concentra seus esforços no seu crescimento orgânico, desenvolvendo amplo portfólio de projetos. Os recursos são aplicados não somente nas áreas de mineração, como também em infra-estrutura de logística e de geração de energia, fundamentais para garantir a competitividade internacional dos seus produtos. São mais de 30 projetos localizados no Brasil, Peru, Chile, Canadá, Austrália, Indonésia, Nova Caledônia, Moçambique e Omã.

Estatal até os anos 1980, de uma atuação mediana, a empresa começou a galgar espaço no mercado internacional após sua privatização e graças ao binômio minério combinado à logística. De feição genuinamente brasileira, começou a se internalizar com aquisições no Brasil e no exterior em outros campos que não somente o minério de ferro, até alcançar a 2ª posição do ranking mundial de mineração.

A ambição da empresa é passar da 2ª para a 1ª a posição no ranking mundial da mineração – hoje ela é a maior exportadora de minério de ferro do mundo, e uma das principais produtoras de manganês e ferroligas. Produz ainda níquel, bauxita, potássio, caulim e cobre. No âmbito nacional, é dona de grande extensão de malha ferroviária do país, com dois terços de toda a movimentação da carga ferroviária, o que lhe dá passos largos na competitividade com outras mineradoras. Os números são astronômicos: são 152 mil funcionários entre diretos e indiretos, e a meta atual de gerar mais 62 mil novos empregos com os novos empreendimentos.

A meta da Vale é dobrar a produção de cobre, expandir a produção de minério de ferro e de níquel, além de desenvolver a produção de alumínio. O plano agrega desde as minerações como a área de logística e as siderúrgicas, as quais a empresa está se empenhando em implantar no país. Outro aspecto desses investimentos é a área ambiental, que tem recursos garantidos de US$ 2,8 bilhões pela primeira vez na história da empresa.

Se por um lado o crescimento chinês tem sido o principal propulsor do desempenho da empresa, por outro a forte demanda mundial e interna deu início a um ciclo de aumento de custos. Em termos de Brasil, a escalada de preços reflete-se na falta de equipamentos, assim como na falta de mão-de-obra e necessidade de treinamento em massa de operários em diversos níveis. Segundo Roger Agnelli, presidente da Vale, essa pressão sobre os custos pode elevar o valor de investimento até R$ 63 bilhões, apesar do esforço da empresa em manter-se dentro do planejamento inicial.

Projetos

Os principais projetos, em valores financeiros, são Carajás 130 Mtpa (US$ 1,165 bilhão); Goro (US$ 723 milhões); Onça Puma (US$ 581 milhões); Salobo I (US$ 387 milhões); Alunorte 6&7 (US$ 382 milhões); Itabiritos (US$ 341 milhões); Serra Sul (US$ 145 milhões), juntamente com investimentos em logística – Corredor Sul (US$ 379 milhões) e Corredor Norte (US$ 334 milhões) – e geração de energia, Barcarena (US$ 188 milhões) e Estreito (US$ 165 milhões). O aumento de produção de minério de ferro para 450 milhões de t está baseado na implementação de três grandes projetos: Carajás 130 Mtpa (PA), Carajás Serra Sul (PA)e Maquiné-Baú (MG).

Carajás 130 Mtpa: localiza-se na serra Norte de Carajás, no Pará cuja planta tem capacidade de 100 Mtpa. A expansão adicionará 30 Mtpa à atual capacidade, compreendendo a instalação de uma nova usina, composta de britagem primária e unidade de beneficiamento e classificação, além de ativos de logística (viradores de vagões, pátios e terminais). Sua conclusão está prevista para o segundo semestre de 2009, ao custo estimado de US$ 2,478 bilhões e dispêndios de US$ 1,165 bilhão em 2008.

Carajás Serra Sul: trata-se do maior projeto greenfield da história da empresa foi iniciado neste ano. Criará a capacidade 90 Mtpa, com investimentos de US$ 10,094 bilhões. Em paralelo à ampliação da mina, serão construídos uma usina de beneficiamento com três módulos de 30 Mtpa cada; um ramal ferroviário de 104 km ligando a Estrada de Ferro Carajás (EFC) à Serra Sul; o 4º píer do Terminal Marítimo de Ponta da Madeira, com novos viradores de vagões, carregadores de navios e linha de embarque; e a duplicação de 546 km da EFC. A previsão de conclusão é para o 1º semestre de 2012 e os dispêndios programados para 2008 alcançam US$ 145 milhões.

Maquine-Baú: projeto no Sistema Sudeste, em Minas Gerais, que terá capacidade de produção de 24 MTpa, com volume total de investimento de US$ 2,207 bilhões na mina, planta e ferrovia. A previsão de conclusão é para o 2º semestre de 2011. Em 2008 estão previstos investimentos de US$ 11 milhões.

Itabiritos: projeto de planta de pelotização no estado de Minas Gerais, junto das operações do Sistema Sudeste, com capacidade nominal de produção de 7 Mtpa, e que inclui também uma usina de concentração de minério de ferro e um mineroduto de 5 km de extensão. Sua entrada em operação está programada para o 2º semestre, com investimentos US$ 341 milhões.

Usina VII: é uma nova planta de pelotização que será construída no porto de Tubarão, no estado do Espírito Santo, com capacidade nominal de 7Ptpa, somando ao complexo de 7 plantas existentes. A conclusão está prevista para o segundo semestre de 2010 e o custo total esperado é de US$ 636 milhões, sendo que US$ 95 milhões a serem investidos em 2008.

Tendo em vista a expansão da indústria de aço no Oriente Médio, com usinas a forno elétrico, a CVRD planeja desenvolver o projeto de construção de uma usina de pelotização em Omã, com capacidade para a produção de 9 Mtpa de pelotas de redução direta. O capex previsto é de US$ 546 milhões e o início da operação deve ocorrer no primeiro semestre de 2010.

Estratégia de expansão

A empresa dispõe de alto potencial de crescimento da produ

ção de minério de ferro, em vista do tamanho e qualidade das reservas provadas e prováveis, distribuídos por quatro projetos em andamento: Goro (níquem laterítico em Nova Caledônia); Onça Puma (ferro); Vermelho (ferro) e Totten (mina de níquel no Canadá).

Salobo I: é a primeira fase do desenvolvimento do depósito de cobre do Salobo, em Carajás, no Pará –valor do projeto é avaliado em US$ 897 milhões envolvendo investimentos de US$ 387 milhões em 2008, e conclusão prevista para 2010.

Usina hidro-metalúrgica (UHC): deve operar com toda potência até o final do ano, testando-se em escala industrial tecnologia para o processamento de minérios de cobre mais complexos e que possibilita a produção direta de catodos de cobre. O sucesso na operação da UHC implicará na utilização dessa tecnologia para o desenvolvimento do Salobo II.

A companhia planeja ainda desenvolver o projeto Papomono, na região de Coquimbo, no Chile, ao custo de US$ 90 milhões, com operação marcada para 2009. E está iniciando investimentos no depósito de fosfatos do Bayovar, no Peru. O capex orçado é de US$ 479 milhões, compreendendo uma mina céu aberto e um terminal marítimo.

Os projetos em bauxita e alumina estão orçados em US$ 755 milhões, equivalente a 10,0% do valor do desembolso programado para 2008. Em 2007 a empresa assinou um memorando de entendimento para a construção de uma refinaria (NAR) em parceria com a Hydro – produtor norueguês de alumínio, e que deverá ter participação de 20% – em área próxima a Alunorte, em Barcarena, no Pará. A planta deverá ser desenvolvida em quatro módulos, com capacidade de produção de 1,85 Mtpa de alumina, somando 7,4 Mtpa. O investimento total relativo ao primeiro módulo está estimado em US$ 1,795 bilhão, sendo US$ 88 milhões em 2008. A conclusão está prevista para o segundo trimestre de 2011. Os projetos demonstram a prioridade da empresa na cadeia de produção da bauxita, focada em grandes reservas e logística.

Logística – essencial para os projetos

Mas o aumento da capacidade de produção de minério de ferro passou a depender em escala crescentes de projetos greenfield, implicando em consideráveis investimentos nas ferrovias e portos. Nesse sentido, a Companhia está investindo para dotar a EFC de capacidade de transporte de minério de ferro de 225 Mtpa e a Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM) com 135 Mtpa, simultanemente a expansão de Ponta da Madeira para embarcar 215 Mtpa e Tubarão 120 Mtpa de minério de ferro.

Os planos prevêem a expansão do corredor Norte, que será finalizada no próximo ano, com investimento previsto de US$ 334 milhões em 2008, ampliando a capacidade de transporte de minério de ferro da EFC para 160 Mtpa e a capacidade de embarque de Ponta da Madeira para 107 Mtpa.

O corredor Sul é destinado ao aumento de capacidade da EFVM e do porto de Tubarão e investimentos de US$ 553 milhões, a maior parte em 2008. E investimento de US$ 414 milhões na construção da ferrovia Litorânea Sul, de 165 km de extensão, ligando o Porto de Ubu (ES) a sul de Tubarão. Nesta região está sendo desenvolvido um novo pólo industrial, onde deverá inclusive ser localizada a Baosteel CSV, a usina produtora de placas de aço.

Em 2008 a empresa deu início as obras da usina termelétrica, movida a carvão, de Barcarena, no Pará, com capacidade de 600 MW e previsão de conclusão para o quarto trimestre de 2010. A usina hidrelétrica do Estreito, no rio Tocantins, no qual a empresa tem 30% do consórcio, deve ser concluída até 2008. Também na Indonésia, a empresa participa dos investimentos na usina hidrelétrica de Karebbe, na ilha de Sulawesi.

Mas a Vale conta também com a melhora dos investimentos públicos em infra-estrutura na área de Transportes e Energia, para estender os investimentos a segmentos como a bauxita. “O Brasil precisa gerar mais energia. Seu potencial energético não foi usado”, destacou o presidente Roger Agnelli.

Para dar conta dessa sede de crescimento, a Vale obteve do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) um financiamento de R$ 7,3 bilhões, a serem aplicados nos projetos implantados no Brasil. A empresa também fez acordos com o Japan Bank for International Cooperation (JBIC) e o Nippon Export and Investment Insurance (NEXI), agências japonesas de financiamento de longo prazo, para o financiamento dos projetos – o JBIC poderá disponibilizar recursos de até US$ 3 bilhões e o NEXI proverá seguro de dívida sobre empréstimos de até US$ 2 bilhões. Neste ano, três novos projetos da empresa entraram em operação: a expansão da mina de minério de ferro de Fazendão (MG) no Sistema Sudeste; a terceira planta de pelotização da Samarco (ES), e a planta de processamento de níquel na província de Liaoning, na China. Fazendão dedicará boa parte de sua produção para abastecer a terceira planta de pelotização da Samarco, cuja capacidade 7,6 milhões t anuais de pelotas e foi elevada para 21,6 Mtpa.

Onça Puma

Investimento de US$ 1,43 bilhões, o complexo Onça Puma permitirá o aproveitamento dos depósitos de níquel laterítico localizados nas serras do Onça e do Puma, que se estendem pelos municípios de Ourilândia do Norte, São Félix do Xingu e Parauapebas. O comissionamento está previsto para o final de 2008, com a produção começando em janeiro de 2009. O objetivo da Vale é aproveitar a proximidade com o projeto Vermelho, compartilhando os investimentos em infra-estrutura.

Numa joint-venture com a canadense Hatch, a Progen foi contratada para a prestação de serviços de Engenharia, Suprimentos e Gerenciamento da Construção de Onça Puma, na modalidade EPCM. A tecnologia do processo será a denominada Rotary Kiln Electric Furnace (RKEF), que compreende desde o desenvolvimento de minas a céu aberto até a usina de processamento metalúrgico, com prazo de duração de 36 meses.

O início dos trabalhos ocorreu em 2006 e a previsão de término deve ocorrer em 2009. O escopo Hatch-Progen encontra-se nas seguintes etapas: Engenharia (80%); Suprimentos (60%), Construção e Montagem (40%).

A primeira leva de contratos foi liderado pela construtora Norberto Odebrecht responsável pela terraplenagem, envolvendo 5 milhões de m³ de terra, com contratos no R$ 64,2 milhões. A empresa também ficou responsável pela construção de 1300 unidades residenciais. A CNO está presente ainda na ampliação da mina de ferro de Carajás (PA) e por um trecho de 21 km da Estrada de Ferro, que ligará as minas até o porto de Itaqui (MA).

A empresa paulista Semenge e a paraense Estacon ficaram responsáveis pela construção de estradas que ligam as minas às demais unidades da Vale no Pará. A Semenge já tinha atuado para a Vale desde os tempos
de estatal. Ela ficou responsável pela execução de 82 km de estradas enquanto a Estacon ficou com 80 km, totalizando 160 km de rodovias, incluindo 12 pontes. A Usiminas forneceu 17.600 t de estruturas metálicas, contratos de R$ 110,8 milhões. A construção de uma linha de transmissão de 250 km ficou por conta da Alusa, contratos de R$ 149 milhões, envolvendo 1000 km de cabos elétricos e 3200 t de estruturas metálicas.

Fonte: Estadão


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