De um conjunto de intervenções realizadas pela Infraero em 18 aeroportos do País, como parte do Plano de Obras para modernização da infra-estrutura aeroportuária brasileira, implementado a partir de 2003, apenas cinco se referem à modernização, reforma, ampliação de pistas de pousos e decolagens, e três a pátios para manobras de aeronaves. As 11 restantes têm como objetivo a ampliação ou modernização de terminais de passageiros, construção de hotéis, aero shoppings, garagens para automóveis, instalações administrativas, terminais de carga e até pet shops. Isso é o que se conclui ao se analisar o relatório publicado pela empresa, vinculada ao Ministério da Defesa e responsável pela administração de 67 aeroportos, 81 unidades de apoio à navegação aérea e 32 terminais de logística de carga. De acordo com a Infraero, este deveria ser “um plano de obras arrojado, que tem como objetivo modernizar a infra-estrutura aeroportuária brasileira para os próximos 10 anos, de forma a prestar serviços sempre seguros e cada vez mais adequados às necessidades da aviação”. Mas o que se observa é que as obras de maior vulto se direcionaram ao desenvolvimento, nos aeroportos, de atividades lucrativas paralelas ao transporte aeroviário e a segurança do usuário, como está evidenciado no próprio Relatório da Administração da Infraero de 2003, publicado em fevereiro de 2004. O documento, na página 17, informa: “O Projeto Aeroshopping, com o objetivo de fortalecer o varejo aeroportuário, além de promover a implantação de ambiente especial da área de compras, junto com sua respectiva marca, continuou, tenazmente, no ano de 2003, massificando o conceito Aeroshopping – o shopping do aeroporto para o grande público. Dentre as ações do Projeto Aeroshopping destacam-se: a) Lançamento do Aeroshopping nos Aeroportos de Brasília, Manaus, Campinas, Campina Grande, Joinville, Navegantes, Guarulhos, Belém, Porto Velho e Salvador; b) Definição de novos mix comerciais nos Aeroportos de Brasília, Manaus, Campinas, Campina Grande, Joinville, Navegantes, Guarulhos (ambientação dos Terminais de Passageiros 1 e 2); c) Aplicação de pesquisa de mercado, visando a identificar necessidades e anseios dos usuários de Aeroportos, bem como identificar carências e necessidades de produtos e serviços na área do entorno, visando a implantar novos negócios em áreas externas dos principais Aeroportos do país – Pesquisa de Raio de Influência Comercial; d) Identificação de novos negócios para os Aeroportos, a partir de tendências nacionais e internacionais, tais como smoking point, cyber café, pet shop, máquina de livros, exposições permanentes de artesanato e outros.” Ainda de acordo com os relatórios anuais da Infraero, em 2003, os investimentos realizados no projeto de “modernização” dos aeroportos somaram R$ 570,1 milhões. No ano seguinte, foi registrada uma pequena redução no volume dos recursos aplicados, da ordem R$ 546,5 milhões. Já em 2005, os investimentos foram 34,1% superiores a 2004, atingindo a cifra de R$ 744,7 milhões. O relatório da Administração daquele ano destacava: “Os investimentos em obras e serviços de engenharia foram direcionados aos aeroportos de maior demanda operacional e aos de interesse estratégico do Governo Federal. Desse modo, foram priorizados os aeroportos com capacidade de tráfego, carga e passageiros saturada, de modo a garantir-se operacionalidade e sistemas de segurança compatíveis com as necessidades do País.” No ano de 2006, já deflagrada a pior crise da aviação civil brasileira, após o acidente com o vôo 1907 da Gol, foram investidos R$ 889,7 milhões em obras e equipamentos. Todos os investimentos foram realizados com receita própria, originada pela manipulação de carga aérea, exploração comercial de espaços em aeroportos, cobrança das tarifas aeroportuárias, prestação de serviços de telecomunicações aeronáuticas, meteorologia e controle do espaço aéreo.
Fonte: Estadão