O caminho não será reto. Estará cheio de sinuosidades. Mas as principais dificuldades poderão ser superadas, caso o Produto Interno Bruto (PIB) do País alcance o patamar de pelo menos 2%
Nildo Carlos Oliveira
Tais deduções surgem a partir do resultado de análises feitas no começo de dezembro último, no Sinduscon-SP, pelo presidente da entidade, Sérgio Watanabe; pelo vice-presidente de Economia, Eduardo Zaidan; e pela coordenadora de estudos de construção civil da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Ana Maria Castelo.
Zaidan disse que ao longo de 2013 registrou-se um crescimento da construção civil um pouco menor do que se esperava no começo do ano. Em razão disso, o crescimento projetado pela entidade para este ano é de 2% para o PIB da construção e de 2,5% para o PIB do País. Mas não se pode dizer que o resultado haja sido de todo ruim. O mercado imobiliário na região metropolitana de São Paulo, e em outras regiões, não deixou que o resultado caísse muito.
O Sinduscon acredita que a taxa de investimento, em 2013, deverá ficar no patamar de 19,3% do PIB. Mas o emprego formal da construção só deverá aumentar 1% em relação ao mesmo período do ano passado. A expectativa é de que em 2014 – ano eleitoral – a taxa de investimento ajude a resolver um pouco os “gargalos” que dificultam o crescimento.
A balança em 2013 e 2014
Ana Maria Castelo, ao analisar os dados ali divulgados, disse que para 2013 o setor não dispunha de projeções extraordinárias. “Eram números relativamente modestos e trabalhávamos com a recuperação do mercado imobiliário, com o fortalecimento dos investimentos em infraestrutura e com a recuperação de parte de investimentos da economia do ano anterior (2012)”.
Na época, falava-se de um PIB que deveria crescer de 3,5% a 4% e de um PIB da construção que deveria crescer basicamente no mesmo patamar, contando-se com uma taxa de investimento da ordem de 19,19%. Tal raciocínio considerava o que ocorrera no ano anterior, quando o crescimento foi alimentado mais pelo investimento em infraestrutura do que pelo crescimento do mercado imobiliário. Mas, no decorrer de 2013, o que se verificou foi uma surpresa: os números mostraram um dinamismo do mercado imobiliário da região metropolitana de São Paulo — e da região metropolitana do Rio de Janeiro, segundo Zaidan.
Ana Castelo reconhece, no entanto, que a retomada do crescimento em 2013 contou também com um componente muito forte: a recuperação do segmento de máquinas e equipamentos. Outro dado que não deixou 2013 no vácuo foram os desembolsos do BNDES (ver matéria Os desembolsos e o papel de indutor do crescimento do BNDES, OE521). Se, em 2012, os desembolsos da instituição chegaram a R$ 24,5 bilhões, para 2013 esse volume aumentou para um volume superior a R$ 30 bilhões.
Ana Castelo e Zaidan avaliaram também a questão do ritmo de crescimento em relação aos custos, que não se reduziram. E observaram que o problema hoje não é o crescimento do nível de emprego formal. O contingente pode até continuar o mesmo, mas a produtividade terá de ser maior. Afinal, as empresas dispõem de tecnologia para ser colocada em favor da maior produtividade.
Nessas circunstâncias, segundo Zaidan, o gargalo não é o contingente, mas a mão de obra especializada. De qualquer modo, “a situação, hoje, está melhor do que já foi, embora muito longe do que se precisa”, afirmou.
O Sinduscon informa que embora o nível de emprego formal da construção no País haja registrado estabilidade até outubro último, ainda assim acumulava crescimento de 0,77% em 12 meses. Em outubro, o setor empregava 3.545.000 trabalhadores, enquanto o estado de São Paulo empregava, naquele mês, 905.000 trabalhadores com carteira, representando uma alta acumulada de 1,25% em 12 meses. No segmento imobiliário, a queda do emprego em outubro, em relação ao mês anterior, foi da ordem de 0,07%, enquanto na área da infraestrutura a taxa cresceu 0,36%.
Para Zaidan, o mercado imobiliário continua numa condição ascendente. E disse que se arriscaria até a afirmar que São Paulo e Rio de Janeiro respondem, atualmente, por 50% do crescimento imobiliário brasileiro.
Minha Casa, Minha Vida
Os empresários da construção civil esperam que o crescimento da construção supere aquele que está sendo projetado pelo Sinduscon. Para que isso aconteça, deve haver, segundo eles, novos estímulos para a economia, com investimentos em infraestrutura e nos demais segmentos da construção. Consideram também que o programa habitacional Minha Casa, Minha Vidadeva ser redesenhado.
Sérgio Watanabe informa que o governo Dilma Rousseff ainda não realizou ajustes na faixa 1 do programa. Caso venha a fazer isso, garantirá a viabilidade de novos projetos. Sem os ajustes, não está havendo lançamento de empreendimentos naquela faixa, que se destina a famílias de até R$ 1,6 mil de renda mensal. Ele diz que há necessidade da continuidade do programa, com as correções necessárias nos valores dos imóveis e nos subsídios, para evitar que haja instabilidade entre os investidores. Estes não irão lançar-se a novos projetos sem saber qual será o futuro do programa. Um pormenor: o programa Minha Casa, Minha Vidatem metas definidas somente até dezembro do ano que vem. Mas e depois? Com a palavra, o governo.
Fonte: Revista O Empreiteiro