Pré-moldados flexibilizam espaço do estádio para multiúso

O desenho em ferradura, da arena, lembra o estádio original, projetado pelo arquiteto Diógenes Rebouças nos anos 1950 e incorpora as mudanças concebidas pelos arquitetos Marc Duwe (Brasil) e Claas Schulitz (Alemanha), autores do novo projeto

Nildo Carlos Oliveira

Marc Duwe, da Setepla Tecnometal, e Claas Schulitz, do escritório Schulitz Partner Architektur + Technologie, trocaram ideias em cima do projeto do estádio que Diógenes Rebouças, considerado o primeiro arquiteto baiano moderno, havia elaborado nos anos 1950. Em sua origem, o Estádio Octávio Mangabeira, que se popularizou com o nome de Fonte Nova, possuía uma configuração oval, ao lado do dique do Tororó, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Ele é uma referência de Salvador, com a lagoa aprazível, em cujas margens passam as avenidas Costa e Silva e Vasco da Gama.

Os dois arquitetos observaram que não havia por que descartar o partido arquitetônico anterior. A configuração poderia ser mantida. O que havia ali era uma necessidade muito grande de modernização. A edificação antiga estava deteriorada; havia infiltrações por todos os lados; as arquibancadas estavam em ruínas, os serviços e o sistema de circulação horizontal e vertical teriam de ser reformulados.

No fundo, a estrutura antiga deveria dar lugar a uma estrutura moderna e a ideia de melhoria deveria ser colocada em prática. A modernização implicaria a construção de estacionamento com capacidade para 2 mil vagas; instalação de dez elevadores; oferta de 94 sanitários, 23 dos quais para deficientes; colocação de 70 camarotes com capacidade para 1.250 pessoas e 2.100 assentos vip, além de outras comodidades, do ponto de vista de instalações de apoio.

Em uma entrevista sobre o novo desenho, Marc Duwe esclarecera: “Tivemos de criar mais um lance de arquibancadas no nível inferior, que avança estádio adentro, para permitir que o público fique perto do gramado. Entre a arquibancada superior e a inferior, previmos a construção de um segmento intermediário, que deveria abrigar a área vip, camarotes e imprensa, além de um espaço para abrigar um museu do futebol. A cobertura das arquibancadas foi outro destaque levado em conta no novo projeto. Eles desenharam um sistema de anéis semelhante ao executado no estádio de Hannover, recoberto por uma membrana tensionada PTFE (politetrafluoretileno), na cor branca.”

O resultado desse trabalho conjunto é o que está se vendo na configuração da nova casa do futebol baiano, resultado de uma parceria público-privada (PPP), formalizada entre o governo da Bahia e a Fonte Nova Negócios e Participações (FNP), concessionária formada pelas empresas Odebrecht Participações e investimentos e a OAS. Para a construção da obra, que tem capacidade para 50 mil pessoas em assentos cobertos, a FNF contratou o Consórcio Arena Salvador, constituído pela Odebrecht Infraestrutura e a Construtora OAS.

Esta obra, a exemplo de outras, também privilegiou a tecnologia dos pré-moldados para avançar segundo o cronograma

Por conta da necessidade de agilizar a obra e, ao mesmo tempo, torná-la flexível para que ali venham a ser realizar outras atividades além daquelas específicas do futebol, o consórcio deu ênfase ao uso maciço de elementos pré-moldados.

Balanço final

Inaugurado dia 7 deste mês, após dois anos e sete meses de obras, a construção da Fonte Nova enfrentou uma série de dificuldades. O engenheiro Alexandre Chiavegatto resume, num balanço final, alguns dos obstáculos superados durante a construção.

Primeiro, conforme lembra ele, a estrutura antiga, resultante de um bom trabalho de arquitetura e de engenharia, precisou ser demolida mediante implosão. Segundo, o consórcio construtor teve de lidar com uma obra que está localizada na região central da metrópole. Necessitou, portanto, de um criterioso planejamento logístico para não ampliar o caos no trânsito de Salvador. Terceiro, a área construída é topograficamente acidentada. Os vários desníveis, em um terreno geotecnicamente heterogêneo, exigiram cuidados especiais do ponto de vista da execução das fundações E, dentre outras dificuldades, houve a novidade da cobertura, que é uma estrutura tensionada (cabos e membrana), o que levou o consórcio a buscar expertise externa, em razão das inovações com que a engenharia construtiva precisaria trabalhar.

A implosão do anel superior do estádio utilizou 700 kg de dinamite. Cada um dos 138 pilares do estádio foi envolvido com uma tela metálica e com uma manta geotêxtil para evitar a propagação dos resíduos e garantir a segurança das áreas adjacentes. O aço da estrutura demolida, da ordem de 1.135 t, foi encaminhado a indústrias siderúrgicas para reaproveitamento. E 90% do material resultante da britagem do concreto foi reaproveitado na própria obra. O restante foi destinado a outras obras em andamento na cidade.

Considerando as limitações geotécnicas referidas, as fundações foram executadas com estacas profundas, com diâmetro de 35 cm a 60 cm, parte em fundações diretas, sobre sapatas, e parte com estacas metálicas. As estacas profundas, distribuídas nos pontos de solo menos consistente, poderiam estar sujeitas a vibrações. Por isso, foram feitos aterros compactados na parte superior do estaqueamento. Como medida adicional de segurança, foram colocadas estacas inclinadas para travamento das demais, horizontalmente.

O engenheiro chama a atenção, no entanto, para o aspecto multiúso do estádio. Enfatiza que, desde os estudos iniciais, ele foi pensado para não deixar de ser flexível. Teria de ser utilizado para outros fins, além daquele objeto específico da construção: abrigar as competições de futebol, sobretudo, no caso os jogos da Copa de 2014. Com base na orientação inicial os palcos para outros fins deveriam ser montados sem interferir no perímetro do campo. A própria configuração da arena em ferradura, traço do partido arquitetônico original, ajudou nesse sentido. E, por conta disso, a montagem e a desmontagem dos palcos podem ser feitas rapidamente.

Contribuiu muito para permitir a flexibilidade prevista o uso intensivo da tecnologia pré-moldada. É o que diz o engenheiro Alexandre Chiavegatto, ao explicar: “Conceitualmente a estrutura da arena é uma solução pré-moldada. Dentro dessa soluç
ão e diante da complexidade do projeto, temos aqui diversas peças moldadas in loco – pilares, vigas, lajes e paredes de enrijecimento. Percentualmente, isso deve significar 5% do volume total da superestrutura em pré-moldados. Em suma, há peças pré-moldadas em todos os setores do estádio: vigas, lajes treliçadas, arquibancadas e escadas”.

O estádio foi estruturado em 72 eixos com pilares e vigas, somando cerca de 20 mil m² de concreto. Parte dos elementos pré-moldados foi produzida pela empresa T&A e transportado para o canteiro em carretas especiais, acompanhadas de batedores. Ao todo foram colocados 500 pilares, 2 mil vigas, 7 mil lajes alveolares e 450 vigas-jacaré, para sustentação das 1.500 peças que formam as arquibancadas. É por conta disso que o engenheiro enfatiza: “É uma solução pré-moldada”.
A ideia de uma estrutura multiúso, onde tudo pode ser flexibilidade para as adequações do espaço, facilitou os projetos e construção de ambientes como salão de eventos, restaurante e espaço cultural capazes de funcionar sem interferência com outras atividades. Esses espaços possuem acessos e infraestrutura de funcionamento próprios, que podem ser segregados dos acessos das demais áreas da arena, permitindo que eventos múltiplos possam ser realizados simultaneamente.

O consórcio construtor chama a atenção em especial para a cobertura, que foi inspirada no projeto do estádio de Hannover para a Copa de 2006 e que é de autoria do escritório Schulitz Partner Architekturn + Technologie). É uma cobertura com estrutura de anéis de compressão e tração, com cabos tensionados e coberta com 28 mil m² de membrana com PTFE, reforçada com fibras de vidro.

Ficha técnica

• Obra: Arena Fonte Nova
• Valor: R$ 591 milhões
• Área total do terreno: 116 mil m²
• Área da arena: 90 mil m²
• Altura norte da arena: 28 m
• Altura sul: 42 m
• Responsável: Concessionária Fonte Nova
• Construção: Consórcio Arena Salvador
(Odebrecht Infraestrutura e Construtora OAS)
• Engenheiro responsável: Alexandre Chiavegatto,
diretor de concreto do consórcio construtor
• Arquitetura: Marc Duwe (Setepla Tecnometal)
e Claas Schulitz
• Calculista: engenheiro Sydney Cunha (Setepla Tecnometal)
Principais fornecedores
• Equipamentos: Gruas e guindastes – Locar
• Guindaste – Vertical Equipamentos
• Guindaste – IV Guindastes
Outros principais fornecedores
• Pré-moldados – T&A Pré-fabricados S.A. e IBPC Pré-moldados de concreto Ltda.
• Concreto: Filirent Brasil
• Aço: Gerdau
• Cobertura: Martifer (Portugal)
• Esquadrias: Inbobe
• Formas para concreto: Mills Estruturas
e Serviços de Engenharia
• Pisos de concreto: Engepiso
• Elevadores: Otis
Principais quantitativos
• Armação da Arena: 5.200. 000 kg
• Volume de concreto: 45 mil m³
• Estrutura metálica: 1.800 t
• Pré-moldados: 12 mil peças
• Estacas: 65 mil

Fonte: Revista O Empreiteiro

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