Goiás e Mato Grosso se destacam na região com investimentos com foco na melhoria da logística de escoamento de produtos agrícolas e industriais para os grandes centros do País
José Carlos Videira
A produtividade do campo tem atraído, nos últimos anos, muitas indústrias alimentícias para a região a fim de aproveitar a proximidade das matérias-primas. Mas outros segmentos da indústria também enxergam o potencial logístico do Centro-Oeste, favorecendo sobretudo o Estado de Goiás, o mais industrializado da região.
A industrialização do Centro-Oeste tem se concentrado no eixo Goiânia-Anápolis-Brasília. Os destaques são para a indústria automotiva, farmacêutica, alimentícia, têxtil, minerais e de bebidas.
Goiás é o Estado mais industrializado da região, com destaque para o Distrito Agroindustrial de Anápolis (Daia), um dos mais importantes do Centro-Oeste, que tem atraído nos últimos anos investimentos de indústrias de diferentes setores, mas com uma grande concentração na produção de medicamentos.
De acordo com dados da Secretaria de Indústria e Comércio de Goiás, nos últimos anos, o Estado foi destino de R$ 10,6 bilhões de investimentos privados. Os setores que mais receberam investimentos foram os da Construção Civil, com 27,4%, Bebidas, com 21,7%, e Automotivo, com 8%.
O secretário de Indústria e Comércio de Goiás, William O’Dwyer, atribui o crescimento do Estado aos programas de incentivos e benefícios fiscais concedidos a quem se dispõe a investir na região. “Têm sido de importância ímpar para o desenvolvimento do nosso Estado”, ressalta. Ele diz que, “graças a essas ações, Goiás aparece com destaque nas principais estatísticas nacionais indicadoras de desenvolvimento”, garante o secretário.
O´Dwyer ressalta que o Estado detém 6% da produção automotiva brasileira. Também é o segundo polo farmacêutico da América Latina e segundo do Brasil, onde ostenta a segunda colocação na produção de medicamentos genéricos. “O Estado de Goiás ainda se destaca como o segundo mercado em manutenção de aeronaves do País.”
Quarto maior produtor brasileiro de grãos, Goiás também é o segundo maior produtor de etanol. No setor de minérios, responde por mais de 80% da produção nacional de níquel, e é o segundo maior produtor de ouro do Brasil.
Complexo Intermodal Rondonópolis
O Estado do Mato Grosso está sendo contemplado neste ano com R$ 28 bilhões de recursos provenientes do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Somente a duplicação dos mais de 400 km das BR-163 e BR-364, de Rondonópolis a Cuiabá e de Cuiabá a Posto Gil, representa investimento de R$ 1,8 bilhão. O total de investimentos via PAC do Governo Federal para o Estado é de R$ 48,4 bilhões.
A obra de duplicação da BR-163 vai melhorar o acesso ao Complexo Intermodal Rondonópolis (CIR), operado pela América Latina Logística (ALL). Inaugurado em setembro do ano passado, o CIR faz parte dos investimentos da ALL na expansão da malha Norte.
A obra, que fez parte do PAC2, representou um investimento total de R$ 880 milhões para a ALL, dos quais R$ 150 milhões apenas no Terminal Ferroviário. A empresa ampliou em 260 km a sua linha ferroviária de Alto Araguaia até Rondonópolis, expandindo o corredor de exportação até o porto de Santos, em São Paulo.
O CIR ocupa uma área total de 385,1 hectares, e está a 28 km da cidade de Rondonópolis. Integrado ao CIR, o terminal da ALL tem capacidade para escoar mais de 5 milhões de t por ano e carregar 120 vagões graneleiros em cerca de 3,5 horas.
Além da ALL, outras 20 empresas também vão instalar terminais e indústrias no CIR, com um investimento adicional estimado em R$ 700 milhões nos próximos cinco anos. Entre elas, está a Brado Logística, subsidiária da ALL para o transporte intermodal de contêineres, que já opera seu terminal no complexo intermodal.
Aeroporto de Cargas de Anápolis
A Plataforma Logística Multimodal, que será implantada em Anápolis, ficará próxima às ferrovias Norte-Sul e Centro-Atlântica, às BRs 060 e 153; à Estação Aduaneira (porto seco) e bem ao lado do futuro Aeroporto de Cargas de Anápolis.
Numa área de 600 hectares, o empreendimento é uma aposta do governo de Goiás na localização estratégica da cidade. “Anápolis sempre teve uma vocação de distribuição de produtos, em função da sua posição geográfica privilegiada”, ressalta o coordenador de Implantação da Plataforma Logística Multimodal, João Bosco Adorno.
A cidade de Anápolis está a menos de 1.000 km de grandes capitais e próxima a 75% da população do País, informa o governo goiano. A expectativa é de que a Plataforma Logística tenha abrangência nacional e internacional e gere um corredor de desenvolvimento para abrigar investimentos comerciais e industriais.
Adorno garante que a pista do novo aeródromo fica pronta em setembro. A cargo da Loctec Engenharia, as obras para a adequação do terreno e a construção da pista do aeroporto de cargas de Anápolis representam um investimento de R$ 240 milhões do governo do Estado de Goiás.
Com 3,3 km de extensão por 45 m de largura, a pista já está nos arremates finais, segundo o coordenador. “Estará adequada para receber aviões cargueiros de grande porte, como o Boeing 747-400”, frisa Adorno. Mas os desembolsos do governo no projeto param por aí.
Com a pista pronta, de acordo com Bosco, o governo realiza o processo licitatório para a escolha do operador da Plataforma Logística. O restante das obras ficará por conta de quem vencer a licitação para operar a Plataforma Logística Multimodal.
A ideia, segundo o coordenador, é que o grupo vencedor faça as intervenções no projeto de acordo com seu perfil logístico e estratégia de operação do aeroporto. Por isso, a construção da torre de controle, do pátio de manobras, da brigada de incêndio, entre outras intervenções, serão realizadas depois da licitação.
Muitos detalhes vão depender do perfil do concessionário, que vai finalizar o desenho do aeródromo. “Preparamos o casamento, mas quem vai vestir a noiva é o noivo”, brinca. Segundo ele, a expectativa é que esse modal seja voltado para cargas de maior valor agregado.
A decisão de o governo goiano bancar a obra da pista, segundo Adorno, foi estratégica. “A topografia do terreno não ajudava muito, mas a localização era a mais adequada”, justifica.
Para adequar e preparar o terreno para a implantação da pista, cuja cabeceira ficou com 37 m de altura, foi necessário fazer um aterro e um corte que movimentaram mais de 6,5 milhões de m³ de terra.
Fonte: Revista O Empreiteiro