O ContextCapture permite ao projetista transformar a nuvem de pontos em um projeto eletrônico no formato BIM, reduzindo o prazo de dias para horas. Este software foi lançado pela Bentley na sua conferência anual sobre infraestrutura, em Londres, que premiou ainda as iniciativas mais inovadoras em diversos segmentos da engenharia
Joseph Young – Londres (Inglaterra)
O ContextCapture permite gerar modelos 3D de alta resolução de estruturas ou cenários reais, a partir de fotos tiradas com câmaras digitais, inclusive de celular, no nível do solo, ou aéreas registrada por drones. O software reúne uma malha detalhada de pontos, resultando num modelo 3D navegável, com localização geográfica, exposições realistas e fotográficas, contornos afinados e precisão geométrica. Esses modelos podem ser de qualquer tamanho ou resolução, podendo chegar à escala de uma verdadeira cidade, criados num prazo muito menor do que por meio de outras tecnologias.
A Bentley anunciou que colocou à disposição dos usuários o ContextCapture Center para processar modelos de grande porte em prazos relativamente reduzidos, como os que envolvem mais de 30 gigapixels de imagens. É um processo versátil de captura da realidade como contexto para se desenvolver trabalhos de projeto, monitoramento, inspeção e levantamento topográfico. A nuvem de pontos pode ser integrada através do ambiente comum de modelagem, com a MicroStation edição Connect.
A velocidade de processamento das fotografias é valiosa em emergências como sismos, inundações e rompimento de barragens, como a de Mariana (MG). Um sobrevoo de drones produziria fotos suficientes, que processadas com este software, reconstituiriam o cenário real da região atingida, num trabalho que pode demorar menos de 24 horas. Estas imagens panorâmicas da região atingida poderiam ser postadas num site, para amplo acesso da população e da imprensa. Esse tipo de serviço já existe no Japão, por causa da frequência de sismos em diversas regiões do país (ver box Drones em ação nesta página).
O ContextCapture é uma ferramenta que reduz consideravelmente o tempo de projeto, por exemplo, de uma rodovia, ao processar fotos e recriar a paisagem e topografia da região a ser percorrida. Essa malha de pontos passa a ser navegável e, com os recursos da plataforma Open Roads Concept Station, o projetista desenha o traçado da estrada num modelo 3D, utilizando dados georeferenciados, dimensiona as pistas e aplica padrões de pontes e viadutos adotados pelos órgãos rodoviários — e ainda ajusta a dimensão dos vãos e rampas de acesso de acordo com o terreno. Ele pode, inclusive, incluir detalhes, como postes de iluminação e guarda-corpo. Paralelamente, pode gerar uma estimativa de custos de construção. Na apresentação oficial do projeto aos contratantes e demais stakeholders, o programa cria um vídeo com imagens reais da cidade, carros na futura rodovia, pedestres, vegetação etc.
ContexttCapture permite chegar à escala de uma cidade
Na conferência de infraestrutura realizada em Londres este mês (novembro), a Bentley anunciou que armazenou na nuvem praticamente todos os seus pacotes de softwares, aplicativos, serviços profissionais, e cursos e treinamento de usuários, que poderão ser subscritos pelos clientes de forma flexível e com custos previsíveis, pagando apenas pelos serviços efetivamente utilizados. O pacote ProjectWise Connect está disponível como serviço na nuvem, via subscrição, e ele opera em ambiente comum a MicroStation e Navigator.
Os projetos vencedores do prêmio Be Inspired
Este ano, dez painéis independentes de júri selecionaram 18 projetos para o prêmio Be Inspired 2015, avaliando 54 finalistas. Estes, por sua vez, são parte das 360 inscrições recebidas de 66 países. Cerca de 100 publicações especializadas cobriram a conferência de infraestrutura em Londres, e o Brasil foi representado pela revista O Empreiteiro, no segmento de construção.
Na categoria Projetos Integrados, venceu o bonde retrô, mas com tecnologia de última geração, que vai ligar Union Station a Oak Cliff, em Dallas, Texas (EUA). Ele é resultado de um contrato que inclui projeto e construção executado pela HDR, preservando uma ponte histórica tombada que não poderia sofrer modificações. Como um cabo aéreo para energia elétrica não era possível, por razões históricas, o bonde é movido a bateria elétrica recarregável através dos trilhos nos pontos finais.
No gênero Mobilidade da Informação no Campo, ganhou a Western Power, distribuidora de energia britânica, que tem uma equipe de manutenção de 3.000 funcionários equipados com tablets, através dos quais eles lançam as falhas técnicas encontradas nas redes e reparos feitos, atualizando o cadastro e o mapa das instalações. O funcionário só acessa a parte do cadastro a atualizar. Esse programa tem o suporte de poderosos softwares de processamento de dados georeferenciados, sincronizando os tablets com o cadastro central e gerenciando a segurança dos acessos exclusivos de pessoal autorizado.
Na categoria Inovações em Pontes, o júri escolheu a ponte sobre o rio Ceira, que faz uma ligação rápida entre Lisboa e Coimbra, Portugal, projetada pela LCW Consult. O vão central de 250 m está a 140 m de altura sobre o leito do rio, onde foi executada uma viga caixão de 26,4 m de largura, em balanços sucessivos, ao longo de curvas com 700 m de raio. O programa RM Bridge foi utilizado para estudar diferentes soluções estruturais, visando selecionar a alternativa mais eficiente e econômica, tanto para construção como para a operação posterior. É o caso dos pilares de seção estreita que receberam protensão vertical. A integração deste com PowerCivil facilitou a colaboração entre o escritório central e a equipe no canteiro. Os trabalhos de projeto tiveram seu prazo reduzido em 25%. A estrutura foi orçada em € 27 milhões.
Na modalidade Inovações em Governo, o projeto vencedor foi da Singapore Land Authority, que realizou o mapeamento em 3D dessa cidade-estado de 700 km², ao custo de 8 milhões de dólar local. O programa envolveu a captura de volumes gigantescos de dados, criando conjuntos de dados 2D e 3D em diversos formatos, permitindo gerenciar a interoperabilidade dos dados e monitorar sua segurança ao serem depositados numa única fonte. Múltiplas técnicas de mapeamento rápido foram utilizadas, como imagens obliquas, laser scanner embarcado em avião, e laser scanner terrestre e móvel, reunindo mais de 50 terabytes de dados em formatos variados. Usando Bentley Map, foi possível à agência criar, manter e disseminar dados em 3D diretamente do programa Oracle Spacial, com acesso de múltiplos usuários à base de dados.
Na classe Inovações em Offshore, foi eleito pelo júri o parque eólico offshore de Block Island, em Rhode Island (EUA), projetado pela Keystone Engineering, que adotou as jaquetas clássicas usadas em plataformas petrolíferas para servir de suporte a cinco turbinas de 6 MW cada. Esta obra de US$ 290 milhões deu início à geração eólica nessa região onde o custo da energia da rede pública é elevado. Essa solução de projeto reduziu drasticamente o consumo de aço, economizando 20% do custo da instalação, contribuindo para sua viabilidade econômica. Simulações em paralelo de diversas soluções estruturais reduziram o tempo de projeto em 50% — se comparado a parques eólicos offshore construídos na Europa.
Em Inovações em Geração Elétrica, saiu vencedor a usina de Tyseley, em Birmingham, Inglaterra, que gaseifica rejeitos de madeira para gerar energia elétrica, consumindo 67 mil t/dia do material. Ao longo de 20 anos, a usina vai reduzir emissões de gases em 2 milhões de t e aproveitar 1,3 milhão de t de rejeito de madeira que seriam destinados a aterro sanitário. A empresa de engenharia MWH Global realizou o projeto para Birmingham Bio Power, ao custo de £ 48 milhões, sob contrato EPC que inclui construção e comissionamento, mais cinco anos de operação e manutenção.
Vitória do Brasil
Em Inovações em Redes Hídricas, ganhou a concessionária brasileira Prolagos, do grupo Aegea, que fornece serviços de água e esgotos para a região dos Lagos, Rio de Janeiro, envolvendo cinco municípios. O Plano Master 2041 visa melhorar o fornecimento d’água no médio e longo prazo, reduzindo o consumo de energia em 50% e as perdas por desvio ou vazamento do nível atual de 45% para 25%. A Prolagos empregou o programa WaterGEMS para gerenciar os dados da rede hídrica, melhorando sua eficiência e o abastecimento que se elevou de 91% para 98% dos residentes da região, na alta temporada. Nesta época, a população salta de 400 mil para 730 mil pessoas. Mais de 50 cenários foram modelados para coordenar decisões colaborativas sobre projetos alternativos na operação. Esse programa teve custo de R$ 187 milhões — mas a economia de energia na operação e os ganhos em receita obtidos permitiram calcular o retorno em 323%.
Fonte: Revista O Empreiteiro