João Antonio DelNero
A engenharia brasileira possui qualidade equivalente à praticada nos centros mais avançados. Nossas empresas de engenharia têm concorrido em pé de igualdade com aquelas que vêm atuando em países do Primeiro Mundo.
Mas há um dado a ser observado: no Brasil, o nível técnico caiu. As melhores escolas da área não têm enriquecido os seus currículos – a preocupação maior tem se voltado para a formação de professores – e não se nota mais, por parte do governo, estímulo maior para o desenvolvimento de novas tecnologias requeridas pela área de engenharia.
Sou testemunha do ganho tecnológico do País, desde os anos 50, na Escola Politécnica da USP e início da minha vida profissional. O processo de industrialização do País proporcionou impulso notável em todos os segmentos da engenharia, sobretudo no governo do presidente Juscelino Kubitschek. Depois daquela época houve outras fases importantes. Por exemplo: a fase da construção da Rodovia dos Imigrantes.
O então Escritório Técnico J. C. Figueiredo Ferraz venceu em 68/69 a concorrência pública para a elaboração do projeto das duas pistas da Imigrantes e o detalhamento da pista ascendente.
A concorrência era na modalidade Melhor Técnica e permitia a formação de consórcio nas seguintes condições: poderia haver participação de empresas estrangeiras desde que a liderança fosse de empresa brasileira, que tivesse demonstrativo de que haveria aporte de novas tecnologias.
A Figueiredo Ferraz se associou à Alpina, de Milão, e introduziu no Brasil o novo método NATM, de projeto e construção de túneis, que inovou este tipo de construção em todo o mundo. Cito esse exemplo para demonstrar que atualmente os governantes, em geral, não percebem que o desenvolvimento tecnológico ligado a trabalhos de engenharia é o fator mais importante para o desenvolvimento econômico e social. Exemplo disso é a Coréia do Sul.
Hoje, aqui em São Paulo, não têm sido adotadas medidas positivas para a engenharia. Empresas importantes, como o Metrô, têm contratado projetos pela modalidade de menor preço, aceitando descontos que vão de 40% a 50%. Diante disso, o que dizer também de artigo do secretário estadual da Fazenda, publicado em página nobre de jornal (Folha de S. Paulo) em que defende o pregão eletrônico até em obras de engenharia?
O pregão é um meio extraordinário para a compra de produtos industrializados e de serviços comuns. Serão os trabalhos de engenheiros, com imensa responsabilidade, serviços comuns? Acaso pessoas desta responsabilidade contratam o projeto estrutural para a construção de suas casas, através de pregão? Ora, obras de infraestrutura, edificações e obras em todos os segmentos, têm de contar com projetos de qualidade.
Alguns administradores públicos não percebem que além de produzir obras inadequadas, o mau projeto tem reflexo negativo em toda a cadeia produtiva da construção. O estímulo para a contratação do melhor projeto, por órgão governamentais, abre caminho para que o Brasil obtenha um patamar satisfatório de desenvolvimento, com melhor qualidade. Precisamos incentivar a engenharia, a absorção de novas técnicas e o aumento do número de engenheiros, a serviço das obras de infraestrutura e, por extensão, da sociedade.
João Antônio Del Nero é diretor nacional do Sinaenco e presidente da Figueiredo Ferraz – Consultoria e Engenharia de Projetos
Fonte: Estadão