Em meio a tantos problemas, Altamira tem hoje um ponto positivo, como diz a prefeita da cidade, Odileida Sampaio: “Só não trabalha quem não quer”. Frase citada também pelo diretor administrativo do Consórcio Construtor de Belo Monte (CCBM), Marcos Sordi. O nível de desemprego caiu a quase zero no município e já falta mão de obra.
O consórcio mantém em Altamira o Capacitar, projeto que qualifica trabalhadores em diferentes áreas (pedreiro, eletricista, armador, operador de máquinas pesadas) para atender a obra. Mais de três mil profissionais já foram formados e convidados para integrar os quadros. De acordo com Sordi, foi necessário implantar estes cursos, pois não haviam trabalhadores qualificados para suprir a demanda da obra, que em seu pico terá mais de 20 mil funcionários.
Atualmente o CCBM tem quase nove mil funcionários diretos, mais de cinco mil são de Altamira. Do total deste número, 77% são do estado do Pará e o restante de todos os outros estados brasileiros, porém o número mais expressivo é do Maranhão e do Piauí. Até o final do ano o CCBM espera ter 15 mil trabalhadores. Além do consórcio, existem outras empresas, subcontratadas do CCBM e da Norte Energia, que também precisam da mão de obra local.
“O Consórcio Belo Monte tem quase nove mil funcionários diretos,mais de cinco mil são de Altamira. Do total 77% são do estado do Pará e o restante de todos os outros estados brasileiros, principalmente Maranhão e Piauí ”
*Marcos Sordi, diretoradministrativo da CCBM
Os movimentos grevistas ocorridos no canteiro tem como principal bandeira a luta pela chamada “baixada” (viagem para a cidade de origem com despesas de transporte pagas pelo consórcio construtor). A reivindicação é que esta viagem seja concedida a cada três meses e não seis meses, como acontece hoje. Marcos Sordi afirma que é impossível atender estes pedidos. “Se a ‘baixada’ fosse autorizada a cada três meses custaria mais de R$ 500 milhões, que não estão orçados no custo da obra’’, analisa. Além disso, trabalhadores querem um auxílio de cesta básica de R$ 300.
Além do salário, os empregados do CCBM recebem horas extras, alimentação, transporte e acesso a saúde ou plano de saúde, dependendo do nível. Os funcionários de outros municípios podem receber ainda auxílio-aluguel ou a “baixada”, que pode ser a cada seis meses ou 45 dias, dependendo do nível do trabalhador.
A última greve foi realizada em maio deste ano e foi julgada ilegal pelo Tribunal Regional do Trabalho. De acordo com o consórcio, o cronograma da obra segue sem atraso.
*Na área dos alojamentos há equipamentosde lazer para os trabalhadores
Junho é marcado por seminário e protestos
Paralelamente à Rio+20, foi realizado o Xingu+23, na comunidade de Santo Antônio, em frente ao sítio Belo Monte. Entre os dias 13 e 17 de junho, pescadores, ribeirinhos, pequenos agricultores, indígenas, movimentos sociais, acadêmicos, ativistas e demais defensores do rio Xingu reuniram-se para um seminário que marcou os 23 anos do primeiro Encontro dos Povos Indígenas do Xingu, movimento contra o projeto de barramento do rio para construir hidrelétricas, criado em 1989. De acordo com o movimento Xingu Vivo, o objetivo do evento era fortalecer a luta dos atingidos por Belo Monte e o respeito aos seus direitos sociais, econômicos, culturais e territoriais. Durante o encontro, foram realizados debates, seminários, atividades culturais e protestos.
No primeiro dia do evento, produtores rurais atingidos pela construção da UHE Belo Monte fecharam a Rodovia Transamazônica na altura do km 27, ponto de entrada para o Travessão, que dá acesso aos sítios Pimental e Canais e Diques. Os agricultores receberam o apoio de índios e participantes do Xingu+23. A manifestação foi organizada para cobrar da Norte Energia uma resposta sobre as indenizações. Segundo os agricultores, eles foram procurados pela empresa no final de 2011 para acertar o valor das propriedade, mas até agora não receberam o valor nem informações da empresa. Em nota, a Norte Energia informou que receberia representantes do movimento em uma reunião em Brasília. Na pauta estaria um conjunto de reivindicações relativas a comunidades de agricultores próximas aos canteiros de obras.
No último dia do evento, índios ocuparam o canteiro de obras do sítio Belo Monte e destruíram placas, equipamentos, queimaram documentos. Segundo o consórcio, ainda foram roubados notebooks, rádios, celulares e câmeras fotográficas. O CCBM pronunciou-se por telefone e disse que é a favor de toda manifestação pacífica e democrática e repudia ações deste gênero. O caso foi denunciado e a Polícia Civil instaurou inquérito. Nas imagens fornecidas pelo consórcio à polícia, também foram identificados integrantes do Movimento Xingu Vivo. Convocados a depor, todos se usaram do direito de falar somente em juízo.
Poucos dias depois, 21 de junho, mais de 150 índios de várias etnias que vivem na região ocuparam novamente o canteiro de obras, desta vez do sítio Pimental. Eles reivindicam investimentos em saúde, educação, estradas, água potável, equipamentos agrícolas, entre outros. No dia 28, os índios foram ouvidos pelo presidente da Norte Energia, Carlos Nascimento, e por uma comissão da empresa. A reunião foi realizada no Espaço Norte Energia e contou com a presença de mais de 50 indígenas. Foram mais de quatro horas de discussões, mas não houve acordo. A Norte Energia comprometeu-se a analisar os pedidos dos índios.
De acordo com o presidente, Carlos Nascimento, é preciso avaliar as reivindicações e comparar com o que já consta no Plano Básico Ambiental (PBA). “Nós vamos confrontar o que já foi feito em cada uma das aldeias com aquilo que consta no PBA. Foi tudo num clima bastante amigável, os caciques são sábios e ponderados, existe uma juventude que anseia por uma série de melhorias e dentro do possível faremos de tudo para que este tipo de ação não volte a acontecer”, conclui.
“Eles não trouxeram resposta do que pedimos.
Nós só vamos sair de lá quando eles trouxerem por escrito o que vão fazer. Enquanto não iniciarem as obras na aldeia, nós não vamos sair”, relata o índio Giliarde Juruna.
A Norte Energia informou que nenhuma das terras indígenas na área de influência da Usina Belo Monte será alagada. Para evitar o impacto sobre as comunidades indígenas, o projeto foi adaptado e prevê a construção de um canal de 20 km de extensão. As eventuais interferências nas atividades de caça, pesca e lavoura serão compensadas com programas e projetos socioambientais previstos no Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o PBA.
Dias depois, em encontro realizado em Altamira (PA), a Norte Energia e as lideranças indígenas do Médio Xingu entraram em acordo e a desocupação do sítio Pimental foi encerrada. Entre as medidas anunciadas pós-encontro estava a criação de um comitê para monitorar a vazão à jusante do rio Xingu e outro para acompanhar as condicionantes do PBA.
*Oposição à hidrelétrica reuniu índios, ribeirinhos e ambientalistas