Ranking da Engenharia e O Empreiteiro homenageiam Joaquim Cardozo

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Agora que todos já falaram o que quiseram e puderam sobre Brasília, antes e depois do dia 21 de abril último, data em que ela completou meio século de fundação, a revista O Empreiteiro decide homenagear, no Ranking da Engenharia Brasileira, o engenheiro e poeta Joaquim Cardozo, um dos pioneiros da construção da Capital Federal.

A ideia da homenagem ao calculista da maior parte das edificações de Brasília, para lembrar o centésimo décimo aniversário de seu nascimento, nasceu a partir de uma iniciativa do Centro de Documentação e Informação da Câmara dos Deputados. Sob a organização de Danilo Matoso Macedo e Fabiano José Arcadio Sobreira, foi publicado nas Edições Câmara (2009), o livro Forma estática – forma estética.

O volume reúne vários dos preciosos ensaios que Cardozo escreveu sobre engenharia ao longo de sua vida (ele nasceu no Recife em 1897 e faleceu em Olinda em 1978), incluindo a experiência anterior no Recife, antes do golpe de estado de 10 de novembro de 1937; o trabalho que realizou em Pampulha, Belo Horizonte, no período de 1941-1945, de notável importância para a modernização da arquitetura brasileira, e, depois, o marco definitivo: Brasília. Aí, ele teve a oportunidade de elaborar as soluções estruturais que colocaram de pé as edificações projetadas por Niemeyer no espaço urbanístico desenhado por Lúcio Costa.

Na homenagem do Ranking, lembramos que o diploma conferido a algumas empresas, e com o qual homenageamos o conjunto das empresas ranqueadas, tem o nome de Joaquim Cardozo. Salientamos aqui algumas manifestações de Joaquim Cardozo sobre Brasília e a arte da engenharia estrutural:

"Brasília oferece um exemplo de cidade nova, construída como por encanto. Uma cidade que não começou em torno de um burgo ou de um castelo feudal ou de uma catedral; ou, ainda, de uma praça de mercado; em torno de um pouso de peregrinação ou de um rush para a conquista do ouro. Surgiu no deserto, pelos meios únicos e modernos adequados ao seu surgimento. Surgiu, se expandiu, se desenvolveu a partir das margens das pistas de um aeroporto, porque foram estas as primeiras obras reais da sua origem, as razões do seu milagre.

Lúcio Costa, encarregado da urbanização, procurou nela utilizar tudo o que era então teoricamente conhecido como possível, para o bom funcionamento de uma cidade moderna.

A construção da barragem sobre o Paranoá se fazia quase que como um trabalho à parte, mas obedecendo a uma cuidadosa investigação do terreno, e hoje o lago artificial é um dos encantos da cidade.

O lago, como toda a cidade, é um prolongamento das pistas do aeroporto, cabeça de Brasília, que representa a síntese das possibilidades brasileiras no campo da tecnologia e da cultura.

A parte correspondente às estruturas de concreto armado, utilizadas para manter o equilíbrio dos edifícios da cidade, oferece aspectos novos: a cúpula correspondente ao Senado é um paraboloide de revolução apoiado sobre as vigas da grande plataforma da cobertura. A que corresponde, no mesmo edifício, à Câmara dos Deputados, é um conjunto constituído de uma casca limitada pela superfície de uma zona de elipsoide de revolução…

Os grandes trabalhos arquitetônicos de Brasília, que colocaram Niemeyer na vanguarda dos mais importantes artistas de todos os tempos, e que, entretanto, são apenas uma parte de sua imensa obra, só comparável, em volume, à do pintor Pablo Picasso, foram incompreensivelmente mutilados pela não execução do seu projeto para o aeroporto da cidade.

Brasília nasceu como têm nascido muitas cidades: de uma posse, de um pouso, de uma parada para descanso ou orientação.

Duas linhas cruzadas, duas direções, quatro sentidos, quatro pontos cardeais; um aperto de mão, um signo de paz, de compreensão, de cordialidade entre os homens."

Para encerrar essas reflexões sobre o engenheiro Joaquim Cardozo, publicamos também um de seus poemas:

Chuva de caju

Joaquim Cardozo

Como te chamas, pequena chuva inconstante e breve?

Como te chamas, dize, chuva simples e leve?

Teresa? Maria?

Entra, invade a casa, molha o chão,

Molha a mesa e os livros.

Sei de onde vens, sei por onde andaste.

Vens dos subúrbios distantes, dos sítios aromáticos

Onde as mangueiras florescem, onde há cajus e mangabas,

Onde os coqueiros se aprumam nos baldes dos viveiros

e em noites de lua cheia passam rondando os maruins:

Lama viva, espírito do ar noturno do mangue.

Invade a casa, molha o chão,

Muito me agrada a tua companhia,

Porque eu te quero muito bem, doce chuva,

Quer te chames Teresa ou Maria.

Fonte: Estadão


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