Reúso de água é prioridade no cenário atual das grandes cidades

Irrigação na agricultura também precisa mudar, a exemplo do que se pratica em Israel, defendem especialistas

 

Guilherme Azevedo

 

O Congresso Nacional de Saneamento e Meio Ambiente 2014 (Encontro Técnico AESabesp) destacará a importância da boa gestão dos recursos hídricos, ainda mais necessária numa situação de desabastecimento, como a de agora, cujo símbolo mais evidente é o combalido Sistema Cantareira, na Grande São Paulo. Uma das oito mesas-redondas do encontro tratará especificamente do tema.
 

Como de costume, o congresso acontece simultaneamente à Feira Nacional de Saneamento e Meio Ambiente (Fenasan), de 30 de julho a 1º de agosto, no Pavilhão Azul do Expo Center Norte, em São Paulo. Ambos estão completando 25 anos em 2014. O tema central desta edição do congresso é “25 Anos de Tecnologia a Serviço do Saneamento Ambiental”. Cerca de 120 trabalhos foram inscritos e serão conhecidos e debatidos.

 

Ricardo Young, presidente da AESabesp: É preciso mudar padrão de consumo

 

Na questão dos recursos hídricos, afirma Ricardo Young Ribeiro, presidente da Associação dos Engenheiros da Sabesp (AESabesp), organização da sociedade civil de interesse público que tem a tarefa de organizar o encontro e a feira, o Brasil, ou parte dele, como o Sudeste, se mal acostumou à cultura da abundância. Contudo, a partir de agora, terá, provavelmente, de conviver com um cenário oposto, de restrição e escassez de água. Como analogia do caso, ele conta a história de um amigo obeso, que fez a afamada cirurgia bariátrica (para a redução do estômago), emagreceu, mas voltou a engordar. É que não houve, segundo o engenheiro, mudança no cérebro, de mentalidade, de cultura.

 

O diretor técnico da AESabesp, Olavo Alberto Prates Sachs, assegura que existe hoje tecnologia disponível para enfrentar o problema, e aponta o reúso da água como possível solução para regiões metropolitanas, como a de São Paulo. “Temos água limpa, fluoretada, sendo usada para lavar calçada. E a gente tem de mudar. Precisamos de torneiras independentes, e de sistemas produtores diferentes”, defende.

 

Projeto Aquapolo

Olavo Sachs cita como bom exemplo de reúso o projeto Aquapolo. Sociedade de propósito específico da Sabesp e da Odebrecht Ambiental, o Aquapolo transforma esgoto tratado em água de reúso com fins industriais, para alimentar a produção no Polo Petroquímico do ABC Paulista. A Estação Produtora de Água Industrial se localiza dentro da Estação de Tratamento de Esgotos ABC e tem capacidade de gerar 1 mil l/s de água de reúso. A água segue da ETE para o polo por meio de uma adutora com 17 km de extensão e lá é utilizada em processos industriais, como o resfriamento do maquinário. O sistema está em operação desde novembro de 2012, com investimento de R$ 364 milhões, para o fornecimento por 41 anos.

 

Instalações do projeto Aquapolo, no ABC Paulista. Bom exemplo de reúso da água

 

Os engenheiros da AESabesp alertam também para a má gestão dos recursos hídricos na agricultura brasileira, que é responsável por 70% do consumo total de água (contra 10% destinados ao abastecimento público e 20% à indústria). “Nós usamos processos arcaicos de irrigação. A gente esteve em Israel, vendo esquema de gotejamento, que economizaria uma quantidade muito grande de água”, exemplifica o presidente da AESabesp. Embora numa situação climática muito diferente da brasileira, o árido Israel é também modelo de reúso da água. Segundo o diretor técnico da AESabesp, 80% da água consumida naquele país vem desse sistema. “Que é utilizada no país inteirinho, como irrigação de plantações, de cultura. Cada vez eles utilizam menos o manancial que têm.” Implantação de sistemas mais modernos de uso (e reúso) da água e campanhas de comunicação e conscientização da população vão precisar estar na ordem do dia de todos.

 

Lodo ativado

O congresso também vai celebrar o aniversário de 100 anos de uma técnica universalmente bem-sucedida de tratar esgoto: a do lodo ativado. É um processo biológico de tratamento de afluentes, em que se usam bactérias para fermentar a matéria orgânica e tratar a água. Parabéns. 

Fonte: Revista O Empreiteiro

Deixe um comentário