Saragoça sinaliza novo salto espanhol para o mundo

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A recente feira de máquinas e equipamentos para obras públicas, realizada na capital aragonesa, aponta as regiões para as quais fabricantes, empreendedores e construtores espanhóis planejam se voltar com prioridade: Estados Unidos, Rússia, Ásia, Norte da África, Brasil e México

Nildo Carlos Oliveira

Muitos empresários que no dia 9 de abril último viram as luzes se apagar no encerramento da 15ª edição do Salão Internacional de Máquinas para Obras Públicas, Construção e Mineração, em 300 mil m² de área no centro de exposição de Saragoça, consideram que a feira, ali encerrada, foi apenas um capítulo de um trabalho que vai se desenvolver nos próximos meses e até ao longo do ano que vem, e que tem em conta mostrar que a Espanha está preparada para um novo salto importante no mundo: ampliar a capacidade de internacionalização de suas empresas.
Não foi por outro motivo, dizem os organizadores, que a capital aragonesa se converteu, de novo, "no centro da mais alta tecnologia de máquinas e equipamentos, tanto para as obras essenciais aos países em desenvolvimento – rodovias, ferrovias, barragens, saneamento – quanto para aquelas que atualmente ocorrem nas nações mais desenvolvidas e que estão se capacitando na aplicação de tecnologia de ponta para a construção de edifícios de grande altura". Ganharam destaque, no encontro, as missões comerciais procedentes de diversas regiões, incluindo a Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Argélia, Turquia e outros países.
A realização da feira coincidiu com um fato que provocou impacto econômico e político imediato na Europa: a crise que afetou Portugal e que bateu, no começo do mês passado, às portas da Espanha. Francisco Carrillo, presidente do comitê organizador, evitou dizer, naquelas circunstâncias, que o Smopyc se apresentava como evento contra a situação econômica na Europa. Preferiu acentuar, pragmaticamente, que ela se revelava "a favor do desenvolvimento da construção, com prioridade no cenário europeu e com uma nítida capacidade de unificar a vocação internacional dos clientes espanhóis". E disse mais à revista O Empreiteiro: "A nossa feira, como está e como continuará a ser, pode ajudar, de modo eficaz, a integrar as empresas nos distintos segmentos da Engenharia e da Construção da América Latina, com a economia européia".
Natalia Faig, executiva da JCB, acha que a crise é fugaz. Tanto assim, que outros mercados, dentre eles o da Alemanha e da França, estão se recuperando. Ela considera necessário, porém, que se olhe com maior atenção para países como o Brasil, onde a empresa está montando uma segunda fábrica. A unidade, com 32 mil m², está em adiantada fase de construção em Sorocaba (SP), perto das linhas de produção que o grupo britânico já mantinha. Ela vem produzindo retroescavadeiras no Brasil desde 2001 e, escavadeiras, desde o ano passado.
Outros executivos, dentre eles José Garcia (Liebher Ibérica), Oscar Oliveira e João Santos (Barloworld CAT), acham que a feira refletiu o momento de crise, sim. E comentaram que a ausência de alguns grandes fabricantes não pode ser considerada meramente estratégica, mas como decorrência das condições econômicas em alguns países europeus. Daí, entender a quase convocação das empresas locais para que se "internacionalizem".
Sob esse aspecto, foram diversas as jornadas técnicas, com a presença até de representantes do governo espanhol, nas quais as entidades setoriais se manifestaram em favor da maior internacionalização. Deixaram claro que a Espanha já construiu muito ao longo dos séculos. Acumulou experiências em obras notáveis. Basta ver os exemplos recentes em Barcelona, Saragoça e Madri, onde é visível a modernização aeroportuária, viária e ferroviária.

A experiência em obras notáveis
Quem viaja de Madrid a Barcelona, passando por Saragoça, depois de desembarcar no moderno terminal de Barrajas e chega à impecável estação "La Tocha", tem diante dos olhos um modelo prático do que a arquitetura, aliada à engenharia, é capaz de fazer em favor do transporte, com a valorização da estética e da funcionalidade. O trecho Madri Saragoça, equivalente a São Paulo-Ribeirão Preto, é percorrido em cerca de uma hora e meia, a uma velocidade da ordem de 300 km/h.
Trilhando o caminho da internacionalização, muitas empresas já estão instalando filiais e sucursais ou estabelecendo parcerias estratégicas em outros países. Por outro lado, são diversos os países que estão na expectativa de estabelecerem parcerias com empresas da Espanha e de outras nações, para garantir a execução de obras de infraestrutura com qualidade, prazo e dentro dos limites dos funcionamentos que poderão obter.
Paralelamente ao esforço em favor da internacionalização, a concepção das novas máquinas e equipamentos colocados no mercado da Europa e de outras regiões do mundo vem ao encontro das normas ambientais dos países para os quais os espanhóis dizem que estão se voltando: máquinas que apresentam plenas condições de segurança, produtividade e ecoeficiência, dentro da expectativa da sustentabilidade ambiental.
Alguns fabricantes consideraram que estão, com esses parâmetros, modelos como os dumpers da Ausa, oferecidos em diversos tamanhos e formatos, incluindo os articulados, que podem operar em vias férreas e em canteiros exíguos, com muita eficiência.
Outros modelos foram apresentados no pavilhão da Barloworld Finanzauto, uma área de 6 mil m² reservado à exposição de cerca de 50 máquinas Caterpillar. Constituíram novidades o trator de esteiras D7E, que é um trator com motor diesel que alimenta um gerador.Esse gerador, por sua vez, alimenta dois motores elétricos que transmitem energia para as transmisões finais.Além do trator atraíram a atenção a pá carregadeira 988H, a escavadeira 336E, com tecnologia Tier III B, o dumper articulado 735B e a miniescavadeira 300.9, a menor já lançada pela empresa.
A Case se apresentou com as máquinas CX250C, CX300C, CX 350C e CX 370C. Segundo o fabricante, elas operam com sistema hidráulico inteligente e proporcionam rendimento de escavação superior, com menor emissão de gases e consumo reduzido de combustível.
A New Holland se apresentou, dentre outros, com os dois primeiros modelos de sua nova série C de escavadeiras de esteiras: E2645C e E305C. Elas possuem peculiaridades que aumentam a produtividade e o rendimento e seguem, dentro das normas Tier 4.
Dentre outros equipamentos, a Liebher apresentou uma nova grua móvel compacta com capacidade de carga máxima de 45 t : a LTC 1045-3.1, além da grua FlatTop 85EC-B 5 FR. Tronic, apta para operar em áreas urbanas, em es

paços extremamente limitados.

Porto Sudeste
À margem do evento, houve destaque para a divulgação de uma conquista do Grupo Taim Weser, espanhol, selecionado pela LLX, empresa logística do grupo brasileiro EBX, do empresário Eike Batista. A Taim Weser vai elaborar o projeto, fabricar, fornecer e colocar em operação o sistema de correias transportadoras do Porto Sudeste, o novo terminal portuário em construção, em Itaguaí, no litoral do Rio de Janeiro.
Esse terminal privado será de uso misto, embora venha a ser utilizado principalmente para exportação do minério de ferro que a MMX explora em Minas Gerais em conjunto com a Anglo American Brasil. Ele situa-se a apenas 2 km da rede ferroviária da empresa de logística MRS, o que permitirá a recepção direta do minério de ferro proveniente da MMX ou de outros produtores que operam no Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais.
O Porto Sudeste ocupará área de 52 hectares e terá capacidade para armazenar 2,5 milhões de t de minério. Inicialmente ele poderá deslocar 50 milhões de t de minério/ano, com possibilidade de alcançar até os 100 milhões de t/ano. A obra, orçada em R$ 1,8 bilhões, correspondente a 811 milhões de euros, deverá funcionar ainda este ano.
O fornecimento do Grupo Taim Weser inclui todos os equipamentos necessários para as operações de transporte, armazenamento e recolhimento de minério de ferro. É composto por um sistema completo de correias transportadoras, quatro máquinas empilhadeiras-retomadoras tipo rotopala e será fornecido pela filial do grupo no Brasil, a Taim Cade Brasil, conforme se noticiou, durante a feira.

Fonte: Estadão


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