Túnel ligando Santos-Guarujá, representando um conjunto de obras de engenharia estimado em R$ 450 milhões, pode significar o fim ou a redução da travessia feita por balsas, um sistema que se revela precário em época de temporada.
Desta vez é para valer. O governo paulista demonstra disposição em dar uma solução ao tradicional sistema de balsas para a travessia Santos-Guarujá. Recorreu a um projeto antigo, da época do ex-prefeito Prestes Maia que o concebeu há cerca de 60 anos, e considerou, com as alterações e atualizações necessárias, ser ele factível. A partir daí, determinou que até o final deste ano devem ser iniciadas as obras da construção do túnel submarino ligando as duas cidades. A licitação das obras deve acontecer ainda neste semestre.
A reivindicação para a adoção de um sistema mais compatível com a atual movimentação de turistas e negócios entre as duas cidades não é de hoje. E o que se vê na travessia tradicional, em especial na época de temporada, com filas de carros que duram até mais de uma hora, justifica as medidas finalmente determinadas pelo governador José Serra. Contudo, as obras não vão, ao menos em uma primeira hora, representar a marginalização total do sistema de ferryboat.
As balsas continuariam como outra opção para a travessia – quem sabe mais econômica – do que a passagem submarina. De qualquer forma, o túnel traria uma série de vantagens: a travessia poderá ser feita em apenas um minuto e, como o número de balsas será reduzido, haverá menos casos de vazamento de óleo no mar nas operações de travessia e, portanto, menor dano ao meio ambiente, segundo alguns técnicos.
Além disso, o estudo que recomenda a construção do túnel considera que ele pode ter influências na redução dos riscos de acidentes entre balsas e navios cargueiros. Esse pormenor é apontado como muito importante, se levado em conta o fato de que até 2011 a capacidade operacional do Porto de Santos poderá triplicar. Até lá ele poderá movimentar mais de 300 milhões de t/ano.
Pelo estudo, o túnel terá mil m de comprimento: 400 m submersos e 300 m de extensão em cada um dos acessos. Ele terá quatro pistas, incluindo ciclovia, talvez possibilitando a inclusão de espaço para o funcionamento VLT (Veículo Leve sobre Trilhos). A obra deverá ser construída em sítio estudado ao lado da área hoje ocupada pelo sistema de balsas, ligando a Ponta da Praia, em Santos, ao bairro de Santa Rosa, no Guarujá. Os cálculos, segundo a proposta, leva em conta também os planos futuros de ampliação da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), que pretende aprofundar o canal portuário, que passaria a ter 17 m de profundidade.
Os estudos
O estudo disponível sobre a travessia submarina Santos-Guarujá recomenda que a construção dos acessos seja feita nas avenidas Saldanha da Gama (Santos) e Adhemar de Barros (Guarujá) e que o traçado corresponda à interligação já consolidada, via balsas, entre as duas cidades. Isso evitaria interferências em outras áreas já comprometidas com a movimentação tradicional do porto.
O túnel se desenvolverá em região de alta valorização imobiliária prevendo-se número reduzido de desapropriações, o que se refletirá na economia final, uma vez que não haverá desembolsos por conta de pagamento de alta indenizações.
Pelo traçado, a travessia entre as duas cidades poderá ser feito em apenas um minuto. Hoje, o tempo médio de espera, para a travessia via balsas, é da ordem de 20 minutos, período que aumenta para uma hora ou mais na época da temporada.
O engenheiro Tarcísio Celestino, presidente do Comitê Brasileiro de Túneis, acredita que a obra poderá ser executada em um ano, levando-se em conta as condições normais de construção de obra do gênero. Segundo ele, há túneis construídos em cronograma semelhante e em condições consideradas até mais complexas do que aquelas observadas no estuário de Santos.
Embora haja quem questione o túnel, inclinando-se pela solução que aproveite a ligação pelo continente, algumas autoridades vêm se manifestando favoravelmente à travessia submarina. Foi em meio a essas discussões, que o governo já se decidiu: o túnel será construído.
Fonte: Estadão