Um episódio na visita a uma obra de engenharia no México

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Viajávamos por uma estrada pedagiada da região central do México. Atravessávamos o estado de Michoacán, àquela altura, já no Distrito de Rego General Lázaro Cárdenas, o político que estruturou o Partido Revolucionário Institucional (PRI) e realizou a reforma agrária idealizada por Emiliano Zapata. Éramos três jornalistas e um engenheiro da Odebrecht, Jorge Gavino, gerente de contrato. Ele dava praticamente por encerrados os trabalhos do projeto hidroagrícola de Michacán, no município de Múgica, para onde seguíamos.

A conversa do engenheiro, à margem das questões das obras, uma represa e dois canais, um deles de 35,5 km de extensão, que se destinavam a fortalecer o agronegócio e a pecuária locais, desenhava o perfil econômico da região e respondia a algumas indagações sobre a violência do narcotráfico, que ali é considerada muito forte.

Embora, no percurso, paisagens semelhantes àquelas traçadas na prosa de Juan Rulfo e personagens que lembravam aqueles do universo de outro escritor mexicano, Carlos Fuentes, nos parecessem um tanto desfocados à luz de um passado próximo ou distante, o fato é que a cada curva do caminho a impressão era a de que o velho México continuava o mesmo.

De repente, a surpresa: dezenas de pessoas, a maioria encapuzada, haviam tomado de assalto uma praça de pedágio. Os funcionários da concessionária tinham sido colocados para fora do local pelos desconhecidos, identificados como um grupo ruidoso de estudantes normalistas. Estes passaram a operar as catracas e a exigir o pagamento pela passagem dos carros. O engenheiro pediu que nada falássemos, pois de imediato trairíamos a nossa procedência estrangeira. Ele já estava familiarizado com a língua e com os costumes locais e estabeleceria o diálogo.

Durante a conversa, curta, sucinta, houve um momento de tensão, que ele cuidou de dissipar. Explicou ao grupo que estávamos a serviço, indo para as obras do projeto hidroagrícola, que alguns deles certamente conheciam. Criticou a cobrança indébita, pois o grupo não estava fornecendo o comprovante do pagamento de pedágio de que ele precisaria para prestar conta.

Enquanto o diálogo prosseguia, procurei ler alguma coisa nos olhos dos homens mascarados. Alguns não conseguiam disfarçar a tensão, embora a maioria se mostrasse controlada.

O engenheiro, natural do estado do Rio de Janeiro e já há alguns anos no México, tinha lá os seus trunfos. Era conhecido naquela rota, por onde passava duas ou três vezes por semana e privava de bom relacionamento com lideranças dos pequenos proprietários de terra. Estes eram os beneficiários diretos do projeto hidroagrícola. Ele explicou que, durante anos a fio, projeto jamais saíra do papel. Finalmente era dado como concluído depois de entregue à responsabilidade da construtora brasileira. E se acreditava que muitos dos manifestantes no pedágio saberiam que possivelmente a maior parte do contingente dos trabalhadores da obra era formada por pessoas da região.

Depois de liberados e já nas imediações da obra, o engenheiro falou: “Isso a que vocês assistiram é um pequeno episódio que, de certa forma, ilustra os riscos pelos quais passa a engenharia brasileira na exterior.” Mais tarde, com um grupo de Mariachi alegrando um almoço em ambiente campal, dávamos o episódio por encerrado. Encerrado, mas não esquecido.

A “Flor do Cerrado” de Niemeyer

A Torre Digital de Brasília, construída naquela capital e inaugurada no dia 21 de abril deste ano (2012), na festa dos 52 anos da cidade, é outro legado que o mestre Niemeyer deixou ao País. Foi construída pela Mendes Júnior e tem 120 m de altura. No topo está a torre metálica que recebe as antenas de transmissão das emissoras de TV. Os dois braços que saem do caule sustentam as cúpulas aos 60 m e 80 m de altura.

Frase da coluna

Existem apenas dois segredos para manter a lucidez na minha idade: o primeiro é manter a memória em dia. O segundo, eu não me lembro”.

De Oscar Niemeyer, falecido em dezembro,em uma de suas tiradas memoráveis.

A Mendes Júnior e Niemeyer

A Mendes Júnior começa agora em 2013 a construção de mais uma obra projetada por Oscar Niemeyer. O arquiteto, falecido em dezembro último, dedicara-se, em 2006, à elaboração do projeto da Catedral Cristo Rei, na capital mineira. Segundo o contrato, no valor de R$ 100 milhões, que foi assinado pela construtora com a Arquidiocese de Belo Horizonte, a edificação deverá ficar pronta em dois anos. A Mendes construiu diversas obras do mestre. A primeira que ela executou foi o Sambódromo (RJ), que ficou pronto para o Carnaval de 1984.

Green Building

A Construtora Espaço Aberto, tradicional em Santa Catarina, foi a responsável pela construção do edifício do Tribunal de Contas do Estado, que acaba de ser inaugurado em Florianópolis. O projeto,de autoria do arquiteto Manoel Dória, da Dória Lopes Fiúza, que tem sede em Curitiba e escritório em Florianópolis, adotou o conceito Green Building na construção.

OAS no Haiti

Haitianos da região de Jérémie revoltaram-se contra a saída da OAS das obras de uma rodovia no sul do país. Quando viram que a construtora brasileira recolhia máquinas e equipamentos do canteiro, paralisando as obras, sob o argumento de que o governo não desapropriava áreas para a continuidade da estrada, eles saíram em protesto. Temiam o fechamento de postos de trabalho.

Gestão de estádios

Por aqui, a OAS Arenas, que vai gerir os estádios da Fonte Nova (BA), das Dunas (RN) e do Grêmio (RS), está de olho também no Maracanã (RJ) e no Mané Garrincha (Brasília). Quem revelou esse apetite da empresa por gestão de estádios foi Carlos Eduardo Paes Barreto, da OAS Arenas, em contato com a imprensa.

Temporais e áreas de risco

O prefeito Fernando Haddad começa a sua administração enfrentando dois problemas jamais resolvidos em São Paulo: as obras de prevenção contra enchentes e um mapeamento, feito pelo IPT, apontando a expansão das áreas de ris
co na cidade. Nelas, o número de pessoas em situação de risco soma 519 mil. E aí?

Custa muito evitar apagões?

Custa muito, sim. O cálculo, feito pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), mostra que, caso o setor elétrico queira evitar futuros apagões, terá de investir nada menos que R$ 268,8 bilhões até 2021. Nenhum centavo a menos. E, até aquela data, terá de construir usinas hidrelétricas capazes de gerar 65 mil MW. Só isso.

Zanettini premiado nos EUA

O arquiteto Siegbert Zanettini acabade receber, em San Francisco, Califórnia (EUA), o prêmio David Gottfried Global Building Entrepreneurship Award 2012, promovido pela ONG World Green Building Council. É o reconhecimento da postura empreendedora e pioneira do profissional no desenvolvimentode novas tecnologias, sistemas de qualidade e eficiência na indústriada construção.

Mais cimento do que alimentos

A 2ª Conferência USP sobre Engenharia, na Escola Politécnica, mostrou que a construção civil precisa, com urgência, inovar para aproveitar melhor os recursos naturais. Se isso não acontecer, em 20 ou 30 anos ela se tornará inviável do ponto de vista da sustentabilidade. “Hoje, a construção civil é responsável pela metade do consumo de toda a matéria-prima usada pela humanidade”, informa o pró-reitor de Pós-Graduação da USP, Vahan Agopyan, acrescentando: “Consumimos mais cimento do que alimentos.”

Operação Porto Seguro

Luciano Amadio, presidente da Apeop, diz que a entidade aplaude as medidas da presidente Dilma Rousseff, que demitiu e afastou funcionários denunciados no curso da Operação Porto Seguro, deflagrada pela Polícia Federal em São Paulo. Ele torce “para que tais medidas provoquem um salto de qualidade e eficiência na atuação de órgãos estatais”. Sobre as agências reguladoras, diz ele: “Temos cobrado a autonomia e a valorização delas, bem como a prevalência da capacitação técnica de seus dirigentes, sem nenhum tipo de aparelhamento político-partidário”.

Academia Nacional de Engenharia

José Ayres de Campos, que recentemente assumiu a diretoria de investimentos da Arena Pernambuco e da Cidade da Copa, no Recife, é, desde o mês passado, membro titular da Academia Nacional de Engenharia. A posse ocorreu no Arsenal da Marinha, Rio de Janeiro. Ele considera o fato um dos mais importantes de sua trajetória profissional.

Ponte Gilberto Amado

A ponte estaiada Gilberto Amado, sobre o rio Piauí, ligando os municípios de Estância e Indiaroba, em Sergipe, encontra-se pronta, mas até o começo deste mês (janeiro/2013) não fora entregue. A alegação é de que deveria ser inaugurada pela presidente da República, que ainda não encontrara data na agenda para aquele fim. Com 1.712 m de extensão e 14,20 m de largura, ela é considerada, hoje, a maior do Nordeste. Foi projetada pelo engenheiro Catão Ribeirão (Enescil) e construída pela Heleno & Fonseca Construtécnica. Valor da obra: R$ 124 milhões.

Fonte: Nildo Carlos Oliveira


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