Governo Berlusconi está decidido a construir a ponte entre Calábria e Sicília para
estimular a economia das duas regiões consideradas as mais pobres da Itália
Uma ponte quase três vezes maior do que a Golden Gate, de San Francisco, nos Estados Unidos, só que desta vez ligando a Sicília ao continente, na Itália. Este é o projeto da ponte estaiada sobre o Estreito de Messina, que terá 3,6 km de extensão e quase 55 mil toneladas de peso. A construção será feita por consórcio liderado pela empresa italiana Impregilo. Promessa de campanha do primeiro-ministro Silvio Berlusconi em 2001, estima-se que a obra deva custar mais de 6 bilhões de euros. Sairão dos cofres públicos italiano cerca de 61% do total necessário. O resto será apontado por investidores privados, que responderão pela operação e vão cobrar pedágio dos usuários.
Depois de icar mais de três décadas na gaveta, o projeto poderá finalmente sair do papel: o governo italiano anunciou, recentemente, que vai retomar a construção da ponte como parte de um programa estratégico de transportes para o país, que demandará investimentos totais da ordem de US$ 23 bilhões, criando milhares de empregos e estimulando a debilitada economia italiana.
O projeto é duramente criticado por vários setores da Itália, principalmente os ligados ao meio ambiente, que temem danos à lora e fauna local, e aqueles que não acreditam que o projeto seja seguro, apesar de os engenheiros projetistas afirmarem que a ponte resistirá a sismos de até 7,1 graus na escala Richter. Outros críticos dizem temer que uma grande parte dos recursos públicos seja desviada para as máfias da Sicília e da Calábria, que continuam ativos no sul da Itália.
A expectativa é que a inauguração aconteça em 2016. Atualmente o recorde de mais extensa ponte suspensa do mundo é da ponte de Akashi-Kaikyo, no Japão (1.991 m).
A obra ligará a Sicília à Calábria e terá o maior vão livre do mundo, com 3.300 m. Terá duas torres principais de 382 m de altura. Ela será suspensa por 4 cabos de 1,24 m de diâmetro, e terá 12 faixas de tráfego e duas faixas no meio para trens. A previsão é de que pelo menos 40 mil pequenos comerciantes sejam beneficiados com a construção. Sua vida útil pode chegar a 200 anos.
A despeito de todas as críticas ao projeto, o governo italiano segue firme na decisão de colocá-lo em execução. No ano passado, o ministro das Relações com o Parlamento, Elio Vito, destacou que as obras sobre o Estreito de Messina estão no objetivo estratégico do governo de Berlusconi. "A conclusão da ponte sobre o estreito é acompanhada por um processo de modernização de toda a infraestrutura da rede sul e diz respeito às redes viária, ferroviária e marítima", disse o ministro ao Parlamento.
A executiva da Impregilo no Brasil, Ombretta Bedoni, destaca que as obras de travessia da ponte suspensa também incluem os sistemas para a inspeção, manutenção e antisabotagem. Para as obras de travessia, segundo a executiva, serão utilizados 160.000 m³ de concreto para as fundações das torres, 560.000 m³ de concreto para os blocos de ancoragem, 108.000 t de estruturas metálicas para as torres, 70.400 t de cabos de suspensão e estais e 66.500 t de escoamento metálico.
Quanto às ligações rodoviárias, os números também impressionam – serão 1,6 km de viadutos; 2 km de túneis artificiais; 49,9 de túneis naturais; 8km de trincheiras e aterros.
Uma ponte para unir duas Itálias
A região do estreito de Messina, conhecida como Mezzogiorno, é onde se concentram os piores indicadores econômicos e sociais da Itália. A porção de terra situada no continente, a Calábria, detém a pior taxa de desemprego do país, quase nenhuma indústria e enfrenta a escalada do crime organizado. No lado oposto, a cidade siciliana de Messina não tem tido melhor sorte. Ao longo de séculos a população local vem sofrendo com terremotos e pragas como malária e cólera. As mazelas decorrentes da pobreza, no entanto, são compensadas por uma das mais belas paisagens do país.
É com a intenção de explorar o potencial turístico da região, impulsionar o desenvolvimento econômico local e, por tabela, melhorar a vida da porção menos afortunada da população italiana, que o governo do país anunciou a construção da ponte.
Atualmente, a ligação entre Calábria e Messina é feita por meio de ferry boats, numa travessia de uma hora. De tão intenso, o tráfego de passageiros provoca a formação de filas nas quais se espera horas a fio a vez de cruzar de um lado para outro. A ponte foi idealizada para resolver de vez o problema.
O empreendimento teria tudo para estar fazer a alegria dos habitantes do Mezzogiorno. Mas não é o que acontece. As promessas de construção da ponte começaram a ser ouvidas no início da década de 70. Sucessivos adiamentos deixaram a população descrente, tanto que um eufemismo para atrasos no pagamento de dívidas na região passou a ser a frase: "Pago-lhe quando a ponte ficar pronta".
Fonte: Estadão