Nos próximos cinco anos, a Vale deverá investir cerca de US$ 9,6 bilhões no binômio ferrovia/porto do Sistema de Logística Norte, que compreende a Estrada de Ferro Carajás (EFC) e o Porto de Ponta da Madeira, em São Luiz (MA), tendo como meta ampliar a capacidade de escoamento do minério de ferro de Carajás, no Pará. Somente para a ferrovia, o plano de negócios da empresa prevê investimentos de US$ 5,9 bilhões, a serem aplicados na duplicação de 546 km dos 892 km que compõem a ferrovia; ampliação de pátios de manobra, substituição de trilhos, dormentes e aparelhos de mudança de via; e compra de material rodante (vagões e locomotivas).
Os restantes US$ 3 bilhões serão destinados à construção de um terceiro píer em Ponta da Madeira, à compra de novos equipamentos para o recebimento do minério, entre eles quatro viradores de vagões, dois carregadores de navios, empilhadeiras e recuperadoras para pátios de minério. Para melhorar a interface porto-ferrovia serão construídos seis novos pátios para estoque do minério com destino aos mercados de exportação.
A Estrada de Ferro Carajás compreende uma ferrovia de 892 km, em linha singela e bitola de 1,60 m, que interliga a Serra dos Carajás, no Pará, ao porto de Ponta da Madeira, onde se localiza o seu centro de controle operacional. A ferrovia é substancialmente utilizada para o escoamento dos minérios extraídos e beneficiados pela Vale, que representam, cerca de 80% do volume anual transportado. De janeiro a dezembro de 2007, a EFC transportou 100.360 mil t de produtos, sendo 76.617 mil t de minério próprio, ponderados por quilômetro útil (TKU) percorrido.
A estrada de ferro também efetua transportes de outras cargas para terceiros, como ferro-gusa, grãos, veículos e combustíveis (representando, juntos, os 15% restantes do volume anual transportado), realizando ainda o transporte de passageiros. Em 2007 foram conduzidos pela EFC 352 mil passageiros.
Mais que dobrando a produção
Com os investimentos previstos, a Vale busca capacitar o sistema para o aumento de produção de minério de ferro, que deverá alcançar, até 2011, a marca de 230 milhões t/ano. Esse número será atingido com a produção atual de Carajás Serra Norte, de 100 milhões de t/ano, que deverá chegar a 130 milhões até 2011. A esse volume deverão ser adicionadas mais 100 milhões t/ano, com a entrada em operação de Carajás Serra Sul.
Boa parte dos investimentos em via permanente está sendo direcionada para ampliação de 56 pátios de cruzamento ao longo de toda a via. Somente em obras de ampliação de pátios, a Vale investiu, até o momento, US$ 400 milhões. São intervenções necessárias para capacitar o sistema ferroviário a operar os comboios de trens com 330 vagões, tracionados por quatro locomotivas, que começaram a circular em abril. A nova configuração dos trens resulta em ganhos de produtividade da frota e economia de combustível. Até então, o trem-tipo (usado na maioria das operações) de Carajás era formado por 210 vagões, tracionados por duas locomotivas.
Para permitir a operação de trens 50% maiores, a E. F. Carajás instalou em suas locomotivas o Locotrol. Trata-se de um sistema que controla remotamente, através de ondas de rádio, a potência de tração e frenagem em todas as locomotivas do comboio. O comando parte do maquinista da primeira locomotiva que, à distância, opera as demais.
Com trens maiores, a ferrovia pôde diminuir de 12 para nove o número de trens que circulam por dia, pela via. O novo modelo de operação exigirá ainda a compra 147 locomotivas e 2.630 novos vagões, dos quais mil unidades já foram contratadas com a Amsted-Maxion. Outros 6,6 mil vagões serão necessários quando o terminal de Ponta da Madeira estiver operando a ritmo de 230 milhões t anuais, entre o final de 2012 e início de 2013.
Ferrovia ‘’verde’’
Ainda como parte do programa capacitação da Logística Norte, está prevista a construção de uma nova ferrovia, com 104 km de extensão, em via dupla, ligando Serra Sul ao Porto de Ponta da Madeira.
Na nova ferrovia está prevista a construção de 10 pontes e viadutos, num total de 1.600 m. O traçado prevê ainda dois túneis, somando 1.500 m, sendo o primeiro nas proximidades de Sossego e o segundo em Parauapebas (PA). De acordo com o engenheiro Camillo Francisco, analista de projeto, foram propostas cinco alternativas de traçado. A escolhida, por oferecer melhores condições operacionais, prevê raio máximo de curva de 85o e rampa máxima de 1% no sentido porto-mina (trem vazio) e 0,4% no sentido contrário, com trem carregado.
Para a elaboração do projeto conceitual a Vale contratou a Minerconsult Engenharia, e para o projeto básico, a Vega Consultoria e Engenharia. Só para a terraplanagem, estima-se que serão removidos cerca de 18 milhões m3 de terra, e para lastro serão adquiridos cerca de 2 milhões de m³ de brita. Os trilhos a serem instalados são TR 68 e os dormentes serão de aço, seguindo uma nova tendência em Carajás, que está gradativamente adotando esse material mesmo na linha tronco, em substituição aos dormentes atuais.
A Vale também vem realizando testes com dormentes de plástico e borracha reciclados, combinados com materiais como bagaço de cana. Cerca de 1.200 dormentes desse tipo já foram instalados ao longo de Carajás, sem falar nos 115 mil dormentes de aço e 8 mil dormentes de concreto. Apenas com o uso do aço no lugar da madeira, mais de 500 mil árvores deixaram de ser derrubadas. A meta da Vale é, gradativamente ir substituindo, a cada ano, tanto em Carajás quanto na ferrovia Vitória a Minas, cerca de 400 mil dormentes de madeira por aço, o que equivale à preservação de 100 mil árvores/ano.
Fonte: Estadão