No início desta década, o Grupo Votorantim anteviu a oportunidade de ampliar a produção e abocanhar maior fatia de mercado de celulose, que já se destacava como uma das commodities de demanda global crescente. Para isso posicionou-se como grande fornecedor mundial de celulose de fibra curta branqueada, fabricado a partir de madeira de eucalipto, de cuja tecnologia o Brasil tem o domínio, além de o País contar com grandes áreas disponíveis para plantio. Para ampliar a produção de celulose, tendo a meta de chegar a alcançar o total de 3,5 milhões t de celulose e 450 mil t de papel, até 2012, e atingir a cifra de US$ 4 bilhões de receita líquida até 2020, a Votorantim Celulose e Papel (VCP) realizou diversos ajustes em sua estratégia de crescimento. No início do ano concluiu o processo de permuta de ativos com a International Paper (IP), em que a empresa recebeu a unidade ainda em construção em Três Lagoas (MS), no valor de US$ 1,15 bilhão, além de terras e florestas plantadas. Em troca, ela cedeu à IP uma fábrica e a base florestal localizadas na região de Luiz Antônio, no interior de São Paulo. Em paralelo, a VCP desencadeou um processo de desinvestimento – com a venda da unidade de Mogi das Cruzes e de ativos de menor escala da antiga Ripasa – e promoveu mudanças em sua estrutura gerencial. Com isso, as unidades passaram a focar nas suas reais vocações: Jacareí produz celulose, Americana (ex-Ripasa) produz papéis commodities; Piracicaba produz papéis especiais de maior valor agregado. Mas a nova estratégia de crescimento apóia-se principalmente em dois pólos ainda em formação: o Projeto Horizonte, representado pela fábrica de celulose em Três Lagoas (MS) que ficará pronta em 2009 com capacidade para 1,3 milhão t/ano de celulose; e o Projeto Losango, na parte Sul do Rio Grande do Sul, em fase de licenciamento ambiental e início de formação da base florestal, com vistas à construção de outra unidade com capacidade para 1,2 milhão t/ano de celulose (Projeto Losango). “Temos de projetar com pelos menos dois ciclos de antecedência”, destaca o diretor técnico da VCP, Francisco F. Campos Valério. Cada ciclo de plantio e colheita de eucaliptos leva sete anos. Em 2006, a VCP alcançou recorde histórico de volumes de vendas anuais, com 1,6 milhão t, sendo 942 mil t de celulose e 650 mil t de papel, com crescimento de 8 % em comparação a 2005. As obras da planta de Três Lagoas, iniciadas em 2006, estão em pleno andamento com todos os processos de compra de equipamentos concluídos. A Serpal responde pelas obras civis do prédio do prédio da máquina de Secagem de celulose, além de concorrer a outros contratos no sítio, em vista de sua ampla experiência na área, “sobretudo em projetos já realizados para a própria VCP”, enfatiza Francisco Valério. Segundo ele, esta deverá ser a maior planta do mundo de fabricação de celulose, tanto em produção como em dimensão.
PROJETO HORIZONTE
A área total destinada ao Projeto Horizonte, no Mato Grosso do Sul, chega a 225 mil ha, incluindo áreas próprias e arrendadas, dos quais 146 mil ha plantados com eucalipto. Esta base florestal será suficiente para suprir a primeira linha de produção, com raio médio estimado entre a floresta e a unidade industrial de 57 km. A empresa tem contrato com a IP para fornecer 160 mil t/ano de celulose para a produção de papel, em máquina instalada na mesma área. O restante será direcionado para o mercado externo. Ao mesmo tempo, a VCP dá largada ao Projeto Losango, investimento inicialmente estimado em US$ 1,5 bilhão, com início das operações previsto para 2011. O projeto caracteriza-se pela sustentatibilidade, prevendo ações de geração de empregos e renda na região, qualificação da mão-de-obra e melhorias dos equipamentos urbanos locais. Francisco Valério, engenheiro agrônomo que atua na área de celulose há mais de 30 anos, não esconde o grande otimismo com os projetos de escala tão ampla. “Um projeto desse porte atrai diversos outros empreendimentos ao seu redor”. A estimativa, segundo ele, é de que o Projeto Horizonte represente um impacto de 0,15% no PIB brasileiro, 13,5% no PIB de Mato Grosso do Sul e 300% no PIB do município de Três Lagoas. No caso do Projeto Losango, o empreendimento inclui 350 produtores rurais, com 8,5 mil ha cultivados, combinando o plantio de eucaliptos com a produção de grãos e a criação de animais. “Não é só ir lá e plantar, não. É preciso deter muita tecnologia para garantir a produtividade e qualidade do produto, além do equilíbrio sócio-econômico da região. Um exemplo é o conhecimento que nós repassamos para estes produtores, ele é o mesmo utilizado pela empresa”, finaliza. (MRS)
Fonte: Estadão