Eu o encontrei várias vezes no começo dos anos 1970, no escritório que dividia com outras duas inteligências da engenharia estrutural: Oswaldo Moura Abreu e Nelson de Barros Camargo. O escritório funcionava no centro histórico de São Paulo. Era acanhado, mas agradável. Cerca de uma década antes havia participado de um projeto singular: o cálculo estrutural do Edifício Itália.
Falo do engenheiro Waldemar Tietz que, com Oswaldo e Nelson, mergulhara no projeto do edifício, objeto de um concurso cujo vencedor fora o arquiteto Franz Heep, à época titular da então chamada Cadeira de Grandes Composições da Faculdade de Arquitetura Mackenzie. Haviam participado do concurso outros nomes renomados: Gio Ponti e Gregori Warchavchik, que projetara a Casa Modernista.
Já haviam se passado alguns anos da inauguração do edifício. Ela ocorrera em 1965, mas o edifício continuava, como ainda hoje continua, a despertar curiosidades técnicas e turísticas, tanto pela altura quanto pelo restaurante que lá ainda funciona. E não era para menos o interesse em torno dele, em especial na época. Era a maior estrutura de concreto armado do gênero, na cidade, e uma das maiores da América Latina. Fora projetado com 151 m de altura, a partir do nível da esquina das avenidas Ipiranga e São Luiz, e com 46 pavimentos. Tudo verticalizado num terreno de 2.382 m².
Tietz, que nasceu na Rússia em 1889, se tornaria famoso, não apenas pelo cálculo estrutural daquele prédio, cujo nome oficial é Circolo Italiano. Ele já havia participado do cálculo do Edifício Copan e esteve envolvido com os trabalhos de construção das instalações da Câmara Municipal de São Paulo (Palácio Anchieta), do ginásio de esportes do Parque Ibirapuera e de outras obras. Na fase do “milagre brasileiro” calculou viadutos da Ferrovia do Aço.
Quando o encontrei, ele falava bastante de outras obras passadas ou futuras. Mas a fixação ainda era o Edifício Itália, que se distinguia não só pela altura, mas pelo formato oval, que lhe conferiu uma expressão plástica então considerada única em São Paulo. Sempre mantendo sobre a mesa algum exemplar da revista Structura, ele dissertava a respeito de tudo, mas voltando-se obsessivamente ao velho tema: a enorme edificação da esquina famosa.
Em uma de nossas conversas lhe perguntei pelo vento. Como fora resolvido o problema do vento naquelas alturas. Um edifício daquele tamanho não poderia ficar exposto impunemente à ação de ventanias. E ele explicou: “Pois é, menino. Para evitar riscos, a caixa dos elevadores foi concebida e localizada no centro do prédio. As paredes de concreto armado do poço dos elevadores conseguiriam absorver pelo menos 90% do esforço dos ventos. Dos 10% restantes, as cortinas laterais, de concreto armado, dariam um jeito”.
Guardei a explicação, que vim encontrar mais tarde em literaturas técnicas do passado, que contavam a história do edifício. Mas sempre me ficou na memória a imagem do velho calculista, que havia trabalhado na Ásia e na Europa e que por aqui aportara fugindo da antiga União Soviética. Deixou seu nome inscrito na construção do edifício, que hoje faz parte da história da engenharia e da arquitetura da Pauliceia. Num desses dias li o seu nome. Waldemar Tietz, que morreu em 1978, batiza uma avenida do bairro de Arthur Alvim.
Fonte: Revista O Empreiteiro