A enxurrada de documentos – relatórios, telegramas, cartas, anotações – vazada por esse corajoso australiano Julian Assange, que está colocando a nu o cinismo da diplomacia de algumas potências do mundo, não deixa de desvendar aspectos sumamente positivos também para o Brasil.
Ele virou a diplomacia pelo avesso. Colocou saia justíssima nos que posam de donos do poder global, mostrando que eles não têm medidas, quando se trata de dissimular para esconder o que no fundo pensam o que efetivamente pensam. E, quando expõem os seus pensamentos, acabam se expondo como realmente são: megalomaníacos, cínicos, autoritários. Mais do que isso: têm a exata medida da mediocridade. Eles ridicularizaram até a posição do governante brasileiro na reunião sobre as mudanças climáticas.
Com relação ao Brasil, há outros pontos que os vazamentos estão difundindo. As jazidas de minérios estratégicos, por exemplo. Não que não saibamos, desde que o mundo o mundo, dos interesses, sobretudo norte-americanos, pelas nossas reservas. Tudo isso está cuidadosamente levantado e registrado, com todos os quantitativos e potencialidades esmiuçados. O mapeamento é completo. E os olhos gulosos focam especialmente o nióbio.
Acredito que a Engenharia brasileira deveria manifestar-se sobre a importância dessas jazidas, tendo em conta o que elas significam para o desenvolvimento brasileiro, notadamente a infraestrutura que lhe deve dar suporte. Nesse sentido, é da maior relevância as matérias que têm saído na imprensa, mostrando onde aquele minério é comumente utilizado.
O assunto é amplo e deveria ser explorado ainda mais, indicando o quanto ele se tornará importante para o futuro brasileiro nas indústrias automobilística e aeroespacial, na cadeia produtiva da construção, no dimensionamento das grandes obras de infraestrutura, sobretudo pontes e viadutos, e em outras áreas para cuja evolução ele é considerado imprescindível.
Ainda bem que apareceu o WikiLeaks para mostrar que o rei está nu e que a diplomacia não deveria ser um festival de mesuras, mas a arte de se colocar a verdade em dia e a favor do mundo.
Fonte: Estadão