6ª edição do evento reflete expansão setorial

Lideranças setoriais, presentes na 6ª edição do Concrete Show, em São Paulo (SP), observam que o evento, com o conjunto de seminários técnicos, e a feira, com expositores nacionais e internacionais, documenta a expansão da cadeia produtiva da construção

No conjunto, nos três dias do Concrete Show (29 a 31 deste mês), foram mais de 100 palestras técnicas simultâneas e uma presença da ordem de 550 empresas nacionais e internacionais que procuraram exibir produtos e insumos responsáveis pela evolução, gradativa, da cadeia produtiva da indústria do concreto e da construção.
José Carlos de Oliveira Lima, presidente do Conselho Superior da Indústria da Construção da Fiesp e que atualmente coordena os trabalhos do Construbusiness 2012, Arcindo Vaquero y Mayor, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Concretagem (Abesc), e Sérgio Watanabe, presidente do Sindicato da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP) foram algumas das lideranças que estiveram no Centro de Exposições Imigrantes, em São Paulo, e que se manifestaram a respeito da mostra.
Ficou claro, para eles, que há empenho do governo, nas três instâncias administrativas, de ampliar o volume de obras em segmentos como a habitação social (programa Minha Casa, Minha Vida), e na área da infraestrutura. Esse esforço dá impulso a todos os segmentos da cadeia produtiva da construção, embora as obras rodoviárias da malha federal continuem estagnadas. E as empresas estrangeiras, que ali compareceram, reforçaram essa evidência, na medida em que se apresentaram ao mercado brasileiro – e de outros países da América Latina – com a disposição de participar dessa expansão setorial.
Os seminários, a maior parte com temas muito específicos, trouxeram pontos de vista novos sobre a racionalização de sistemas construtivos que utilizam as possibilidades da tecnologia do concreto; colocaram em destaque assuntos de fundações e geotecnia nas obras de infraestrutura e voltaram a tocar numa tecla que permanentemente suscita uma inquietante interrogação: as recomendações para o aumento da vida útil das estruturas de concreto. A revista O Empreiteiro está buscando estreitar contatos com técnicos e pesquisadores nessa área para, gradativamente, divulgar trabalhos – ou resumos deles – que tratem desse assunto, a fim de mantê-los como permanente material de consulta.
Entre as palestras dos seminários se incluem as seguintes: Viabilidade e execução da alvenaria estrutural (engenheiro Eduardo Bilemjian, da Bilenge Construtora); Parede de concreto em edifícios altos (engenheiro Alexandre José de Aragão Pedral Sampaio, gerente de contratos da OAS Empreendimentos, empresa que está adotando esse sistema construtivo em prédios com mais de cinco andares, sendo um exemplo o empreendimento Jardim dos Girassóis, em Salvador (BA); Industrialização da construção (engenheiro Guilherme Gallo, que falou sobre a adição do mineral metacaulim na melhoria das propriedades mecânicas e de durabilidade do concreto); Tecnologia aplicada na pavimentação de concreto (Steven Bawman, diretor internacional da Gomaco, que tem tradição na pavimentação de concreto em obras no Oriente Médio, América Latina e Europa); Projeto de edifícios em alvenaria estrutural com uso de lajes pré-moldadas (Luís Sérgio Franco); A experiência da Petrobras na qualificação e na certificação de pessoas (engenheiro Geraldo Pedrosa, da Sequi/Petrobras); BIM (Building Information Modeling) na prática para engenheiros estruturais (engenheira Liberdade Izaguirre, da Nemetschek do Brasil); e Segurança de barragens (engenheiro Carlos Henrique Medeiros) e Benefícios das barragens e reservatórios (engenheiros Erton Carvalho, presidente do Comitê de Grandes Barragens, e Flávio Miguez de Mello, ex-presidente da mesma entidade).
Arenas multiúso. O engenheiro Fernando Rebouças Stucchi, da EGT Engenharia, falou no evento sobre o tema Arenas multiúso para a Copa 2014 no Brasil e a importância da industrialização em concreto para a engenharia estrutural. Ele sublinhou a importância do uso de peças pré-moldadas de concreto nas arenas esportivas para a Copa do Mundo de 2014, como solução construtiva capaz de acelerar as obras. “A pré-moldagem gera racionalização. São elementos parecidos, num processo industrial. É muito mais rápido produzir com pré-moldado”, disse Stucchi à revista O Empreiteiro.
Sua empresa, a EGT, participa da construção de cinco arenas esportivas: Itaquerão (SP), Cuiabá (MT), Grêmio (RS), Recife (PE) e Fonte Nova (BA). Stucchi avalia que a indústria brasileira de construção civil, como um todo, requer investimentos continuados em todos os seus segmentos para não ficar defasada. Ele diz que “a pré-moldagem de peças de concreto precisa extrapolar, como exemplo de técnica de racionalização de custos, para outras áreas, como a portuária, metrôs e seus túneis, além de pontes e viadutos”.

Participação da ABCP. A Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), promotora, entre outros, do seminário Estradas de Concreto: uma escolha sustentável e inteligente, divulgou o avanço do pavimento de concreto em todo o País.
Ronaldo Vizzoni, gerente nacional de infraestrutura da entidade, explicou que o uso de concreto na construção de estradas de rodagem era já uma tradição no Brasil, mesmo antes de 1950. Entretanto, transformações econômicas, a partir de 1970, viraram o jogo contra o concreto, tornando o pavimento asfáltico economicamente mais atraente. A luta para que o concreto recuperasse seu espaço como solução construtiva de pavimentos foi intensificada a partir de meados de 1990. Hoje, 15 anos depois, a participação do concreto na malha viária brasileira pavimentada é ainda pequena, mas passou de 1,5% para 4%.
Ele garante que o concreto, em pavimento dimensionado para grande volume de tráfego pesado, é imbatível. E cita como exemplos os corredores de ônibus das grandes cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro. Além disso, o material tem sido aplicado na execução das pistas dos principais aeroportos brasileiros.

Comunidade da Construção. A engenheira Glécia Vieira, também da ABCP, fez o balanço de dez anos da Comunidade da Construção, movimento que busca integrar a cadeia produtiva e melhorar a produtividade dos sistemas construtivos à base de cimento.
Falan
do no seminário Racionalização dos sistemas construtivos à base de cimento, Glécia, que é coordenadora nacional da Comunidade da Construção e da área de Edificações da ABCP, recordou os primeiros tempos, lá em 2002, quando havia poucas obras em curso e os sistemas construtivos empregados ainda não eram tão decisivos.
Mas 2006 ia chegar, e com ele um novo boom imobiliário brasileiro e novas exigências para a industrialização da construção. Era a hora e a vez da alvenaria estrutural com blocos de concreto e das paredes de concreto. Tudo para atender o novo prazo de entrega das obras, da construção ao acabamento, da pressa de logo morar: normalmente reduzido de 18 meses para 10 meses, pontuou Glécia. Em 2010, um novo desafio mereceu ser enfrentado: o de aprimorar a gestão dos canteiros industriais, que haviam aumentado exponencialmente de tamanho, a fim de garantir elevado desempenho.
Os números apresentados pela engenheira, frutos de parceria da ABCP com a E8 Inteligência, dimensionam o mercado atual: do total de obras do segmento imobiliário, 90% delas adotam sistemas construtivos à base de cimento (isto é, estruturas de concreto, pré-fabricados, alvenaria estrutural com blocos de concreto e paredes de concreto). No mercado da habitação popular, o emprego de alvenaria estrutural e paredes de concreto alcança 92% do mercado.

Canteiros de flores

Senhores empreiteiros, por favor, guardem estes nomes: Maria Neusa Pereira de Jesus, Cibele Aparecida, Isaura Inácio dos Santos, Francinete Mauricio Vieira, Elisa Batalha, Márcia dos Reis e tantas outras Marias, Cibeles, Isauras. Pois elas serão vistas muito em breve na sua obra.
Integram um grupo de mulheres que participam do projeto Mulheres que Constroem, parceria educacional e profissionalizante do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de São Paulo (Sintracon-SP) e da Escola de Altos Estudos de São Paulo (Esaesp), com apoio de empresas, como a Schneider e a 3RM.
Desde maio, elas vêm estudando alvenaria, pintura, impermeabilização, gesso dry wall. No Concrete Show, em São Paulo, elas é que são o show, melhores alunas: exibem, vestidas com macacão roxo e capacete cinza, diariamente, os novos predicados para o público, ao vivo, erguendo paredes de alvenaria.
Francinete, que é separada e mãe de quatro filhas, lápis desenhando os olhos, abandonou o emprego de doméstica em casa de família porque “não dão muito valor”. Decidiu investir seu tempo (e economias) nos cursos do Mulheres que Constroem, que são gratuitos mas não oferecem nenhuma ajuda extra a suas alunas, como condução. Cibele, de olhos redondos, é casada e mãe de dois filhos. Diz que o marido fica um pouco enciumado com a perspectiva do futuro emprego da mulher, pleno de homens, que historicamente dominam os canteiros. “Mas está apoiando. Sempre trabalhei em casa de família e quero fazer faculdade. Quero ser engenheira”, sonha, sorrindo.
Todas dizem que chegam à construção civil não para tirar o emprego dos homens, mas para complementar o trabalho deles, como parceiras. O homem tem a força; a mulher, o jeitinho. Elas também já fazem planos de colocar em prática o conhecimento adquirido nas suas próprias casas, na reforma, fugindo dos pedreiros, profissionais hoje muito requisitados nos centros e nas periferias das cidades e que estão custando um dinheirão.
A crescente presença feminina nos canteiros cumpre mesmo uma necessidade econômica, porque o mercado da construção civil é dos mais aquecidos do País nos últimos anos e é preciso, com rapidez, de mais mão de obra qualificada. Sem a mulher o Brasil não constrói. (Guilherme Azevedo)

Fonte: Padrão

Deixe um comentário