O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quer que as liberações de recursos de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) estejam vinculadas com a manutenção de postos de trabalho e ampliação de turnos. Em obras de saneamento, habitação e estruturais como pontes e escolas, o presidente disse que pediu aos ministros que os contratos contemplem exigência de mais vagas. A medida é vista como uma das ferramentas, através dos investimentos públicos, para minimizar os efeitos da crise econômica.
A entrevista exclusiva foi concedida no Palácio do Planalto na última quarta-feira, em Brasília (DF), à Associação Paulista dos Jornais (APJ), que representa os 14 jornais líderes regionais de mercado no Interior de São Paulo, e a Associação dos Diários do Interior (ADI), que cobre os estados da Bahia, Paraná, Minas Gerais, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Além de pedir aos empresários que, em função da crise econômica, reduzam o tempo de realização das obras do PAC com criação de novos turnos, o presidente defendeu maior autonomia dos prefeitos e prometeu, entre outras medidas, estudar mudança na regra que trata da redivisão do bolo do Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA)
Lula considera que a maior parte dos segmentos produtivos do País pode contribuir com a crise sem atrofiar a economia. “A folha de pagamentos é o custo menor na produção de um carro ou de uma coisa qualquer. Então, eu disse para os empresários: eu acho que foi exagero de vocês (demitir), não é justo que façam isso com os trabalhadores, porque se você começa a ter muito desemprego, você tem menos salários, menos renda, menos poder de compra, mais atrofia a economia outra vez. Nós, então, tomamos uma decisão: cada empréstimo que a gente fizer, em dinheiro público, nós vamos ter que vincular à manutenção dos postos de trabalho. Não tem sentido eu dar dinheiro para o Franklin Martins para capital de giro, e ele pega e manda os trabalhadores embora para pagar indenização com o meu dinheiro”, ponderou.
Ao ser indagado da razão do governo não ter exigido contrapartida dos banqueiros para que o crédito liberado dos compulsórios irrigasse o mercado, ao invés de servir a alimentar ainda mais a ciranda dos investimentos, o presidente da República admitiu que a medida exigia vinculação. “No compulsório, depois que foi feito, nós colocamos isso, tanto é que a GM se comprometeu a pagar o salário até março das pessoas, porque eram também trabalhadores contratados com contrato temporário. Mas isso tem que ter uma vinculação e eu acho que é uma questão da responsabilidade do governo, dos empresários”, avisou Lula.
Ele comentou como deve ser realizada a exigência nos empréstimos do governo federal. “Na hora em que você for emprestar o dinheiro, você condiciona para colocar no contrato. Deixem-me dizer para vocês. O que nós estamos fazendo no governo federal? Eu reuni todos os ministros de infraestrutura: o ministro Alfredo Nascimento, o ministro Geddel, o ministro Márcio Fortes e a companheira Dilma e coloquei o seguinte: agora todos os contratos que a gente for fazer com empresas em obras do PAC, nós temos que conversar com os empresários para que eles possam fazer dois turnos ou três turnos. Ou seja, se vai fazer uma estrada, em vez de trabalhar das 7h às 5h ou das 8h às 6h, vamos trabalhar em dois turnos, das 6h às 2h e das 2h às 10h, vamos trabalhar 24 horas por dia”, disse. A exigência desempenha outra vontade presidencial: a criação de mais turnos diários de trabalho. “Este é o ano em que nós precisamos não permitir que haja muito desemprego. Por isso é que nós vamos, então, exigir que as empresas, junto conosco, assumam o compromisso de colocar. Vai construir casas em um bairro, até 10h você pode fazer um barulhinho, depois das 10h você não pode mais. Então, que se trabalhe até 10h da noite, mas que se contrate uma turma a mais. Não é para fazer hora extra, não, é para contratar outra turma. Eu penso que se houver juízo do governo, juízo dos empresários, juízo dos trabalhadores, a gente vai encontrar uma forma de não permitir que outra vez os trabalhadores sejam vítimas, primeiro, de uma crise que eles não têm nenhuma culpa”, reafirmou Lula.
Para os empresários
Lula atacou que os grandes conglomerados estão capitalizados porque “ganharam muito” nos últimos anos e, por isso, pediu que os empresários utilizem para da “gordura acumulada” nos lucros para manter os níveis de emprego.
“Dissena terça-feira (10-02), em uma reunião que eu fiz com empresários, que quem mandou gente embora foi precipitado. No domingo eu fui em um bairro lá em São Bernardo visitar um sobrinho meu, filho da minha irmã. Eu fui visitar a minha irmã, mas ela estava internada, eu vi o meu sobrinho. O meu sobrinho tem um caminhão, ele transporta postes para o Rio de Janeiro, para Porto Alegre. O pai dele, antes de morrer, era o dono do caminhão e ele tinha outro. Hoje está com dois caminhões. Ele não conseguia muita carga, tempos difíceis. Ele me disse que no ano passado ele ganhou mais dinheiro do que ele jamais imaginou ganhar na vida, transportando postes, e que este ano a situação não estava muito boa. Mas ele falou assim: “Tio, eu não vou mandar o motorista embora porque eu estou capitalizado. O que eu ganhei no ano passado dá para eu segurar um pouco”. Os empresários deveriam pensar assim, porque os empresários brasileiros nunca foram tão capitalizados como foram em 2007 e em 2008. Ganharam dinheiro como nunca. Eu conheço empresa que tem 15 bilhões em caixa e mandou gente embora. Ora, então não é justo”, abordou o presidente.