José Carlos Videira – Rio de Janeiro (RJ)
Com inauguração prevista para dezembro do ano que vem, o Trump Hotel Rio de Janeiro promete ser o mais luxuoso hotel urbano do País. Também será o primeiro da América do Sul com a assinatura do bilionário norte-americano Donald Trump, referência mundial no segmento de luxo.
Investimento da Polaris Brazil e LSH Barra, o empreendimento vai custar R$ 300 milhões, dos quais R$ 100 milhões somente com as obras civis. Com 16 mil m² de área total construída, o hotel terá 13 pavimentos, mais dois subsolos, que abrigarão 170 unidades, com quartos de 34 m² a suítes de 450 m², com piscina aquecida e vista para o mar.
Paulo Figueiredo Filho, da Polaris
Mas, antes de chegar a etapa de acabamento e instalações de equipamentos que vão fazer a alegria de hóspedes de alto poder aquisitivo, o projeto vai consumir aproximadamente 5.200 m³ de concreto, 551 t de aço e movimentar cerca de 14 mil m³ de terra, o equivalente a mais ou menos mil caminhões.
A obra foi dividida em três etapas. A primeira refere-se à fundação e ao escoramento da edificação. A segunda consiste na construção da estrutura do prédio. E a terceira etapa vai concentrar-se nas instalações e montagem do hotel de alto luxo.
“O projeto é simples, do ponto de vista estrutural”, resume o CEO do Grupo Polaris, Paulo Figueiredo Filho. Segundo ele, todas as paredes são de drywall e há pouca transposição de pilares. O projeto prevê laje com 18 cm de espessura, pé–direito de 2,80 m e laje protendida somente no subsolo e no teto da casa noturna.
“O nosso principal desafio é o acabamento, com uso de muito vidro e materiais de primeira qualidade”, ressalta, o que inclui mármore grego no piso de todos os quartos e banheiros. A piscina vai ficar no terceiro pavimento. Tem o fundo e as laterais de vidro de 30 mm de espessura e capacidade para 20 mil litros de água, com vista para o mar.
A primeira etapa da obra foi assumida pelos próprios empreendedores. Realizada com a Linear Engenharia, foi gerida internamente pela Polaris. “Para não perder tempo”, admite o CEO. “E já está quase 100% concluída”, frisa.
Nas fundações e escoramento estão sendo usadas vigas de coroamento de ferro de 1 polegada e estribo de 10 mm. A armação abraça e une todas as estacas. “O prédio teve de crescer para baixo, para evitar o sombreamento da praia e atender à legislação”, explica Figueiredo. Por isso, tem dois subsolos, atingindo cerca de 16 m de profundidade. “A opção foi utilizar estacas secantes”, ressalta.
Segundo o executivo, o processo consiste em cravar no solo tubos que são preenchidos com concreto diretamente na areia, que formam estacas, sem retirar terra. Quando se escava, as paredes de concreto já estão formadas e são ancoradas lateralmente por tirantes no subsolo. “Construímos primeiro a contenção para depois escavar”, detalha Figueiredo. Ele afirma que esse método torna a construção mais limpa e mais fácil de gerenciar.
As obras foram iniciadas no final do ano passado, com a demolição de um prédio em ruínas que abrigou no passado a antiga boate Zodíaco. Segundo o CEO da Polaris, o espaço era um dos últimos disponíveis no Jardim Oceânico, no bairro da Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio.
Com a construção muito próxima do mar e com subsolo profundo, o rebaixamento do lençol freático, segundo Figueiredo, exigiu muito trabalho. “Existe o efeito da maré subterrânea”, explica. Ele conta que foram utilizadas técnicas empregadas, nos Estados Unidos, para reduzir o nível de água em decorrência dos danos provocados pelo furacão Katrina, na cidade de Nova Orleans.
Figueiredo lembra que o projeto de arquitetura começou a ser desenvolvido um ano e meio antes do início da obra. Com o projeto executivo nas mãos, só então as construtoras foram chamadas.
A disputa para construir o Trump Hotel Rio de Janeiro envolveu dez construtoras, quase todas cariocas. A vencedora foi a Lafem Engenharia (ver página seguinte), que tem em seu portfólio a construção e reforma de diversos empreendimentos de hotelaria no Rio de Janeiro. O gerenciamento da obra está a cargo da Arquitetos do Rio, de Sérgio Dias, ex-secretário de Urbanismo do Rio de Janeiro.
Contra o tempo
“Todas as obras de hotéis do Rio de Janeiro têm de estar prontas até dezembro de 2015”, lembra Figueiredo. Segundo ele, “é o que manda a lei, para não perder os incentivos fiscais do Pacote Olímpico”. Essa agenda faz com que as obras do Trump Hotel Rio de Janeiro já tenham começado em ritmo acelerado. “Trabalhamos sem parar 14 horas por dia, seis dias por semana, das 7h às 21h”, enfatiza. Segundo ele, o cronograma está até bem adiantado e, nesse ritmo, a obra finaliza em outubro, “dois meses antes do prazo estabelecido pela prefeitura”, garante o CEO.
Com diárias previstas em torno de R$ 1,3 mil e R$ 1,5 mil, com ocupação estimada em 80%, cada dia de antecipação representa retorno financeiro. “Por isso, se conseguirmos antecipar, independentemente de legislação, vamos fazer isso.”
Figueiredo explica que, diferentemente de outros empreendimentos, atraso em obra de construção de hotel representa custo e prejuízo elevados. “Contratamos com quase um ano de antecedência a maior parte dos funcionários, incluindo gerente geral, gerentes de recepção,
camareiras etc., que representam um custo fixo de salários e encargos”, lembra.
E cada dia que atrasa a inauguração é uma diária a menos no caixa do hotel. “Diária é o produto mais perecível que existe”, define. Segundo ele, a diária de hoje não pode ser recuperada no dia seguinte. E o prejuízo acumula, a cada dia sem operar.
Com a obra tendo de começar a todo o vapor, uma das primeiras providências adotadas pela Polaris foi entrar em contato com os cerca de 30 vizinhos do empreendimento, que moram em quatro prédios ao lado da obra, relata Figueiredo. “Visitamos cada um deles, nos apresentamos e nos prontificamos a ter um canal sempre aberto para qualquer eventualidade”, diz. Afinal de contas, são dois anos de obra e todos os inconvenientes que ela causa até o final da construção.
“Mas já ganhamos um pouco mais da simpatia dos vizinhos com a demolição do antigo prédio, que estava sendo usado como banheiro por desocupados”, lembra Figueiredo. Mas os transtornos serão recompensados. “A partir do ano que vem, vão morar ao lado do melhor hotel de luxo do Brasil”, garante.
Obra exige gerenciamento especializado
“O gerenciador é um dos agentes mais importantes da obra”, argumenta o CEO da Polaris. Paulo Figueiredo ressalta que são os olhos e os ouvidos dos donos. “Acompanha sempre de perto o cronograma e o custo da obra”, acrescenta.
O gerenciamento da obra do Trump Hotel está sendo realizado, desde março, pelo escritório Arquitetos do Rio, de Sérgio Dias, ex-secretário de Urbanismo do Rio de Janeiro, e um dos responsáveis pelo projeto do Porto Maravilha. Segundo ele, essa atividade está ganhando muita importância nos dias de hoje, com o nível de exigência cada vez maior por parte dos empreendedores.
“O perfil dos investidores mudou, há muitos empreendimentos que contam com recursos de fundos de investimentos e que exigem um cuidado muito maior com o custo e com o prazo”, ressalta Dias. Ele acrescenta que o acompanhamento da obra requer independência do construtor e confiança do contratante.
Dias explica que hotéis são sempre projetos especiais, com um nível muito grande de detalhamento. “Há concorrência de projetos de fora do País, que muitas vezes exigem tropicalização e adaptação local”, frisa. No caso do Trump Hotel Rio, Figueiredo lembra que o projeto de decoração é de um decorador norte-americano. “Tivemos de adaptá-lo ao método construtivo brasileiro”, explica.
O CEO da Polaris diz que a Arquitetos vai manter quase dez pessoas envolvidas com o projeto do Trump Hotel Rio de Janeiro. “Duas das quais em tempo integral.”
Escolha técnica
A carioca Lafem Engenharia foi escolhida pela Polaris Brazil para erguer o Trump Hotel Rio de Janeiro. A concorrência, que durou cerca de três meses, envolveu dez construtoras candidatas à obra do primeiro hotel na América Latina a levar a assinatura do bilionário norte-americano Donald Trump.
Com 30 anos no mercado, a vencedora do certame tem em seu portfólio obras de construção e reforma de hotéis. “O segmento hoteleiro responde por 40% dos nossos negócios”, ressalta o diretor comercial da Lafem, Paulo Renato Paquet. Segundo ele, atualmente a construtora executa simultaneamente quatro obras envolvendo hotéis no Rio de Janeiro. Um deles na cidade de Resende, na região sul fluminense, para a rede Venit.
De acordo com o CEO da Polaris, Paulo Figueiredo Filho, essa experiência era um dos requisitos básicos para as empresas candidatas a construir o empreendimento. A escolha foi bem mais técnica do que financeira. “O preço da Lafem foi R$ 3 milhões mais caro do que a segunda colocada”, diz Figueiredo.
Fonte: Revista O Empreiteiro