O governo paulista decidiu ampliar o caminho para os corredores exclusivos em municípios da RM e está investindo, através da EMTU-SP, recursos da ordem de R$ 1 bilhão num conjunto de obras de engenharia, sobretudo o VLT de Santos
Não se trata de pintar faixas para a passagem exclusiva de ônibus, estreitando as possibilidades de tráfego para os veículos particulares, mas de construir corredores próprios, segregados, para os modais. E, no caso de Santos (SP), a prioridade é para o sistema de Veículo Leve sobre Trilhos, o VLT, o que de certa forma preserva resquício de uma tradição local, uma vez que o município nunca perdeu, na memória, a lembrança do bondinho, que por ali circulou pelas principais ruas e avenidas, de 1870 a 1971. Hoje, ele é utilizado num percurso de 1.700 m, apenas como atração turística.
A Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU-SP) agrega uma visão do desenvolvimento do transporte público, enfeixada no Programa de Corredores Metropolitanos de Transporte Coletivo de Média Capacidade (PCM), segundo o qual ele é um dos mais fortes elos de comunicação entre os municípios. E é como tal que deve ser tratado do ponto de vista social, político e econômico.
Essa visão ganha sentido prático nos estudos que a empresa realizou prevendo a construção de corredores exclusivos em diversas regiões, incluindo prioritariamente as seguintes: São Paulo, Santos, Campinas e Vale do Ribeira. Óbvio que pela dimensão, importância econômica e exigências de sua infraestrutura, a RM de São Paulo vem concentrando maior soma de investimentos para as obras que estudos e projetos têm recomendado.
Contudo, em contraponto às manifestações de que para a RM de São Paulo a EMTU vinha permanentemente se voltando com maior ênfase, ela decidiu dar prioridade também ao sistema de transporte integrado da Baixada Santista.
“Foi por esse motivo que o governo paulista, a partir de um projeto que vinha elaborando há muito tempo, decidiu demonstrar que aquela região também é uma de nossas prioridades”, afirma o engenheiro Sílvio José Rosa, mestre em engenharia de transportes pela Politécnica (USP), especializado em gestão pela FGV e assessor da diretoria de gestão operacional da EMTU.
Ele dá exemplo dessa inflexão para a região da Baixada Santista, destacando a recente manifestação do governador Geraldo Alckmin, de que o primeiro trecho do VLT, integrante do Sistema Integrado Metropolitano (SIM), da Baixada Santista, deverá começar a operar em junho de 2014.
O projeto conta com investimentos de R$ 1 bilhão, dos quais R$ 313,5 milhões são empregados no primeiro lote, basicamente nas obras civis; para o material rodante (VLT), no total, 22 veículos para os dois trechos, com valor unitário de R$ 9,5 milhões, serão destinados R$ 209 milhões; estão previstos R$ 123 milhões para os sistemas e sinalização dos dois trechos e recursos da ordem de R$ 250 milhões para o lote 2 (porto-Conselheiro Nébias-Valongo).
Uma história, uma opção
Sílvio Rosa diz que o traçado do VLT aproveitará parte da linha ferroviária que vai da Esplanada dos Barreiras até a área portuária de Santos. Essa linha era tradicionalmente utilizada para o transporte de carga e por um trem de passageiros intrametropoitano administrado pela antiga Ferrovia Paulista S. A. (Fepasa).
Esse meio de transporte, que, com o passar do tempo, ficou deteriorado e deficitário, acabou paralisado, embora o transporte de carga continuasse a ser operado, mas interferindo na possibilidade de crescimento urbano de Santos e São Vicente. Finalmente, o último trem de carga que passava por ali acabou também paralisado no dia 1º de fevereiro de 2008. E o governo realizou estudos recentes para aproveitamento da linha dentro de uma concepção de transporte público moderno. Dentre as opções examinadas decidiu-se pelo VLT. Chegou-se a essa decisão tanto pela disponibilidade do traçado quanto por uma tradição local.
Santos, historicamente, sempre conviveu bem com o bonde e, São Vicente, com o trem que passava por lá. Além do mais, o sistema escolhido, o VLT, vem sendo operado há vários anos em cidades médias europeias, sempre com bons resultados. Ele tem emissão zero de poluentes, interage com o meio urbano de maneira amigável, circula ao nível das ruas, preserva o patrimônio histórico e colabora para a revitalização urbana das vias por onde passa. E, como ajuda na redistribuição do tráfego, ajuda a transformar o ambiente de todas as cidades em que é implantado, melhorando a mobilidade da população que ele atende. Daí, a escolha óbvia.
As obras atualmente em curso estão sob a responsabilidade do Consórcio Expresso VLT Baixada Santista, que venceu a licitação. Ele é formado pela Construtora Queiroz Galvão e Trail Infraestrutura. O trecho envolve a ligação de 9,5 km entre São Vicente (Barreiros) e Conselheiro Nébias (Santos), mais a extensão de 7,1 km de Conselheiro Nébias — Porto — Valongo. Estes dois trechos somam 16,6 km de extensão e serão completamente integrados às linhas de ônibus metropolitanas e municipais. Serão atendidos 70 mil passageiros/dia.
O consórcio informa que desde fevereiro de 2012 vinha elaborando o projeto executivo do trecho ligando o terminal Barreiros ao Porto (11 km). O Consórcio Projetos SIM RMBS elabora o projeto básico e executivo dos outros trechos: trecho Conselheiro Nébias/Valongo (6 km); Barreiros/Samaritá (7,4 km); Conselheiro Nébias/Ponta da Praia (4,4 km), e projeto funcional da ligação Samaritá/Terminal Tático (7 km).
Segundo previsão da EMTU, os carros deverão entrar em teste em 2014 e a operação comercial poderá ser iniciada em 2015. Ela assinala que, além das empresas citadas, outras vêm participando dos trabalhos de planejamento e concepção das obras dos corredores exclusivos: a Vetec Engenharia, Opus Engenharia Projetos e Obras, Polux Engenharia, Sistran Engenharia e Setepla.
Um questionamento
Iniciadas as obras do lote 1, o Ministério Público começou a fazer questionamentos levantando a questão de possível mudança no projeto do traçado original do VLT de Santos. A EMTU diz que tal alteração não aconteceu. Sobre isso, o engenheiro Sílvio Rosa explica o seguinte:
“O Ministério Públ
ico, dentro de suas ações visando a proteção do cidadão e do meio ambiente, questiona mudança de faixa ao longo da avenida Francisco Glicério. Mas essa alteração de traçado não é de agora. Ocorreu há muito tempo e consta dos documentos que foram entregues para a obtenção do licenciamento ambiental. Algumas acomodações aconteceram na fase da elaboração do projeto e da definição do traçado, mas isso não ficou escondido em nenhum momento. Apareceu e foi comentado e discutido nas audiências públicas”.
Não está em causa, portanto, segundo ele, a questão ambiental, mas a comprovação da necessidade de se implantar o VLT no canteiro central daquela avenida. Os estudos indicam que é passando por ali que o sistema vai efetivamente melhorar a condição de mobilidade urbana.
“Porque, se tivermos a passagem dos veículos à margem da avenida, ele terá pela frente diversos impedimentos e acabará provocando bloqueios naturais e atrapalhando a circulação. O traçado correto deve e precisa aproveitar a faixa ao longo da Francisco Glicério. É assim que deve ser.”
As obras e as especificações do VLT
• Características gerais dos carros do VLTs:
– Veículos de três, cinco ou sete módulos, bidirecionais com cabine de condução em ambas as extremidades;
– A capacidade mínima é de 400 passageiros/veiculo, à taxa seis passageiros em pé/m², com pelo menos 56 passageiros sentados e espaço para dois passageiros cadeirantes e dois obesos;
– Bitola: 1.435 mm;
– Curvas com raios de 100 m na via principal; curvas com raios de 20 m nos pátios;
– Altura nominal do piso: 36 cm do topo do boleto do trilho;
– Largura da caixa: 2,65 m;
– Altura máxima com pantógrafo em repouso: 3,60 m;
– Comprimento máximo do veículo: 45 m;
– Caixa de aço inox / alumínio / aço corten;
– Limite de carga sobre a via: 12 toneladas por eixo;
– Pintura conforme padrão visual EMTU PV-DO-011-02;
– Passagem (Gangway) entre os módulos do veículo.
• Comandos e Controles:
– Operação comercial com operador;
– Modalidade marcha à vista e à vista em manobra;
– Sistema de autodiagnóstico e registro de eventos com informações sobre estado funcional dos equipamentos;
– Configuração única para operação;
– Equipamentos de detecção e combate a incêndio, inclusive dentro dos armários de equipamentos elétricos;
– Especificação de materiais e tecnologias mais seguras, eficientes e limpas ao meio ambiente.
• Principais obras civis:
Em São Vicente: -5,86 km de via permanente; oito estações de embarque e desembarque; um terminal; viaduto Emmerich; duas pontes; mais de 1.000 m de canal (margem da Linha Amarela entre a Estrada Mascarenha de Morais e entroncamento com arodovia dos Imigrantes).
Em Santos: 3,64 km de via permanente; alargamento do túnel José Menino e emboques; cinco estações; nove pontes; readequações viárias na avenida. Francisco Glicério e remanejamento de interferências.
Segundo o consórcio, “é natural que obras dessa envergadura resultem em transtornos momentâneos no cotidiano da população que mora, trabalha ou utiliza as vias em obras para se locomover pelas áreas que são objeto das intervenções. Contudo, para minimizar os incômodos e interferir minimamente na vida da população, o consórcio, em parceria com os departamentos de trânsito dos municípios, têm procurado sinalizar e prestar as informações necessárias a respeito das intervenções e dos desvios em andamento”.
O consórcio salienta, adicionalmente, que, do ponto de vista da engenharia, as principais soluções que adotará nas obras se referem ao alargamento do túnel José Menino e estabilização dos taludes dos respectivos emboques; sistema de fixação “Top Down” dos trilhos na laje de superestrutura da via permanente e detalhamento do projeto e implantação do sistema massa-mola para atenuação de ruído e vibração.
Salienta que as estações serão uma parada simples: plataforma com cobertura, dotada de recursos de informações, atendimento e acessibilidade ao passageiro com deficiência física e passageiro em geral.
Atualmente o consórcio ocupa a mão de obra de 380 colaboradores diretos; de 140 indiretos e de aproximadamente 150 terceiros. Acredita, porém, que, até o final do ano, o empreendimento estará contando com 1 mil colaboradores.
Fonte: Revista O Empreiteiro