O conceito de modelagem colaborativa para construção cresce no País,
mas ainda há um longo caminho a percorrer
Desde 2007, o sistema Building Information Modeling (BIM) ou Modelagem de Informações para a Construção vem conquistando espaço no mercado de AEC brasileiro. Diferentes dos CADs paramétricos tradicionais, esse novo conceito cria uma nuvem de pontos referenciados por GPS, o que permite organizar, em um mesmo arquivo eletrônico, um banco de dados de toda a obra, acessível a todas as equipes de engenharia e arquitetura envolvidas no empreedimento e entre toda a cadeia da construção civil, desde fornecedores até o cliente final. |
Algumas construtoras, como a Método, começam a usar o BIM ao longo de todo o ciclo de vida do empreendimento, desde a concepção, construção, gerenciamento e manutenção, pois abrange geometria, relações espaciais, informações geográficas, quantidades e as especificações da obra, aumentando a liberdade na troca de informações de cada etapa do projeto, com aumento na produtividade e redução no índice de erros de compatibilização. “A tecnologia BIM trouxe para a Método uma série de benefícios: elaboração e gestão de projetos aprimorados, orçamentos e planejamentos mais precisos, além da integração entre os processos da empresa”, afirma Jorge Almada, diretor de operações da Método.
Indispensáveis na orientação de equipes que executam projetos in loco, os modelos 2D continuam existindo no BIM. A diferença é que, como todos os outros documentos, esses arquivos eletrônicos estão ligados ao banco de dados da obra. Por isso, qualquer alteração realizada no modelo tridimensional é atualizada em todos os arquivos bidimensionais e vice-versa, dispensando revisões mais detalhadas. A vantagem é mais visível em projetos com centenas de plantas e cortes.
Um dos primeiros a usar BIM no Brasil foi o arquiteto Luiz Augusto Contier, do escritório Contier, mas o sistema ainda não conquistou um número significativo de empreiteiras. Segundo Contier, “na arquitetura, o BIM vai muito bem, vai médio nos cálculos estruturais e ainda penoso no setor de instalações”. Contier acaba de retornar de uma viagem por Nova York, Washington e Pittsburgh onde visitou empresas de projetos arquitetônicos que trabalham de forma intensiva com o BIM.
No começo, apenas os grandes escritórios de projetos de arquitetura utilizavam o BIM, na etapa inicial da modelagem da edificação. Existia uma tremenda incompatibilização entre os diversos programas de desenvolvimento de projetos. As informações de um projeto de arquitetura desenvolvidas em um software não eram entendidas por programas de outra empresa. Nos primeiros anos, os representantes da então IAI (International Alliance for Interoperability) – hoje, Building Smart, um consórcio internacional que desenvolve plataformas comum que permita a integração dos software – chegaram a fazer duras críticas à ferramenta, então taxadas como “não interoperáveis”.
Entra em cena a Autodesk. Em agosto de 2007, a empresa compra a NavisWorks, por U$ 26 milhões, e começa a aperfeiçoar o grande agregador capaz de juntar informações advindas das mais variadas origens numa ferramenta única. O resto todo mundo sabe: desde 1994 no Brasil, a Autodesk entrega para uma rede de revendas mais de 80 produtos para uma base superior a nove milhões de usuários, em diversos países. No começo, poucos escritórios de arquitetura se dispunham a pagar mais de R$ 20 mil por um AutoCAD 2D ou Plant 3D e o que mais se via em cima das antigas pranchetas eram discos digitais marcados a pincel atômico.
Em entrevista a O Empreiteiro, o vice-presidente de AEC da Autodesk, o americano Jay Bhatt admitiu a pirataria mas considera que isso faz parte da cultura local. “O amadurecimento macroeconômico do Brasil, com os projetos de mineração e o pré-sal, e o reconhecimento das cadeias de valor tendem a crescer. Ainda existe pirataria mas a tendência é diminuir”, explicou Bhatt. Hoje, o software Revit com processo BIM, que permite a criação de projetos em 3D nas áreas de arquitetura, engenharia estrutural e mecânica, além de elétrica e hidráulica, custa cerca de R$ 10 mil, dependendo da taxa de câmbio. Jay Bhatt esteve no Brasil para entregar o prêmio BIM Award de excelência ao Athié | Wohnrath, maior escritório de arquitetura corporativa do Brasil, por implantar a tecnologia Revit no setor de interiores.
Como o conceito BIM carrega um banco de dados com todas as informações em um único arquivo fica mais fácil “tirar uma polaróide” do projeto finalizado, prever possíveis problemas, analisar incompatibilidades, estimativas de custo e o cruzamento de interferências, u
m espetacular avanço quando se pensa na lei de Murphy que representa a coordenação de projetos. Como o BIM amplifica a transparência do processo construtivo, “alguns paradigmas de contratação vão ter de mudar”, declarou o arquiteto Luiz Augusto Contier. Ele informou que a Petrobras e uma empresa pública já lançaram concorrência para fornecimento de projetos usando o BIM.
Para a Autodesk, a gestão colaborativa de projetos caminha em várias direções e deve responder aos avanços tecnológicos. Para a empresa, um dos “modelos do book” da empresa foi a obra do hotel Wynn em Las Vegas: toda a gestão da obra e administração de instalações seguiram fluxos de informações e processos empresariais por meio do sistema Buzzsaw com processamento em nuvem. “No futuro”, aposta Bhatt, “podemos descarregar vídeos de treinamento ou detalhes de execução num celular e projetar numa parede do canteiro de obras para ser vizualizado por um grupo de pessoas”.
No setor de edificações, a Método fechou uma parceria com a incorporadora Syene e o consórcio MCC, formado pela Método, Consplan e Copasa, para a coordenação e desenvolvimento dos projetos do novo empreendimento, Syene Corporate, usando o conceito BIM. O edifício comercial localizado numa área de alto padrão em Salvador, conta com 32 andares e 8 pavimentos de garagem. Na área de infraestrutura, a Autodesk cria modelos de informações que os parceiros customizam. “Nesse segmento, podemos agregar dados como acústica, campos de vento ou fluxos de líquidos”, explica Bhatt, simulando na fase de projeto seus efeitos e incorporando medidas mitigatórias, otimizando os resultados na construção de terminais de aeroportos, usinas eólicas ou hidrelétricas.
Fonte: Estadão